O Estadão de hoje oferece uma ampla e plural leitura da atual conjuntura econômica brasileira. O interessante é que todos autores - da vasta cadeia de pensamento tucana e petista - partem do princípio da economia como política, como escolha. Já é um alento. Esta história de pensar a economia como tecnalidades matemáticas é de dar sono. Não sei se alguém, lá no fundo, acredita nisto, com exceção dos fundamentalistas que jogam no mercado financeiro. Mas aí já é coisa de gente estressada, que faz consulta até para cartomante, várias, até achar a que diz o que o demandante gostaria de ouvir.
O mais interessante é que embora eu tenha afinidades ideológicas mais próximas de Beluzzo e Amir Khair, é a análise de André Lara Resende a que mais me atrai e convence.
Beluzzo sugere que vivemos o risco de regressão da estrutura industrial do país (em função do real valorizado) e a necessidade de centralização do capital (contra o capital disperso em empresas sem escala). Khair teoriza sobre a mesmice da política econômica sob a liderança de Dilma. Vai além. Sugere que o governo federal cedeu, a partir de 2012, à crítica de parte dos economistas ao modelo de desenvolvimento baseado na ampliação do consumo interno. Agora, fica no rame-rame do controle da inflação como definidor da taxa de câmbio e o silêncio em função do "abuso de agiotagem que reina no País". Sustenta a relação entre consumo e investimento como articulados numa política econômica progressista. Mas o seu artigo se alimenta de uma evidente frustração.
Lara Resende faz um voo mais panorâmico. Faz duras críticas ao Estado Patrimonialista, ineficiente e caro. Cita a China como referência. E sugere a valorização e autonomia de Estados e municípios, criando uma vaga inovadora e competitiva em relação às políticas sociais, fiscal e de segurança.
Embora por motivos distintos, concordo plenamente com o ex-Presidente do BNDES. O modelo concentrador e indutor, ao estilo estatal-desenvolvimentista, está corroendo as possibilidades de inovação da gestão pública a partir do conjunto de entes federativos. Faz parte de uma aposta na democracia. Estados e municípios, sem fundos para investimentos, fazem convênios com as agências federais e nacionalizam programas sociais e de infraestrutura. A resultante é uma indigência intelectual e ausência de ousadia administrativa em todos municípios brasileiros. Obviamente que esta penúria local deságua em fortes limites à democracia deliberativa. Orçamento Participativo já é página virada na gestão pública tupiniquim. A mesma onda já salpica os conselhos de gestão pública. São elefantes brancos de uma época em que os municípios se abriam ao crivo do cidadão.
O lulismo completou o ciclo do pensamento clássico da esquerda brasileira. Mansamente centralizou as políticas públicas e transformou a União em demiurgo de todo um país. Uma agenda tradicionalíssima da esquerda do século passado.
A política econômica foi na esteira desta opção. Evidentemente, os tais "negócios" (esta nomenclatura abstrata que define um oráculo acima do bem e do mal) não aceitam esta orientação, porque pensam a política como obstáculo o como necessariamente subordinada à economia (também empregada como sinônimo de "negócios"). O importante balanço do Estadão de hoje recoloca as coisas em seu lugar. Os negócios serão, sempre, um elemento subordinado das opções políticas de um país. Cabe discutirmos qual, afinal, as opções que nos apresentam e qual a escolha do cidadão. Que as pretensas vanguardas do mercado e da política partidária escutem.
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