Há perguntas que não são feitas em público. Esta, que dá o título ao post, é uma delas.
Primeiro, porque se trata de montagem de cenário, num dos momentos mais instáveis dos últimos anos. Segundo, porque os maiores interessados na resposta (os que estão no poder) não desejam criar qualquer fissura maior no já abalado equilíbrio emocional.
Mas está sendo mais e mais comum, nas pequenas conversas de final de dia, comentários que procuram margear esta pergunta.
Não faço futurologia, mas gostaria de explorar rapidamente o que fundamenta esta pergunta.
O cenário de um segundo turno nas eleições de 2014 é bem mais provável que as projeções realizadas até início de maio. Num segundo turno, teríamos a a disputa entre governistas e oposicionistas unidos. Ocorre que, neste momento, qualquer defesa governista se chocará com um sentimento difuso de crítica ao Estado. Espero ter deixado claro: não se trata de uma mera rejeição ao governo de plantão, mas uma profunda desconfiança e desencanto com a estrutura estatal. Ora, a defesa de quem está no poder exigirá muito mais energia e convencimento que qualquer eleição no período pós-regime militar. Em outras palavras, mesmo a oposição sendo frágil e errática (muitas vezes, até mesmo irresponsável por bater na tecla da fulanização do embate), será muito mais fácil atrair o desencanto geral, embora deva aumentar o percentual de votos nulos e brancos.
Mas este não é o problema maior que a pergunta original carrega e que tira o sono dos governistas. O problema maior se situa nos laços de lealdade e sistema de enraizamento do controle dos governistas sobre as bases eleitorais e prefeituras. Com a concentração orçamentária na União, os deputados federais criaram uma rede de atendimento aos prefeitos de sua base eleitoral, incluindo governistas e oposicionistas. Algo que o eleitor nem imagina que possa ocorrer. Um deputado governista, com trânsito nos ministérios, cria mecanismos de acesso aos prefeitos de todos os naipes partidários, sustentando convênios e, portanto, recursos para investimento. Tudo gira ao redor do governo federal. Alguns admitem, quase em pânico, que sem a estrutura central, muitos governistas bandearão, em poucos minutos, para qualquer lado que sustente este mecanismo de legitimação do "bom gestor". Em outras palavras, um bom gestor, hoje, não é criativo, mas aquele que tem bons relacionamentos com a Corte.
Tudo leva a crer que após este período de isolamento da Presidente, a conta para sua sustentação política será muito alta. Os que se apresentarão para socorrer este sistema de lealdades que sustenta nossa república, serão profissionais da política. Uma potente máquina eleitoral começará a girar, o que poderá significar em redução do papel do atual núcleo duro do governo federal. Uma substituição de comando, quase invisível, deve ocorrer. Mas, para ser potente, muita gente terá que sangrar por algum tempo.
Até aí, tudo bem. Basta saber como o campo institucional vai lidar com este elemento novo da política brasileira: as ruas.
Um comentário:
Perder liberta!
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