Interessantíssimo.
O termo Dilma nas redes sociais: o fim da bipolaridade política e o
desejo de radicalizar mudanças
Fábio Malini
Professor da Universidade Federal do Espírito Santos
Um grande grupo altamente
relacionado (mancha verde claro, na ilustração desta nota) é o elemento
surpresa do debate público, disputando o sentido do que seja Dilma. A densidade
da rede de tweets, com recorrência da palavra Dilma, publicados no Twitter, só
aumenta. Coletei, nos dias 16 e 17 de junho, esses tweets. Eles somam 170 mil.
Destes, 50 mil são de RTs (republicações). Peguei o arquivo e plotei-o no
Gephi, buscando saber quem são os Hubs dessa Rede. Grandes hubs são aqueles que
possuem ótimas qualidades de conexões. Autoridades são aqueles que possuem
ótimos conteúdos. O poder do segundo reside na credibilidade e na difusão. O
primeiro, nisso e no fato de obter e circular informações de qualidade, para
tantas outras autoridades. Resultado já sabido: Hubs são os ativistas.
Autoridades, os perfis mais noticiosos.
Explicado isso, vamos aos
verdadeiros resultados: a rede “Dilma” no Twitter possui uma densidade enorme.
Isso significa que quanto mais conexões (linhas) existirem nessa rede, mais
densa ela vai ficando (e isso não para de acontecer). Essa densidade significa
que há muitas relações sendo produzidas. E essas relações criam, neste momento,
componentes (grupos) fortemente conectados. E os grupos estão na rua. Para se
ter uma ideia, a rede da figura que ilustra esta nota possui 48.481 componentes
fortemente conectados. E somente 5.475 fracamente conectados. É um evento
múltiplo de grandes proporções. Os três grandes grupos identificados são:
1. Rede da Perspectiva Anti-Dilma
no Twitter.
Há três mega componentes
fortemente conectados (dentro desses 48 mil). O primeiro é o azul claro. Nele
encontramos o grupo de oposição a Dilma há anos. É uma rede cuja presença
podemos visualizar: @robertofreire, @faxinanopoder, @joapaulom, @blogdonoblat,
mirandasa_, blogolhonamira, @lidpsdbsenado, @rede45. Importante salientar que
esses perfis ficam juntos porque se retuitam. O caso do Noblat é interessante.
Ele é retuitado por muitos perfis, mas, de modo, mais recorrente por essa rede
azul. Assim ele é “atraído” para essa rede. Noblat pode dizer que não, mas a
sua perspectiva acaba sendo construída, e muito, por esse grupo.
2. Grupo de Defesa da Perspectiva
Dilmista na Rede.
A rede vermelha é o tradicional
grupo que blinda a Dilma na rede e constrói pontos de vista alternativos. Um
grupo que a própria Dilma passou a se manter com certa distância (em função da
aproximação da presidenta com os grupos tradicionais de mídia). O grupo é
formado por perfis tais como @zedeabreu, @stanleyburburin, @ptnacional,
@blogdilmabr, @emirsader, @rogeriocorrea. É hoje uma rede política consolidada.
E é quem está segurando o rojão da presidenta na rede. Veja: o que acontece com
a jornalista Mônica Bergamo é o mesmo que ocorre com o Noblat. Bergamo é uma
jornalista cuja perspectiva acaba sendo atraída pela rede de temas dilmistas.
3. Nem azul, nem vermelho, novos
atores da opinião pública em rede apresentam pontos de vistas mais conectados
com os das ruas.
Toda rede ligada a algum político
possui um certo padrão:a bipolaridade. Mas a grande novidade dessa rede acima é
a mancha verde do grafo. Compostos com grandes centralidades tais como
@iavelar, @helenapalm, @teclologoexisto, @semfimlucrativo, @matheusrg,
@personalescrito, @tsavkko, @cadulorena. Essa é uma rede que narra fatos que
nenhuma das duas outras gostam muito de discutir: a relação entre gastos
públicos e Copa, a questão indígena, a crítica do que é esquerda e direita (são
inúmeros temas). Ela tem perfil mais independente. E ganha relevância na
conversação na rede. Possui alta conexão com as redes que circundam o centro do
grafo. Isso significa que são perfis muito conectados com as ruas.
4. E a velha mídia, onde está?
A velha mídia são os nós de forte
difusão. Como mostra a figura, o @estadao segue um padrão muito retuitado pelos
seus seguidores (desconectados com o resto da rede) e por usuários de
diferentes perpsectivas (à direita da imagem). São autoridades, muito em
função, dessa enorme difusão de tweets. Contudo, por que Folha, Estadão,
Marcelo Tas, Rafinha Bastos – perfis muito retuitados – não criam grandes
clusteres (grupões)? Simples, porque são retuitados, mas não retuitam. Os
jornais, por exemplo, possui uma deontologia jornalística, cujo valor reside no
problemático “ver tudo de longe”. Ou seja, esses perfis não são ativos DENTRO
da conversação/manifestação, porque não criam relações. E quem não cria relação
não tem perspectiva.
Já as celebridades possuem outro
ingrediente. Quem é Rafinha Bastos ou Marcelo Tas? Uma autoridade igual ao
Estadão, do ponto de vista estrutural de rede: uma mega árvore nesse rizoma. A
força deles deriva da escala de seguidores que possuem. Se Rafinha ou Tas
assumem o risco de replicar continuamente outros perfis, eles assumirão uma
causa política do Outro. E conectar mensagens escritas por seus seguidores
permitem que discursos considerados menores sejam mega visualizados. Aqui
reside um egoísmo enorme, que também é o núcleo duro do valor capitalista
desses perfis: replicar vozes minoritárias ou não? O Marcelo Tas retuitaria –
continuamente – os fãs ou não? Por um lado, esses perfis têm tanta audiência,
que não conseguem administrar as interações via menções, ao mesmo tempo em que
possuem poucos seguidores (o recado é que eles filtram as pessoas que querem
estar atentos – logo, se mantêm longe do que é notícia dentro do ativismo). Por
outro lado, há uma questão estratégica em torno da “imagem midiática” dessas
grandes autoridades. Se retuitam pessoas nos protestos, entram na causa e
perdem “valor de mercado”. A opção é tuitar algo original, próprio, para ser
muito retuitado: é o oportunismo do surfar no “assunto do momento”. O que
percebo é que as autoridades, como o Marcelo Tas, que vivem do “assunto do
momento”, para obter muitos RTs e serem mais vistos, acabam por fazer ironia
sobre a dimensão ativista, sem criar grandes musculaturas coletivas na dinâmica
da rede. E, com isso, acabam por serem simpáticos (ou antipático) ao movimento,
legitimando-o de alguma forma, mesmo que seja através de um “tirar uma
casquinha para aparecer”. É complexo, mas vejo por aí.
A riqueza dessa rede Dilma está
nesse fim da bipolaridade e na intensidade de subgrupos que resolveram debater
se o governo da Dilma faz concessão demais ou não, é chantageado por grupos
econômicos e políticos ou não, se o governo apoia as ruas ou não, se o governo
vai manter as mudanças radicais abertas desde 2003 ou não. A questão na rede
passa muito por aí, para além da factualidade das notícias que se difundem.
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