sexta-feira, 12 de julho de 2013

Folha denuncia que UGT pagou para "manifestantes"

Práticas tradicionais dos partidos brasileiros parecem se reproduzir em algumas estruturas sindicais. A simbiose partido-sindicato, um princípio do Século XX, também revela seu esgotamento. Nos anos 1980, um discurso sindical novo (daí a denominação de "novo sindicalismo" ou "sindicalismo autêntico") rechaçava este espelhamento, reforçando a necessidade de práticas sindicais no chão da fábrica que acolhesse pautas e demandas que melhorassem efetivamente a condição de trabalho. Questões como tempo para tomar cafezinho durante a jornada de trabalho e autocontrole dos operários sobre a dinâmica de produção confrontavam com a lógica da correia de transmissão dos anos 1960. Daí, foi um passo para emergir a demanda por comissões de fábrica e outros instrumentos de organização no local de trabalho.
As manifestações de ontem não conseguiram envolver mais de 8 mil pessoas nas principais capitais do país. Em várias, os organizadores estimavam que levariam 30 mil manifestantes.
É este país que as manifestações de junho revelaram, pelo avesso.
O Brasil que emergiu nos anos 1980, se organizou, se institucionalizou. Em meados dos anos 1990, as novas estruturas sindicais se aproximaram das estruturas partidárias. Com a eleição de um ex-sindicalista, ingressaram na estrutura de Estado (não necessariamente de governo). Ontem, as ruas estamparam o resultado desta trajetória que acabou esquecendo o chão da fábrica.

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Numa rua atrás do Masp, um grupo de 80 pessoas com camisetas da UGT (União Geral dos Trabalhadores) espera em fila a vez de preencher um papel. Trata-se do recibo de que ganharão R$ 70 por terem participado, vestidos como militantes, do ato de ontem na avenida Paulista.
DE SÃO PAULO
Folha presenciou a entrega do recibo, que se deu por volta das 15h, quando a manifestação acabou.
Mulheres de 30 e 40 anos e rapazes com aparência de pós-adolescentes entregavam uma pulseira numerada que usaram na manifestação a um homem de agasalho, que perguntava o nome da pessoa, preenchia o recibo e o entregava aos presentes.
No documento, consta que o pagamento é uma ajuda de custo para alimentação e transporte. Na parte de cima do papel, há impressa a data e o nome da manifestação: "11 de julho - Dia de Luta".
Em duas ocasiões, pessoas que organizam o grupo abordaram a reportagem e pediram para que deixasse o local.
Na fila, as pessoas confirmaram que não tinham relação com sindicatos filiados à UGT e que foram ao ato apenas para receber os R$ 70. Com medo de represálias, não quiseram dar o nome.
A UGT é presidida por Ricardo Patah, sindicalista filiado ao PSD, partido do ex-prefeito Gilberto Kassab. Ele negou que a central tenha pago manifestantes.

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