As manifestações de ontem não conseguiram envolver mais de 8 mil pessoas nas principais capitais do país. Em várias, os organizadores estimavam que levariam 30 mil manifestantes.
É este país que as manifestações de junho revelaram, pelo avesso.
O Brasil que emergiu nos anos 1980, se organizou, se institucionalizou. Em meados dos anos 1990, as novas estruturas sindicais se aproximaram das estruturas partidárias. Com a eleição de um ex-sindicalista, ingressaram na estrutura de Estado (não necessariamente de governo). Ontem, as ruas estamparam o resultado desta trajetória que acabou esquecendo o chão da fábrica.
Dar dinheiro foi 'humanitário', diz recrutador de manifestantes
Numa rua atrás do Masp, um grupo de 80 pessoas com camisetas da UGT (União Geral dos Trabalhadores) espera em fila a vez de preencher um papel. Trata-se do recibo de que ganharão R$ 70 por terem participado, vestidos como militantes, do ato de ontem na avenida Paulista.DE SÃO PAULO
A Folha presenciou a entrega do recibo, que se deu por volta das 15h, quando a manifestação acabou.
Mulheres de 30 e 40 anos e rapazes com aparência de pós-adolescentes entregavam uma pulseira numerada que usaram na manifestação a um homem de agasalho, que perguntava o nome da pessoa, preenchia o recibo e o entregava aos presentes.
No documento, consta que o pagamento é uma ajuda de custo para alimentação e transporte. Na parte de cima do papel, há impressa a data e o nome da manifestação: "11 de julho - Dia de Luta".
Em duas ocasiões, pessoas que organizam o grupo abordaram a reportagem e pediram para que deixasse o local.
Na fila, as pessoas confirmaram que não tinham relação com sindicatos filiados à UGT e que foram ao ato apenas para receber os R$ 70. Com medo de represálias, não quiseram dar o nome.
A UGT é presidida por Ricardo Patah, sindicalista filiado ao PSD, partido do ex-prefeito Gilberto Kassab. Ele negou que a central tenha pago manifestantes.
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