A prudência aconselharia esperar até o final do dia. Mas seria desleal com o leitor deste blog. Vou me expor. Tenho a impressão que as manifestações de hoje reproduzem um vício das organizações do século XX: sua interlocução não é dirigida à sociedade, mas ao Estado.
Alguns sinais me chamam a atenção. O primeiro: o principal instrumento na manhã de hoje foi o bloqueio de rodovias. As passeatas começarão a partir de agora, depois das concentrações agendadas para o final da manhã. O cenário pode mudar, mas, fiquemos com os bloqueios de rodovias. Esta tática é muito distinta das manifestações de junho. Em junho, o centro das cidades era o locus das manifestações justamente porque não havia estrutura de carros de som, faixas, cartazes. A força era medida e demonstrada a partir da capacidade de agregar estranhos. O discurso era difuso, mas o sentimento era convidativo. Não havia uma causa ou uma pauta fechada. O Dia de Luta deste dia 11 é diferente. A pauta já estava definida e não era muito distinta da agenda sindical dos últimos vinte ou trinta anos.
Que se deixe claro que se trata de uma manifestação legítima. A questão, portanto, é a morfologia desta manifestação como contraponto das de junho. E só.
O segundo sinal: a manifestação de hoje não empolga os não organizados. Ao contrário, muitos perguntam se o centro ou o comércio estão parados. Não são sujeitos, nem pensam em ver as manifestações. São espectadores ou "clientes" desta mobilização.
Meios, forma e apelo de hoje são quase um painel do século XX que fica plasmado na memória dos que se lembram das manifestações de junho.
Mas, então, por que eu insisto nesta história de chapa branca?
Explico: porque hoje o interlocutor é o Estado. Não a sociedade. Porque estas manifestações não assustam os donos do poder, as elites politicas e os governos. Elas fazem parte da dinâmica política, já conhecida e decifrada no século passado. Já as manifestações de junho, abalaram profundamente as certezas políticas e até teóricas. O século XXI começou, no Brasil, em junho deste ano.
O melhor dos mundos seria se os organizadores de hoje aprendessem com os organizadores de junho. Fariam a travessia para um mundo mais perigoso, mais incerto, com mais riscos. Mas não me dariam chance para apelidar qualquer de suas ações como chapa branca.
Até o final do dia, espero confirmar que este texto foi um erro.
Um comentário:
Engraçado que o Jabor fez uma analise parecida com a sua... Infelizmente não vejo tanta pureza nos protestos "espontâneos" da sociedade civil. Confesso, estou totalmente perdido... http://g1.globo.com/jornal-da-globo/videos/t/edicoes/v/protestos-de-centrais-sindicais-foram-legitimos-mas-fracos/2687684/
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