sexta-feira, 27 de maio de 2011

Minha entrevista ao Brasil de Fato


1. Qual tem sido o custo político do caso Palocci ao governo Dilma? O que isso implicará em sua governabilidade?
R: Vai depender da extensão e principalmente do tempo de desgaste. Se a articulação recente de Lula e Franklin Martins resultar na desmontagem deste caso, ele poderá retomar o poder quando da discussão da peça orçamentária de 2012. Caso contrário, como se diz entre políticos, ministro bom é ministro fragilizado. Isto porque tem que se curvar aos apoios e demandas decorrentes. Veja o discurso da bancada evangélica no Congresso: afirmou abertamente que só poupou Palocci em função da retirada da cartilha do MEC contra a homofobia.

2. O livre trânsito de um integrante do governo entre o público e o privado seria uma característica inerente de qualquer regime republicano mundo afora? Qual a diferença quando essa situação ocorre no Brasil?
R: Acredito que seja uma característica da junção da dimensão política com a econômica e o divórcio das duas com a dimensão cultural e de valores sociais. Este divórcio se acentuou com o processo que se convencionou denominar de globalização. Daí as comunidades com fortes lastros culturais e religiosos se fecharem em si e desdenharem os espaços e autoridades públicas. Do outro lado, a simbiose Governo-Interesse Privado (não concordo que seja exatamente público-privado) campeia.

3. Alguns especialistas dizem que casos como o do rápido enriquecimento da empresa de Palocci reflete um equívoco do sistema político brasileiro. Até que ponto você acredita que uma reforma política resolveria esse tipo de problema?
R: A reforma política que está sendo discutida no Congresso Nacional não alterará em nada esta realidade. Sem controle social, sistema de monitoramento de resultados pela delegação à sociedade civil, responsabilização das autoridades, além da adoção do recall e possibilidade de candidaturas avulsas (sem exigência de filiação partidária), dificilmente alteramos esta lógica, já encastelada na cultura do gerenciamento público. Os EUA adotaram, como tudo da cultura anglo-saxônica, o realismo: oficializaram o lobby. Prefiro a solução (mesmo que idealizada) latina: controle social e a adoção de um Estado poroso. O problema é quando a sociedade civil se sente acolhida pela tutela estatal. Aí desmorona a motivação e energia moral social para alterar este quadro.

4. O financiamento público a campanhas eleitorais, por exemplo, afastaria os interesses de grandes empresas privadas brasileiras de figuras com cargos tão importantes, como o de Palocci?
R: De maneira alguma. Dificultaria um pouco, mas não afastaria. Os mecanismos são variados porque não há necessidade explícita de entrega de recursos em espécie. É possível, por exemplo, uma empresa de eventos apresentar uma planilha de custos para apoiar um evento á baixíssimo custo e receber uma "bonificação" com a vitória do eleito. A corrupção no período eleitoral nem sempre é paga na campanha. É paga antes ou depois. Eu temo que uma reforma política tão reduzida e formalizada que é conduzida justamente por aqueles que os cidadãos querem controlar fique na superfície dos problemas reais. A ONG Transparência Brasil apresenta um índice de produtividade dos parlamentos brasileiros ao redor de 20%. A grande imprensa nos brinda com reportagens que sugerem parlamentares que se desenvolvem trabalhos de mera mediação entre prefeitos e ministérios e secretárias estaduais de governo. Como esperar desta lógica viciada o altruísmo político da condução da mudança?

5. O papel político de Palocci no governo Dilma mudará após essa “crise”?
R: Depende. Palocci avançava sobre a área econômica. Já era atendido com distinção pela Presidente Dilma. Incomodava. Debelava a cada dia o ministro Mantega. E é ministro da cota de Lula. Este jogo é típico daquela situação política em que não há empate: ou Palocci cai ou volta com o poder de Primeiro-Ministro.

Um comentário:

VeraDelerue disse...

Eu aposto no empate !!!