quinta-feira, 17 de setembro de 2009
Brasil sai da crise mais forte?
Saímos da crise. Mas, por quais motivos e como estamos efetivamente?
Segundo o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, os resultados do crescimento do PIB divulgados pelo IBGE para o segundo trimestre de 2009 evidencia que o Brasil já saiu da recessão. O Brasil saiu da crise antes e com um crescimento mais forte do que a maioria dos países. Até aí, tudo bem. Mas aí, lançou a avaliação bombástica; “Dados preliminares indicam que o Brasil é um dos líderes, talvez o líder, em crescimento na saída da recessão". E, mais: “O país já está em trajetória sustentável de crescimento".
É isto tudo?
Até o momento, a previsão do Banco Central, feita em junho deste ano, por meio do relatório de inflação, é de que o PIB cresça 0,8% em 2009. Entretanto, a estimativa poderá ser revisada no fim de setembro, quando será divulgado um novo relatório de inflação pelo BC. O mesmo BC avalia que as medidas com maior impacto para debelar os efeitos da crise foram: a liberação de R$ 100 bilhões em depósitos compulsórios para combater a escassez de crédito, além da oferta de empréstimos em dólar para alguns setores da economia, como os exportadores. Também destaca a acumulação de divisas, que levou as reservas acima de US$ 220 bilhões, assim como o controle da inflação nos próximos anos - que favorecerá o aporte de investimentos.
Economistas e analistas de várias cores e torcidas fizeram no dia 15 último análise deste tema. O Estadão ouviu oito economistas estrangeiros e brasileiros: Rogoff; O’Neill; Barry Einchengreen, da Universidade de Berkeley; José Alexandre Scheinkman, de Princeton; Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central (BC) e sócio gestor do Gávea Investimentos; Edmar Bacha, consultor sênior do Itaú BBA e codiretor do Instituto de Estudo de Políticas Econômicas - Casa das Garças (Iepe/CdG); Affonso Celso Pastore, consultor e ex-presidente do BC; e Ilan Goldfajn, economista-chefe do Itaú Unibanco.Nenhum petista ou lulista. Kenneth Rogoff, de Harvard (ex-FMI) afirma : “O fato de que o Brasil passou tão bem pela crise tinha mesmo de instilar confiança”. Para Jim O’Neill, do Goldman Sachs, e criador da expressão Bric (o grupo de grandes países emergentes, Brasil, Rússia, Índia e China), “o Brasil passou por essa crise extremamente bem, e pode crescer a um ritmo de 5% nos próximos anos”.
Pastore observa que a recessão no Brasil foi curta, de apenas dois trimestres, comparada a quatro em países como Estados Unidos, Alemanha e França. Goldfajn nota que há os países que estão saindo da recessão no segundo trimestre e os que estão saindo no terceiro - o Brasil está entre os primeiros, com várias nações asiáticas. “Mesmo no primeiro trimestre, se olhar mês contra mês, há números fortes de crescimento no Brasil”, acrescenta.
Uma das principais razões para o sucesso do Brasil em enfrentar a crise, segundo Pastore, é que ela pegou o País com o regime macroeconômico adequado - câmbio flutuante, bom nível de reservas, inflação controlada, superávit primário, dívida pública desdolarizada e caindo em proporção ao Produto Interno Bruto (PIB). Essa solidez combinou-se com o sistema financeiro capitalizado, pouco alavancado, que estava proibido pela regulação de operar com os ativos perigosos, como os títulos estruturados no mercado americano de hipotecas subprime. “Uma das lições da crise é que países que tinham uma abordagem equilibrada da regulação do mercado financeiro, como Brasil, Austrália, Canadá , não tiveram crise bancária”, diz O’Neill.
A política anticíclica, baseada em corte de impostos e ampliação de gastos públicos, também ajudou, embora esta segunda parte seja criticada pelos efeitos de médio prazo. Para Pastore, os aumentos do funcionalismo e do Bolsa-Família tiveram efeitos contracíclicos, mas “por coincidência”, já que foram decididos antes da crise. “O defeito é que, se fosse política contracíclica mesmo, teria de expandir gastos transitórios, e não permanentes.”
A contrapartida dos fluxos de capital é o câmbio valorizado e o déficit em conta corrente, o que significa que o mundo está financiando o Brasil para consumir muito (o que implica poupar pouco) e investir ao mesmo tempo. Segundo Goldfajn, os brasileiros serão um dos povos convocados, junto com os asiáticos, a preencher o espaço deixado pelo fim da exuberância do consumidor americano, atolado em dívidas e necessitado de reconstruir seu patrimônio.
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