Um dos temas que jornalistas da grande imprensa estão tentando analisar na política nacional é até que ponto a candidatura Marina Silva representaria uma nova utopia, tal como Lula representou, certo dia.
Há diferenças importantes entre os dois. Mas destacaria a natureza das utopias. Os movimentos sociais dos anos 80, dos quais Lula foi depositário por algum tempo, tinham como foco a crítica profunda à institucionalidade pública. Recolocava o plano político a partir dos marginalizados (em todos sentidos).
A utopia de Marina é o desenvolvimento sustentável. Não me parece que este tema tenha apelo de massas. Envolve uma parecela intelectualizada e dificilmente emociona a nova classe média, diferencial importante nas eleições de 2010. Acabo de ler o livro de Miltn Hatoum, que disputa o Prêmio Jabuti deste ano ("Órfãos do Eldorado"). O posfácio deste livro parece que faz um paralelo importante do que imagino representar a figura de Marina Silva. Hatoum retoma o mito amazônico da Cidade Encantada, através do qual muitos nativos e ribeirinhos acreditam que no fundo de um rio ou lago existe uma cidade rica, explêndida, exemplo de harmonia e justiça social. As pessoas comuns seriam seduzidas e levadas par o fundo do rio por seres das águas ou da floresta e só voltam ao mundo com a intermediação de um pajé.
Não é algo assim que representaria o discurso de Marina?
Lembro que na última Semana Social Brasileira, que envolveu pastorais sociais e a Cáritas de todo país, o texto final tentou reorganizar as demandas e projetos para o país a partir dos biomas tupiniquins. Não se tratava de qualquer organização, mas da poderosa igreja católica brasileira. Alguém se lembra desta proposta? Vingou?
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