sábado, 12 de setembro de 2009
As várias dimensões do trabalho infantil
Tempos atrás, discutia com pesquisadores da Universidade de Manitoba (Canadá) o conceito de precariedade do desenvolvimento infantil a partir do trabalho. Uma das dimensões é física.Esforços repetitivos, lesões graves, agudas ou crônicas. Há outra dimensão, que diz respeito à construção da autonomia, ou seja, às ações repetitivas que ocorrem por medo ou respeito a quem lhe ordena, sem qualquer compreensão real ou valorativa sobre o que se faz (algo que se aproxima do processo de alienação, tão destacado pelo MST e tão esquecido quando o tema é trabalho infantil). E há, ainda, a dimensão econômica. Esta é uma das mais delicadas. O MST se contrapõe á exploração do trabalho infantil. Mas o que seria exploração, neste caso peculiar? Já detectamos a frequência de trabalho de babás que envolvem crianças que cuidam de outras menores para vizinhos, sem que nenhuma das partes considere esta atividade como trabalho. Troca-se este trabalho por um afago, uma boneca, um doce.
O fato é que o MST tem uma elaboração pedagógica que não leva em consideração as etapas de desenvolvimento humano e, portanto, as passagens tênues de uma etapa para outra. Assim como o desenho é um exercício anterior à prática da escrita (o desenho não existe apenas para este fim, mas no caso da escrita exercita o vínculo entre signo e significado, além do controle dos movimentos finos da mão), a passagem do respeito cego à regra para a construção de justiça (de escolha e construção de regras) é gradativa. Piaget já alertava para o caso de se utilizar de chantagens emocionais para uma criança repetir o que um adulto (que ela preza) faz ou deseja que ela faça por mero medo de perder o carinho e proteção. O sentimento de proteção, neste caso, é muito superior à compreensão dos motivos que levam à uma ação ensinada. Crianças que sofrem este dano no processo de aprendizagem podem se tornar adultos com baixa auto-estima e autonomia de decisão. Sem-terrinha, neste caso, é um termo que define uma condição política (mais que social, como sabemos), uma identidade de adultos, não de crianças.
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