domingo, 1 de junho de 2008

Cota, racismo e dignidade


O resultado que socializei sobre as avaliações de alunos que ingressaram nas universidades públicas a partir do sistema de cotas é positivo. Mas não basta. Isto porque nada garante boa qualidade de vida após se formar (o racismo continuará na oferta de empregos) ou melhoria na vida pregressa dos alunos ainda cursando a educação básica. São dados marginais, portanto. Seria importante aprofundarmos esta questão a partir do conceito de dignidade humana. De acordo com a definição kantiana a dignidade se diferencia do de preço, entre valor de mercado e valor moral. Segundo Kant, as coisas tem preço e as pessoas tem dignidade. O que atribui dignidade à uma pessoa é o fato de possuir vontade. Laís Abramo, no livro “O Resgate da Dignidade” (Editora Unicamp) desenvolve o conceito de dignidade da pessoa e, em especial do trabalhador. Segundo a autora, as lutas metalúrgicas do final dos anos 70 e início dos 80 expressaram a reconquista da dignidade dos trabalhadores, que permitiu que a classe trabalhadora se projetasse como sujeito político, que forçou a ampliação dos projetos de abertura política. Mais tarde, esta autora ampliou o conceito para o de trabalho decente. Segundo Abramo, as desigualdades de gênero e raça são eixos estruturantes dos padrões de desigualdade brasileira. Daí ser necessário incluir essas dimensões na política de combate à pobreza. Trabalho decente seria, segundo a autora “um trabalho produtivo, adequadamente remunerado, exercido em condições de liberdade, equidade e segurança, e capaz de garantir uma vida digna”. Ora, nada garante que o sistema de cotas esteja promovendo o trabalho decente para negros. Os dados oficiais apontam justamente a manutenção da injustiça e da indecência.

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