É das mais arriscadas a estratégia de Lula de polarizar com Marina Silva. De um lado, pode significar a certeza de Lula que ao polarizar, desautoriza (ou alerta) o apoio que muitos eleitores lulistas poderiam dar á ex-ministra de Lula. Minha impressão, contudo, é que o risco de Marina fazer de Lula uma "escada" é maior. A escada política é uma velha tática: um personagem com menor destaque cria um conflito com um personagem com maior visibilidade e, com isto, ganha força perante o público externo.
Lula parece errar no cálculo arriscado (risco é uma marca dos "animais políticos").
Num plano menor, parece que também erra ao fazer as consultas a respeito da possibilidade de aprovar proposta de autonomia formal do Banco Central. Além de incomodar o governo Dilma, pode revelar temor sobre crescimento de Campos junto ao empresariado (Lula afirmou que a proposta de autonomia do BC poderia gerar o mesmo impacto que a Carta ao Povo Brasileiro de 2002).
Lula tem faro. Mas já errou ao valorizar sobremaneira Eduardo Campos no ano passado. Deu no que deu. Sinto que, por ansiedade, acaba antecipando uma situação que até então era mera possibilidade.
quinta-feira, 31 de outubro de 2013
quarta-feira, 30 de outubro de 2013
10 Anos de Bolsa Família
O programa símbolo do governo federal faz dez anos. Criado em outubro de 2003, o Bolsa Família mantém 45% das famílias beneficiadas no seu cadastro desde o início do programa. Não se sabe, ao certo, o que ocorreu com os outros 55%. Portanto, fiquemos concentrados nos 45%.
Em primeiro lugar, é evidente que se trata de um necessário programa social que só ocorreu porque as elites políticas brasileiras são, na quase totalidade, insensíveis à qualquer ação de fôlego para combater a pobreza, não necessariamente a desigualdade. O governo Lula formatou este programa gigantesco. A questão, portanto, não é a importância do PBF. A questão é se o programa ficou incompleto. Na gestão Patrus Ananias do MDS, se tentou introduzir educação e PBF. O próprio ministro veio à pública confirmar o fracasso de tal iniciativa.
O censo do ensino superior, divulgado ontem pelo MEC, indica que a oferta de cursos é altamente concentrado na região sudeste (50% das instituições de ensino superior do país), em especial, em SP (50% das instituições de ensino superior da região sudeste) e Minas Gerais (30%). O padrão de concentração continua país afora: no nordeste, 80% dos cursos superiores se localizam na Bahia e Pernambuco.
Enfim, a política educacional brasileira parece adernada.
Há outro problema. A gestão do programa. No início, era o Fome Zero. Frei Betto elaborou um sistema de co-gestão, onde representação social local acompanhavam a indicação das famílias beneficiadas, os programas e todo controle sobre sua efetivação. Frei Betto deixou registrado em livro que um dos motivos para deixar o governo federal foi justamente a transferência deste controle social para as mãos dos prefeitos. Ivo Poletto, em outro livro-depoimento, relata com mais detalhes o quanto esta proposta de gestão participativa foi desconsiderada pelo alto escalão governamental.
Então, sejamos claro. A frase de efeito que Lula proferiu hoje ("quem se opõe ao bolsa família nunca passou fome") distorce um debate necessário sobre os rumos deste importante programa. Interdita um debate legítimo de cidadãos sobre o que se faz com o dinheiro público. O PBF não é do governo e muito menos de Lula (daí me sentir envergonhado com este debate, de cunho eleitoreiro, sobre quem criou o programa, se tucanos ou petistas).
Não me lembro de alguém rejeitar o bolsa família, ao menos em público. Portanto, Lula fala para alguém desconhecido ou tem alguma informação que não é pública. Não se trata de oposição. Mas de transformar, no caso de pessoas como eu, num programa que seja mais que um programa assistencialista de tipo mexicano (como foi o Solidariedad). Mas já sabemos como o lulismo lida com debate público sobre o que faz. Não lida.
Em primeiro lugar, é evidente que se trata de um necessário programa social que só ocorreu porque as elites políticas brasileiras são, na quase totalidade, insensíveis à qualquer ação de fôlego para combater a pobreza, não necessariamente a desigualdade. O governo Lula formatou este programa gigantesco. A questão, portanto, não é a importância do PBF. A questão é se o programa ficou incompleto. Na gestão Patrus Ananias do MDS, se tentou introduzir educação e PBF. O próprio ministro veio à pública confirmar o fracasso de tal iniciativa.
O censo do ensino superior, divulgado ontem pelo MEC, indica que a oferta de cursos é altamente concentrado na região sudeste (50% das instituições de ensino superior do país), em especial, em SP (50% das instituições de ensino superior da região sudeste) e Minas Gerais (30%). O padrão de concentração continua país afora: no nordeste, 80% dos cursos superiores se localizam na Bahia e Pernambuco.
Enfim, a política educacional brasileira parece adernada.
Há outro problema. A gestão do programa. No início, era o Fome Zero. Frei Betto elaborou um sistema de co-gestão, onde representação social local acompanhavam a indicação das famílias beneficiadas, os programas e todo controle sobre sua efetivação. Frei Betto deixou registrado em livro que um dos motivos para deixar o governo federal foi justamente a transferência deste controle social para as mãos dos prefeitos. Ivo Poletto, em outro livro-depoimento, relata com mais detalhes o quanto esta proposta de gestão participativa foi desconsiderada pelo alto escalão governamental.
Então, sejamos claro. A frase de efeito que Lula proferiu hoje ("quem se opõe ao bolsa família nunca passou fome") distorce um debate necessário sobre os rumos deste importante programa. Interdita um debate legítimo de cidadãos sobre o que se faz com o dinheiro público. O PBF não é do governo e muito menos de Lula (daí me sentir envergonhado com este debate, de cunho eleitoreiro, sobre quem criou o programa, se tucanos ou petistas).
Não me lembro de alguém rejeitar o bolsa família, ao menos em público. Portanto, Lula fala para alguém desconhecido ou tem alguma informação que não é pública. Não se trata de oposição. Mas de transformar, no caso de pessoas como eu, num programa que seja mais que um programa assistencialista de tipo mexicano (como foi o Solidariedad). Mas já sabemos como o lulismo lida com debate público sobre o que faz. Não lida.
terça-feira, 29 de outubro de 2013
Os dados do MEC sobre instituições de ensino superior no Brasil
O Jornal Nacional acaba de divulgar os dados do Censo do Ensino Superior. Os dados são bem impressionantes e revelam esta persistência brasileira da desigualdade regional. Vou reproduzir, abaixo, alguns desses dados que ajudei a interpretar para a Globo:
Públicas nas capitais,
Privadas no Interior
1. Públicas representam 12,5% de todas instituições de
ensino universitário do país. São, na maioria, universidades (55,9% do total de
instituições públicas) e concentram-se nas capitais (33% das instituições
públicas de ensino superior, sendo 75% dos IFETs e CEFETs)
2. Privadas representam 87,4% das instituições de ES. Estão
preferencialmente no interior (64,4% do total de instituições privadas). São
maioria entre os centros universitários e faculdades isoladas.
Sudeste é privilegiado; os
Estados mais poderosos politicamente também
Distribuição das instituições por região e Estados com maior
incidência
REGIÃO
|
NÚMERO DE INSTITUIÇÕES
|
%
|
ESTADOS COM MAIOR INCIDÊNCIA NO
INTERIOR DA REGIÃO
|
Norte
|
154
|
6,3
|
Pará (22%) e Tocantins (23%)
|
Nordeste
|
444
|
18,3
|
Pernambuco (12,6%) e Bahia (26,1%)
|
Sul
|
409
|
16,9
|
Região que apresenta maior equilíbrio entre Estados (entre 115 e 95
inst/Estado)
|
Sudeste
|
1.173
|
48,5
|
Maior concentração: Minas Gerais (29,4%) e São Paulo (50,9%)
|
C-Oeste
|
236
|
9,7
|
Mato Grosso do Sul apresenta menor número de instituições na região
(35), no restante 60 a 80 (caso de Goiás).
|
Padrão de concentração de instituições privadas:
Alto padrão de instituições
privadas
|
Padrão Médio/Alto de
instituições privadas
|
Bahia: 93% são privadas.
Não há instituições municipais.
Minas Gerais: 91,6%
privadas.
Pará: 85,2% de
instituições privadas. Não possui instituições municipais.
|
São Paulo: 85,6% privadas.
Tocantins: 71%
instituições privadas
Pernambuco: 69,7% das
instituições são privadas.
|
INGRESSOS
2009
|
2010
|
2011
|
2012
|
|
Brasil
|
1.732.613
|
1.801.901
(+ 4%)
|
1.915.098
(+ 6%)
|
2.204.456
(+ 13%)
|
Norte
|
105.915
|
105.583
(-0,3)
|
121.856
(+13%)
|
138.852
(+12%)
|
Nordeste
|
294.711
|
332.546
(+11,4)
|
352.691
(+ 5,8)
|
402.677
(+ 12,5)
|
Sudeste
|
891.797
|
906.853
(+ 1,7)
|
957.380
(+5,3)
|
1.118.111
(+14,4)
|
Sul
|
273.166
|
280.771
(+2,8)
|
304.010
(+7,7)
|
333.088
(+8,8)
|
C-oeste
|
167.024
|
176.148
(+5,2)
|
179.161
(+1,7)
|
211.728
(+15,4)
|
INGRESSOS (e perfil do voto):
Sudeste, Sul e
Centro-Oeste apresentaram crescimento inferior à média nacional nos anos em
vermelho.
Centro-oeste se
recupera no último ano (verde).
Nordeste apresenta
maior crescimento de ingressos em 2010 e se mantém na média nacional nos anos
seguintes.
Área Geral
|
Total
|
Região Geográfica
|
|||||
Norte
|
Nordeste
|
Sudeste
|
Sul
|
Centro-oeste
|
EAD
|
||
Total
|
32.010
|
2.340
|
5.547
|
14.416
|
5.930
|
2.629
|
1.148
|
Área Básica de Ingresso
|
144
|
3
|
3
|
113
|
16
|
9
|
-
|
Ciências sociais, negócios e direito
|
9.552
|
544
|
1.458
|
4.522
|
1.800
|
807
|
421
|
Educação
|
8.171
|
892
|
1.928
|
2.791
|
1.302
|
681
|
577
|
Saúde e bem estar social
|
3.707
|
250
|
707
|
1.780
|
633
|
312
|
25
|
Engenharia, produção e construção
|
3.767
|
201
|
470
|
2.055
|
796
|
227
|
18
|
Ciências, matemática e computação
|
3.176
|
201
|
456
|
1.600
|
600
|
278
|
41
|
Humanidades e artes
|
1.454
|
56
|
192
|
752
|
353
|
86
|
15
|
Agricultura e veterinária
|
880
|
117
|
138
|
259
|
222
|
137
|
7
|
Serviços
|
1.159
|
76
|
195
|
544
|
208
|
92
|
44
|
Observações do MEC
A maior parte dos cursos está localizada na Região Sudeste, com
participação de 45% no total, seguida das regiões Sul e Nordeste, com 18,5% e
17,3%, respectivamente. Analisando cada região, a área de “Educação” predomina
na Região Norte, com quase 40% dos cursos, sendo que na Região Sudeste, essa
área representa cerca de 20% do total. A “Educação” é preponderante, também, na
Região Nordeste, com 35%, seguida da área de “Ciências Sociais, negócios e
direito”, com participação de 26,3% do total. Na Região Sudeste, pouco menos de
1/3 dos cursos está, também, na área de “Ciências sociais, negócios e direito”,
o mesmo ocorrendo na Região Sul e na Região Centro-Oeste. Isso demonstra que a
maioria dos cursos de graduação está na área de “Ciências sociais, negócios e
direito” e “Educação”, que juntos representam mais da metade do número de cursos
de graduação registrados no Censo 2012.
Minhas observações:
Destaquei, na tabela, em marrom, as
duas áreas com maior oferta de cursos de graduação: Ciências sociais, negócios
e direito & Educação. Como indica a observação do MEC, educação se destaca
no norte e nordeste. Lembremos que educação sempre foi porta de entrada de
mulheres no mercado de trabalho em áreas de cultura conservadora e patriarcal.
Em verde, destaquei a região-líder
por área. Sudeste se destaca das demais. Contudo, a região sul se destaca
(juntamente com a região sudeste) nas áreas de ciências agrárias (duas áreas
com forte concentração na produção de grãos e commodities no topo da pauta de
nossas exportações). Interessante que o nordeste é a região que apresenta maior
concentração de pequenas propriedades rurais e agricultura familiar, o que
indica política nacional que não consegue alterar o patamar de conhecimento
tecnológico/educacional nesta região, se concentrando em políticas
sociais/assistenciais.
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