sexta-feira, 11 de outubro de 2013

"Isto aqui é Brasil"


O fato político mais importante desta semana em terras tupiniquins não foi a queda de braço entre marinistas e campistas. Foi a frase do fazendeiro Adriano Chafik, mandante da chacina de Felisburgo, aqui em Minas Gerais, em 2004.
Em seu depoimento ao juiz Glauco Fernandes respondeu, quando questionado sobre a grilagem de terra que sua família promoveu, com um "isto aqui é Brasil", seguido por "tudo foi comprado com o aval do Estado".
A frase é um estandarte. Sintetiza o que grande parte dos brasileiros que saiu às ruas em junho, que ocupou Câmaras Municipais e Prefeituras em julho, que vem se confrontando diariamente nas ruas de São Paulo e Rio de Janeiro e tantos outros conflitos de pequenas dimensões nas periferias das cidades de regiões metropolitanas, pensa.
"Isto é o Brasil" é a frase que emoldura o misto de sentimento que enlaça farsa e abandono.
O que muitos não dizem é que as manifestações de junho criaram a certeza em muitos brasileiros que manifestar nas ruas dá resultado. As pequenas e constantes manifestações (algumas poucas continuam envolvendo dezenas de milhares) e protestos de rua que pipocam desde então pelo país, merecem alguma atenção e análise. Políticos profissionais e governos deixaram estampados em seus rostos o medo e recuaram sem saber o que dizer e fazer. A Câmara Federal fez guinadas de 180 graus, dias após ter votado algo que indicava uma (baixa?) convicção em sentido oposto. Desacostumados a consultar o dono de seu mandato para tomar decisões, se espantou que representados tivessem opinião sobre tudo e todos.
Lixeiros protestaram nas ruas de BH em agosto. Tomaram a rua Catalão, como registra a foto que ilustra esta postagem.
Também em agosto, moradores de Congonhas fecharam a BR-040 exigindo a construção de duas passarelas naquele trecho (bairro Pires).
Em setembro, novos protestos de rua em BH (como os de 7 de Setembro ou a que fechou a avenida João Pinheiro no dia 18).
Parte dos brasileiros descobriu as ruas como sinal de protesto. Alguns desavisados ainda ficam perplexos com tanto conflito de rua e se perguntam os motivos para isto. Se ainda não bastasse o dia-a-dia, basta ler a frase de Adriano Chafik.


Um comentário:

Maria Véia disse...

Não me parece que o Adriano Chafik esteja abandonado pelo Estado. Ou o Judiciário não é parte do Estado?