quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Greve dos Professores em MG


A foto que ilustra este blog é de uma aula pública que os professores em greve da rede estadual mineira organizaram em plena Praça Sete, no centro de Belo Horizonte. Muito criativa. Durante o maio de 68, professores e alunos organizavam aulas públicas deste tipo. Foucault ficou famoso (ou mais famoso) com seus seminários à céu aberto. Num dia, colhia temas que os estudantes desejavam estudar e, no outro dia, apresentava um seminário a respeito (os alunos sentados no chão). Ele se recusou apenas a dar uma aula sobre Marx (ele tinha suas manias).
Recebi muitos emails solicitando que eu me posicionasse a respeito da greve dos professores. Confesso que fico constrangido porque fico temeroso que minhas opiniões pessoais criem algum mal estar, no calor do movimento. Sei o quanto é difícil conduzir uma greve deste porte.
Mas os emails não param de chegar. Então, não vou me esconder.
São dois lados da moeda. O primeiro lado é que greve é um instrumento legítimo de abertura de negociação. É uma ação extrema que não pode ser banalizada. Mas é um direito político. E a luta pelo salário nacional de professores é das mais legítimas
Aí vem o segundo lado da moeda. Não acredito que a greve seja o instrumento mais adequado para pressão no serviço público. Principalmente na área da educação. É um instrumento criado em outros tempos (a palavra greve vem do nome de uma praça em Paris onde os migrantes que vinham do campo e não conseguiam emprego nas cidades se concentravam, logo se transformando em local de resistência política dos marginalizados). Até ocupação de escolas me parece mais adequado (com tempo determinado de entrada e saída) ou estas aulas públicas, abertas aos cidadãos.
A greve prolongada afeta muitas famílias e obstrui o direito sagrado ao estudo. Muitos pais não têm como fazer para solucionar esta situação em que seus filhos não têm com quem ficar se não há escolas abertas. E esta prática não condiz com a noção de sindicato cidadão, voltado para o interesse público e não apenas para as lutas corporativas.
Há uma outra questão, que me aflige: este embate não teria, de lado a lado, motivações político-eleitorais não confessadas, que deslocam o horizonte de visão para 2012?
O fato é que, bem ou mal, a secretaria estadual de educação deu um passo ao recuar e alterar a base de cálculo de reajuste. Está longe da demanda dos professores. Mas foi um passo. Agora, o SINDUTE precisa dar um passo. É assim que se negocia.

7 comentários:

ROBERTO FONSECA disse...

Foucault tinha lá suas razões.
Também acho que greve é instrumento de pressão datado, Le Goff é quem faz essa referência em "Por amor às cidades"...
O povo não carece de aulas públicas e nem há tantos Foucaults capazes de ministrá-las; não estamos na aurora de uma revolução. Estamos sim, no fim de período, em que a política, como a conhecemos, não é mais capaz de atender às pessoas.
Basta olhar para as cartas que estão jogadas à mesa: professores exigem o que sempre exigiram, melhores salários, o poder público se queixa do que sempre queixou, falta de recursos e o povo (os estudantes) estão preocupados com o ENEM. Problemas antigos, métodos antigos. Ainda não chegou 68...

Adriano José disse...

O sind-ute deu dois passos para a negociação, abriu mão de 1597,00 e aceita negociar o piso reconhecido pelo Estado 1187,00. Abriu mão da integralidade e aceita negociar a proporcionalidade. O que não dá é para iniciar uma greve por PISO SALARIAL NO VENCIMENTO BÁSICO, que é o que manda a lei (vide acórdão do STF) e ficar com subsídio que é um forma de remuneração cruel e que acaba com uma carreira já tão mal tratada. Direito aos estudos é sim um direito sagrado, mas, o direito do trabalhador ser valorizado na sua profissão também o é. E não se garante o direito sagrado aos estudos com uma escola que não funciona, e não funciona em grande parte pelos baixos salários que são praticados. ESCOLA NÃO É DEPÓSITO,TEM Q TER QUALIDADE.

mora disse...

O passo adiante, caro Rudá, quem deu foi o STF. Ontem foi publicado o Acórdão que garante o PISO como VENCIMENTO BÁSICO. Portanto, dizer que o sindicato está sendo intransigente é fazer como o desgoverno mineiro faz: esquece que existe a LEI.

Rudá Ricci disse...

Algumas observações necessárias:
1) Trocar a disposição de negociar pela decisão da justiça é justicializar a política. Depois, não me venham criticar a politização do judiciário;
2) Mora revela um ato-falho na sua mensagem. Não há um único item acusando o sindicato de intransigência. O argumento não é válido;
3) O tal subsídio é um estratagema para acomodar outros itens no orçamento. Não gera direitos. É um equívoco, obviamente;
4) A questão é que o governo força para seu lado e o sindicato para o seu. E o que estou ressaltando é quem pensa no cidadão, o CENTRO e RAZÃO DE EXISTÊNCIA de um governo e da profissão de professor?

Eduardo disse...

concordo quando diz que a greve prejudica os alunos, porque é a mais pura verdade e os professores se recusam a enxergar isto olhando para seus proprios umbigos

Leozado disse...

Fico impressionado com a intransigência deste atual/antigo Governo, Anastasia não e nunca respeitou ninguém. Todo este movimento grevista poderia ter sido evitado logo no início, bastando apenas que cumprisse a lei. Será que é pedir muito o cumprimento de uma lai por parte de um Governo "legítimo" ? Como dar crédito em um Governo que não respeita nada e só pensa em buscar recursos para pequenos grupos políticos/empresariais? Minas continua tendo um Governo "ditador em silêncio", ou seja, sem nenhuma transparência e de estratagemas obscuros para se manter, bem como uma mídia mineira totalmente partidarista.

Paulo Roberto Barroso disse...

P/ Eduardo !
O que a categoria pede é APENAS O PAGTO DO PISO !!!
Procure se informar melhor...
Não sabia que o direito do trabalhador em educação era "olhar p/ o umbigo "!