Movimento - Os ataques de Alfredo Nascimento afastarão o PR de Dilma Rousseff?
Rudá Ricci – Há esta possibilidade, evidentemente. No Senado, o PR já se afirma fora da base do governo. Mas na Câmara Federal parece que vai se manter. O fato é que a demissão de Jobim pode amenizar a humilhação que o partido diz ter sofrido. Vamos sentir como o PMDB reagirá à nomeação de Celso Amorim. Se aceitar a perda da pasta, o foco de tensão poderá estar temporariamente debelado.
A debandada do PR pode virar efeito cascata na base aliada?
Rudá Ricci – É cedo para se afirmar isto. Mas há, evidentemente, sinais de reação de muitos segmentos de partidos da base aliada. A pressão deve aumentar gradativamente na medida em que se aproxima a data de aprovação do orçamento 2012.
Sai do papel, no segundo semestre, a criação da Comissão da Verdade?
Rudá Ricci – Em tempos de Lula diria que não sairia. Mas no caso da gestão Dilma realmente é possível. A distinção entre os dois ocorre em função de Dilma parecer não se preocupar com reações negativas. Eu diria que ela imprime uma gestão mais linear. Pode parecer mais correta, mas talvez seja menos eficiente politicamente. A Comissão da Verdade é uma iniciativa correta politicamente, mas me parece que este não é um momento ideal para gerar uma pauta tão controversa.
José Serra diz que Lula pode voltar em 2014. O senhor acredita nessa possibilidade?
Rudá Ricci – Totalmente. Não tenho dúvidas que Lula se movimenta para consolidar este retorno.
80 anos de FHC: qual a sua crítica ao legado do príncipe dos sociólogos?
Rudá Ricci – Lula ofuscou a gestão de FHC. O único legado positivo que o seu próprio partido faz questão de lembrar é o Plano Real. Entregou o país com um Risco País nas alturas e não conseguiu montar uma estrutura gerencial e política da envergadura que Lula montou. Enfim, o tempo dirá que não conseguiu ser um Presidente de destaque como Getúlio, JK ou Lula.
Economia
A crise econômica nos EUA está superada com o acordo no Congresso?
Rudá Ricci – Não. A crise continua rondando o país mais rico do mundo (14 trilhões de dólares), mais de duas vezes o PIB do segundo país, a China (6 trilhões de dólares). Na prática, o acordo feito entre partido republicano e partido democrata retira 2,4 trilhões de dólares da economia dos EUA, justamente num momento em que a oferta de emprego decai. Os mercados internacionais já sinalizaram a avaliação dos riscos que se mantém: a bolsa de valores de Londres fechou em queda de 3,4%, Paris em queda de 3,9% e Frankfurt em queda de 3,4%. Nos EUA, o Dow Jones caiu 4,3% e a Nasdaq em 5,1%.
Existe risco de a crise chegar ao Brasil?
Rudá Ricci – O Brasil apresenta fundamentos econômicos sólidos e temos uma excelente reserva internacional. Mas o ministro Mantega já sinalizou que se poderá adotar as mesmas iniciativas contra a recessão de 2008: redução de IPI (que afetará o FPM para os municípios) e uso das reservas internacionais. Não sei se o Banco Central reagirá com a extrema prudência de sempre ou se também aliviará a taxa SELIC num momento de restrição de crédito.
Há sinais de volta do dragão inflacionário?
Rudá Ricci – Há sinais, mas talvez de um filhote do dragão. Ao menos no momento, há crescimento da inflação, constante, mas não totalmente preocupante. Será preocupante se afetar muito duramente o consumo da Classe C, um dos motores do nosso crescimento sustentável.
Internacional
Cuba reintroduziu a propriedade privada: é o fim do socialismo?
Rudá Ricci – Diria que é o fim do regime castrista, que agoniza lentamente. Poderão adotar, contudo, alguma medida próxima do modelo chinês, embora sem o fôlego de investimentos daquele país. Venezuela não tem mais lastro para sustentar a economia cubana. Enfim, uma agonia que parece que se arrastará por mais algum tempo.
Qual o futuro da Venezuela sem Hugo Chávez?
Rudá Ricci – O problema é a sucessão de Chávez. A oposição é frágil e possui um passado constrangedor e golpista. Os EUA são o maior comprador do petróleo venezuelano. Há indícios de uma escalada inflacionária na Venezuela. Mas o uso midiático da doença de Chávez contrabalança os sinais de crise. Em outras palavras, trata-se de um país que sem a figura de Chávez entra num turbilhão político. Nos dias em que Chávez permanecia em Cuba sem confirmar seu adoecimento, pesquisas sobre a opinião dos cidadãos venezuelanos revelava descrédito em relação às informações que o governo emitia. Havia sinais de crise de legitimidade.
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