sexta-feira, 19 de agosto de 2011
Esboço de um texto sobre a política mineira
A política mineira parece com sinais trocados (em relação à sua tradição).
Sempre acreditei que se tratava da prática política mais feminina do país. No caso, algumas feministas me disseram que naturalizo o que seria prática feminina. Não se trata de naturalizar, mas de procurar compor uma espécie de "tipo ideal" com a mera intenção didática, de suporte para a diferenciação. No mais, todo tipo ideal é idealizado, não?
O fato é que sempre considerei a prática política mineira como rejeição da violência ou até mesmo agressão direta entre oposicionistas. Nada que desconsidere a disputa ou a divergência. Mas há algo de marcado pelo cuidado em não ultrapassar um limite do que poderia denominar de código moral considerado adequado nas relações comunitárias. Este é o mote: Minas mantém relações comunitárias, marcadas pelo afeto, pelo costume, pela relação privada, a conversa ao pé do ouvido.
Contudo, algo vem se alterando nesta prática a partir das gestões Lula e Aécio (ou com a emergência do estilo Fernando Pimentel). Os conflitos parecem mais abertos e mais agressivos. As ações parecem mais e mais públicas, de movimentos largos. Este é o caso do conflito aberto entre a bancada governista (tucana) e a oposição (bloco Minas Sem Censura), ou a vinda de Lula para BH ou a filiação em massa de sindicalistas ao PSDB que ocorrerá amanhã.
Esta mudança de comportamento se articula com a ainda presente ação territorializada, feudalizada, no Estado. As bancadas parlamentares se organizam a partir da reserva de mercado territorial. O governo Aécio, contudo, era mais atento a esta prática. Manteve ao longo de oito anos esta rede de contatos e emissários em cada uma das regiões do Estado. Anastasia parece ter uma presença mais física e até certo ponto formal, ao estilo Dilma Rousseff (embora mais agressiva e direta que a Presidente). Anastasia, enfim, é mais acadêmico que Aécio e o jogo pesado fica por conta de outros atores tucanos.
Nas eleições municipais passadas, o PSDB mineiro se descuidou. Não parece que isto ocorrerá em 2012. Ao contrário, as articulações políticas, em especial no sul do Estado, são mais e mais intensas e diretas. Vice-prefeitos são "convidados" a ingressar no PSDB. A arregimentação de políticos locais é realmente muito agressiva.
Na outra ponta, Minas perde sua tradição também em função da ausência de planejamento estratégico, algo que compunha a tradição política regional. O agronegócio avança para o oeste do Estado, na divisa com a região centro-oeste. O sul mineiro se transforma aceleradamente, substituindo o café-com-leite pelas indústrias de ponta e serviços. As regiões de extração de minérios já atrai a fome dos chineses. Mas tudo ocorre ao sabor dos ventos (e dos investidores). Não há uma ação coordenadora ou mesmo uma reflexão mais profunda por parte do Estado. Algo que perpassou vários governos estaduais e partidos no poder e que ofende a história da política mineira.
Enfim, este esboço sugere um estudo mais apurado sobre as mudanças e permanências das práticas políticas mineiras.
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