domingo, 3 de maio de 2009
Gripe Súina: uma nuvem de dúvidas
A gripe suína vem despertando dúvidas imensas. Vou relatar algumas:
1) O debate sobre o nome
Mauro Santayana publicou no dia 1o de Maio um artigo que pode esclarecer o debate, estranho, que teve como protagonista inicial a FAO, ao atacar o nome popular da gripe. Exigia que se excluísse o nome que indicava relação com o animal. Mas a origme do nome relaciona-se com a origem da gripe. A agroindústria mexicana desespera-se com a notícia que o inicio de tudo ocorreu em La Glória, distrito de Perote, a 10 quilômetros da criação de porcos das Granjas Carroll, subsidiária de poderosa multinacional do ramo, a Smithfield Foods. O primeiro a contrair a enfermidade foi o menino Edgar Hernández, de 4 anos, que conseguiu sobreviver depois de medicado. Segundo Santayana, uma gripe estranha já havia sido constatada em La Glória, em dezembro do ano passado e, em março, passou a disseminar-se rapidamente.
Segundo o deputado Atanásio Duran, as Granjas Carroll haviam sido expulsas da Virgínia e da Carolina do Norte por danos ambientais. Dentro das normas do Nafta, puderam transferir-se, em 1994, para Perote, com o apoio do governo mexicano. Pelo tratado, a empresa norte-americana não está sujeita ao controle das autoridades do país. Os animais são alimentados com rações que levam 17% de farinha de peixe, conforme a Organic Consumers Association, dos Estados Unidos, embora os porcos não comam peixe na natureza. De acordo com outras fontes, os animais são vacinados, tratados preventivamente com antibióticos e antivirais, submetidos a hormônios e mutações genéticas, o que também explica sua resistência a alguns agentes infecciosos. Assim sendo, tornam-se hospedeiros que podem transmitir os vírus aos seres humanos, como ocorreu no México, segundo supõem as autoridades sanitárias. A velha história do modelo monocultor (ao contrário do modelo policultor ou multifuncional da agricultura familiar, torna-se hospedeiro, pela produção extensiva, de pragas que se alimentam do imenso "supermercado" aberto;
2) O caso das vacinas vencidas
Outro debate que ronda a internet é o das vacinas Oseltamivir (nome comercial: Tamiflu, produzido pela Roche) e Zanamivir (ou Relenza, da Glaxo Smith Kline). O Tamiflu foi muito utilizado, em 2005, contra a gripe aviária. Entre 2005 e 2006 muitos governos compraram muitos lotes do Tamiflu. Em julho de 2005, o Pentágono gastou 58 milhões de dólares comprando lotes de Tamiflu. O estranho é que Donald Rumsfeld (então Secretário de Defesa dos EUA) era acionista majoritário da Gilead Sciences, proprietária da patente Tamiflu (ver http://www.naomiklein.org/articles/2008/09/response-attacks e http://www.astrodreams.com/foros/viewtopic.php?p=16503&sid=ad2504218b4cac7cc6fba98aea47173c). A Alemanha, em junho de 2005, comprou da Roche 150 milhões de euros de Tamiflu (ver http://www.tagesspiegel.de/zeitung/Die-Dritte-Seite%3Bart705,2261507). Em outubro de 2005, o México gastou 400 milhões de pesos comprando o medicamento ( ver http://www.cronica.com.mx/nota.php?
> idc=208310). A listagem é grande, envolvendo outros tantos países. O que gera grande debate é que o Tamiflu caduca em 4 anos (a versão em pílulas). Em outras palavras, as imensas dosagens do remédio compradas em 2005 estão prestes a vencer.
Não vou entrar na onda das teorias conspiratórias. Mas é este debate que sustenta artigos e dúvidas como as expressas por Clóvis Rossi na Folha de São Paulo de ontem. Rossi se perguntava se estamos realmente lidando com uma ameaça mundial, já que os mortos comprovadamente relacionados ao vírus são muito poucos (muito longe de atingir uma centena).
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