sábado, 30 de maio de 2009

Formação de Professores


Acabo de escrever um artigo em que procuro demonstrar que o problema central do professor é a sobrecarga de trabalho, mais importante nos dias atuais que a sua qualificação. O artigo será publicado na Folha de São Paulo.
Contudo, nos últimos dias o governo federal divulgou a baixa qualificação dos professores de ensino básico no Brasil para, em seguida, anunciar um pacote relacionado a este tema, o Plano Nacional de Formação dos Professores da Educação Básica.O pacote pode ser assim sintetizado:
1) Formação de 330 mil professores nos próximos cinco anos. Os cursos para a formação de professores serão oferecidos por 90 instituições públicas de ensino superior a partir do segundo semestre deste ano. A iniciativa vai beneficiar professores que ainda não têm formação superior; professores formados que lecionam em área diferente daquela em que se formaram e bacharéis sem licenciatura, que não poderiam exercer o magistério. A responsabilidade será da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), que vai receber mais de 1 bilhão por ano para a formação de professores;
2) O Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (Fies) vai permitir financiamento de até 100% da mensalidade dos cursos de licenciatura, com pagamento por meio de serviço como professor de escola pública, depois da conclusão do curso. 3) Os estados que comprovarem não ter condições de pagar o valor integral do piso salarial dos professores, de R$ 950, podem receber verba complementar da União. O piso é destinado aos professores da educação básica para uma jornada de trabalho de 40 horas semanais. Esta medida é sensacional porque destroi os argumentos de governadores (como os de Minas Gerais e São Paulo) que se recusavam a adotar o piso nacional.
4) Ainda em 2009, o MEC vai lançar a matriz de uma prova nacional para professores, que terá a primeira edição em 2010. A prova vai permitir a formação de um banco de professores, que poderá ser utilizado por estados e municípios para a contratação. O MEC também poderá definir nota mínima no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) para o ingresso em cursos de graduação para formação de professores. A exigência de que 70% da carga horária dos cursos de pedagogia seja dedicada à formação de professores também faz parte das medidas. Aí mora o perigo. O MEC continua nesta trilha equivocada.
5) Até o final do ano, governo federal, os estados, o Distrito Federal e os municípios devem elaborar planos de carreira para os professores e os profissionais da educação básica de suas redes. O plano deve contemplar itens como a formação inicial e continuada, o número de alunos por sala, o sistema de avaliação e a progressão funcional. Medida que normatiza este imbroglio nacional e que é pauta constante de luta sindical.

4 comentários:

Rui Dantas disse...

Rudá, vi o seu artigo na FSP de hoje e, como profissional de comunicação que já atuou por diversas vezes em instituições ligadas à educação, devo dizer que faço minhas as suas palavras. O "burnout" está aí e pouca gente se dá conta - ou se interessa em se dar conta. Apenas faço uma ressalva, pois de certa forma, fica a impressão de que os projetos de requalificação do professor são um erro. Acredito que as duas, coisas caminhando juntas (a requalificação e a reestruturação da carga de trabalho dos professores), e outras ações multidisciplinares ainda - como o restabelecimento da ordem (democrática) na sala de aula - poderão reposicionar positivamente a educação neste país.

Rui Dantas
São Paulo

Aurea Dreifuss disse...

Acabei de ler o seu pertinente artigo na Folha de S.P. sobre a situação dos professores brasileiros. Não posso,porém,deixar passar a observação de que a prof.Áurea Damasceno, antes de voltar 'a sala de aula, era a coordenadora do CAPE/SMED,centro de capacitação de professores da rede municipal de BH. Como se explica, então o seu espanto ao descobrir as reais condições de trabalho de muitos professores? Estava ela cega, surda e, especialmente, muda em todo o tempo em que esteve no centro do poder político da prefeitura de BH?
Infelizmente, parece que a nossa política educacional, atualmente centrada na melhoria imediata dos índices do IDEB, não está muito interessada nesses anglicismos,tais como burnout. Que os professores consumam suas energias e se desgastem 'a vontade, como velas ao vento!
Aurea Dreifuss.

Rudá Ricci disse...

Rui,
Concordo com sua observação. É que estou cansado de ver os mesmos consultores ganharem dinheiro fácil sem qualquer compromisso concreto com o professor que tentam formar. Recentemente, um consultor que já foi secretário estadual da educação, produziu um documento para um município mineiro (Ipatinga) em que aparecia o nome de outra cidade ao longo do texto (em suma: copiou o texto que fez para outro cliente e nem se deu ao trabalho de trocar o nome). Sou favorável à formação em serviço, na escola, semanalmente, tal como sugere António Nóvoa.
Rudá

Rudá Ricci disse...

Áurea,
Não façamos deste tema uma briga de "Áureas" (desculpe, mas não resisti ao trocadilho).
O que penso é que o texto de Áurea Damasceno retrata o real. Você deve ter lido toda a carta. Em determinado momento ela desmaia na sala de aula. O que penso é que poucos professores tem a coragem de relatar esta situação para o público. A carta é uma baita contribuição à educação. Em relação ao cargo que Áurea tinha na SMED, o que posso dizer é que todos mudamos. Por isto somos educadores: porque acreditamos na mudança.
Rudá