terça-feira, 1 de fevereiro de 2011
Ponderações de Marco Perroni sobre as manifestaçoes no mundo árabe
Para que minha opinião faça algum sentido preciso inicialmente fazer algumas ponderações. Sou muçulmano há 6 anos, mas não devido a qualquer tradição familiar, ao contrário, sou de origem católica como grande parte do Brasil, de modo que eu escolhi minha fé de forma autônoma.
Também sou estudante de direito, o que me impõe um racionalismo excessivo que a todo tempo me faz questionar a validade e desenvolver análises de quase tudo que me proponho a pensar.
Minha opção religiosa me proporcionou experiências incríveis junto a pessoas de origens culturais absolutamente diversas das nossas. Desde que entrei para a religião islâmica tive contato com gente de mais de 20 países do chamado 'Oriente Cultural', e foi justamente este contato que me fez entender o quão errado está o pensamento dos 'formadores de opinião' de nossa sociedade sobre os fatos que estão se desenrolando no Egito, Tunísia, Iemên, Omã e etc.
Primeiramente é válido ressaltar que os levantes em cada um dos países apresentam particularidades e complexidades diferentes, o primeiro erro cometido pela mídia local é generalizar sob o título de "crise no Oriente Médio" e elecar um só rol de motivos e objetivos para todos. Misturar as razões políticas de Iemen e Egito é tão grosseiro quanto mesclar em uma mesma categoria gastronômica Brasil e Uruguai sob o
pretexto de que os dois tem a cor azul em sua bandeira.
Outro ponto que me gera muito desconforto é a ingenuidade que nossos âncoras lidam com toda a situação. Neste fim de semana ouvi na CBN/SP que o povo egípcio, por assim dizer, estaria se rebelando pois anseia a democratização daquele país. Com o devido respeito, esta opinião é absolutamente desconexa da realidade. Qual o sentido de um povo lutar por alguma coisa que nem sabe o que é? Ademais, mesmo que soubesse, o Iraque e o Afeganistão são bons elementos para que o Ocidente comece a compreender que (talvez) a democracia não é um elixir político universal, e neste sentido, por diversas razões (como falta de educação adequada, incompatibilidade histórica, e capacidade estrutural para realização) o Oriente Médio não seja o terreno mais fértil para o crescimento deste sistema. É difícil aceitar, mas nós superamos...
Creio que neste sentido, o Ocidente está doente e o mal que lhe acomete é a completa falta de alteridade, ou seja, a total incapacidade de respeito ao que lhe é diferente é o motivo pelo qual, por exemplo, nossa mídia retrata o conflito em questão com olhos tão "ocidentalizados" e não atenta para fatores absolutamente
primordiais na leitura desta questão. Na postagem anterior fiz uma pergunta que na verdade é retórica (Será que não existe nestes meio de comunicação nenhum editor-chefe versado em assuntos internacionais para esclarecer de quem se tratava...), pois na realidade eu sei a resposta. Existir existe, mas tal pessoa não é dotada de sensibilidade necessária para o exame desta questão, pois tal como ocorre com (quase) toda imprensa neste canto do mundo, é mais fácil vender uma história que faça algum sentido para o leitor (pois é contada da nossa ótica), do
que explicar o porque existem enormes diferenças entre os povos e evidênciar tais particularidades.
(mensagem enviada pelo internauta para este blog)
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Um comentário:
Caro Rudá,
Acho que este texto não está dos melhores.. escrevi meio na pressa.. creio que seria mais interessante escrever algo melhor...
Abraços,
Marco A.
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