terça-feira, 9 de novembro de 2010

Zé Dirceu no Roda Viva


Demorei para assistir o Roda Viva (TV Cultura) com Zé Dirceu. Respirei fundo. Todos que me conhecem e acompanham este blog sabem de minhas críticas profundas ao "comandante - ou seria coronel? - Zé". Fui oposição a ele, quando ainda militava e dirigia o PT em São Paulo. Mas não tenho como deixar de admirar a sua performance no Roda Viva. Ele deu um show. Em determinado momento, Augusto Nunes foi repreendido por Marília Gabriela, chegando a provocar um riso contido de Zé Dirceu, que se deliciava com as cabeças se batendo. Ela mesmo chegou a ficar evidentemente incomodada com a habilidade do entrevistado. Cometeu até mesmo erros infantis, como o de perguntar se o PT teria uma proposta de censura à imprensa e logo emendou dizendo "é evidente que você vai negar". Ora, trata-se de um erro dos mais grosseiros e primários em um entrevistador: perguntar algo já respondendo pelo entrevistado. O que tecnicamente indicaria uma pergunta supérflua, desnecessária. E politicamente, um infantilismo. Enfim, o jornalismo político brasileiro vai revelando suas profundas fragilidades técnicas e de formação básica. Assim como na política, o jornalismo se revela na prática. Não no discurso.

Um comentário:

Fernando Nogueira disse...

Realmente, Rudá. Aqui em casa nós chegamos ao mesmo consenso: essa é a melhor oportunidade para ver a decadência do programa, a começar pelo próprio cenário e o número de participantes. Minha opinião é semelhante a sua: penso e sei que o Zé Dirceu não é nenhum "santo", participou ativamente do "aparelhamento" do PT pelo sindicalismo paulista, é excessivamente pragmático, etc. Mas não dá pra não reconhecer que ele deu um "banho de bola" em todos ali. Entende muito bem o funcionamento do Estado, e isso não somente por ter sido um ministro, mas pela aguçada leitura do poder com que ele opera. O mais gritante, ainda, é a precária situação do nosso jornalismo, onde uma apresentadora que lida com temas de curiosidade e intimidade de famosos num dia, cai de para-quedas num programa sobre política no outro dia. Nunca vi tamanho descontrole junto. Ouvi dizer que na Alemanha os jornalistas tem, pelo menos, duas formações: uma como jornalista e a outra na área que ele quer seguir carreira. Mas já seria pedir demais, não é?