sábado, 27 de novembro de 2010

"Sobrarão as UPPs, o Terceiro Comando e as Milícias. É o fim do Comando Vermelho"

Entrevista do sociólogo José Cláudio Souza Alves para a IHU=Unisinos:
IHU On-Line – O que está por trás desses conflitos atuais no Rio de Janeiro?

Há elementos presentes nesse conflito que vêm de períodos maiores da história do Rio de Janeiro, um deles é o surgimento das milícias que nada mais são do que estruturas de violência construídas a partir do aparato policial de forma mais explícita. Elas, portanto, controlarão várias favelas do RJ e serão inseridas no processo de expulsão do Comando Vermelho e pelo fortalecimento de uma outra facção chamada Terceiro Comando. Há uma terceira facção chamada Ada, que é um desdobramento do Comando Vermelho e que opera nos confrontos que vão ocorrer junto a essa primeira facção em determinadas áreas. Na verdade, o Comando Vermelho foi se transformando num segmento que está perdendo sua hegemonia sobre a organização do crime no Rio de Janeiro. Quem está avançando, ao longo do tempo, são as milícias em articulação com o Terceiro Comando. Um elemento determinante nessa reconfiguração foi o surgimento das UPPs a partir de uma política de ocupação de determinadas favelas, sobretudo da zona sul do RJ. Seus interesses estão voltados para a questão do capital do turismo, industrial, comercial, terceiro setor, ou seja, o capital que estará envolvido nas Olimpíadas. Então, a expulsão das favelas cariocas feita pelas UPPs ocorre em cima do segmento do Comando Vermelho. Por isso, o que está acontecendo agora é um rearranjo dessa estrutura. O Comando Vermelho está indo agora para um confronto que aterroriza a população para que um novo acordo se estabeleça em relação a áreas e espaços para que esse segmento se estabeleça e sobreviva. Não está em jogo a destruição da estrutura do crime, ela está se rearranjando apenas. Nesse rearranjo quem vai se sobressair são, sobretudo, as milícias, o Terceiro Comando – que vem crescendo junto e operando com as milícias – e a política de segurança do Estado calcada nas UPPs – que não alteraram a relação com o tráfico de drogas. A mídia nos faz crer – sobretudo a Rede Globo está empenhada nisso – que há uma luta entre o bem e o mal. O bem é a segurança pública e a polícia do Rio de Janeiro e o mal são os traficantes que estão sendo combatidos. Na verdade, isso é uma falácia. Não existe essa realidade. O que existe é essa reorganização da estrutura do crime.

Um comentário:

Strategos Aristides disse...

Rudá, as análises sociológicas aqui (at this point) são de um academicismo congelante, e inóquo. Não é à toa que certos intelequituais (como diria o Millôr) são tão úteis como a teoria dos fractais numa enchente na Tereza Cristina no bairro Betânia, quando D. Maria viu, desolada, seu parco patrimônio boiando pra longe. Septicemia é antibiótico. Discute-se "a relação" depois. José Cláudio e Misse estão delirando (ou m..turbando)... na biblioteca. "Capitulação" (espero que a dos dos bandidos, não a do Estado) vem depois. Primeiro "vence-se" a guerra. E seja lá qual for a motivação por trás de tudo isso, uma coisa é clara: é guerra (há muito tempo). Agora precisamos é de um "capitão Nascimento"(quem dera), de um estado responsável, não catedráticos propondo simpósios, seminários e o diabo. Desafio-os a se instalar no fogo cruzado e discutir tudo isso do front, longe dos livros. Perderam o chão, enquanto os moradores perdem tudo...Mas "trata-se de expediente dos mais antigos, que perpassa toda história da política humana", também.