Nossa política e nossas tarefas
Discutir, elaborar e disputar na sociedade um programa político claro para enfrentar a atual situação
17/11/2010
Editorial ed. 403
Ou os partidos de esquerda, as organizações e movimentos dos trabalhadores e de todos os explorados e oprimidos se colocam a tarefa de aprofundamento e ampliação de suas bases – de modo independente e autônomo – e se lançam numa grande disputa política e ideológica da sociedade, ou estaremos fadados a sucumbir ao fascismo. Em termos da disputa ideológica, sua urgência ficou patente nas últimas eleições presidenciais: de repente, como se ressurgissem das suas catacumbas, as forças mais sinistras do nosso país foram alçadas ao proscênio pelas mãos do candidato derrotado: não satisfeito com o DEM, esse senhor legitimou o Comando de Caça aos Comunistas (CCC); a Tradição, Família e Propriedade (TFP); o Integralismo, e tantas outras sociedades de celerados. A grande mídia comercial, por sua vez, naturalizou essa questão, reforçando assim a legitimidade conferida por seu candidato a tais grupos. O nosso silêncio, por sua vez, será uma conivência, um reforço à banalização desse gravíssimo precedente. Sobre a independência e autonomia das organizações e movimentos dos trabalhadores, dois passos são imprescindíveis para nos livrarmos da herança fascistizante (e, portanto, populista) da ditadura do Estado Novo: o fim absoluto da carta e do imposto sindical; e a organização dos trabalhadores em seus locais de trabalho e de moradia, ao invés da organização em torno das sedes dos sindicatos e/ou de guias geniais dos povos, como pretendeu Getúlio Vargas, e em consequência do que pagamos muito caro no golpe de 1964: ocupadas as sedes dos sindicatos, e presos ou perseguidos seus dirigentes, em menos de 48 horas a classe trabalhadora e o povo estavam absolutamente desorganizados e, portanto, incapazes de resistir, independentemente de qual fosse a orientação dos partidos que hegemonizavam a política nacional-desenvolvimentista em curso durante o governo do presidente João Goulart. Já no que diz respeito aos partidos políticos de esquerda, cabe incorporar em suas políticas o enunciado nos dois parágrafos anteriores; orientar seus militantes para o trabalho de organização dos trabalhadores e de todos os explorados e oprimidos, dando prioridade àqueles ligados diretamente à produção, seja nas cidades ou no campo; e por fim, discutir, elaborar e disputar na sociedade um programa político claro para enfrentar a atual situação. Um programa que tenha como preocupação a unificação das forças de esquerda e da classe trabalhadora e do povo. Um programa que tenha como estratégia, o entendimento de que o avanço das nossas conquistas não se dará tendo como palco central (menos ainda exclusivo) as instituições do Estado, mas que depende de combinar essas lutas institucionais com as lutas das organizações e movimentos populares. Sobretudo sem esquecer em nenhum momento que o terreno onde podemos crescer e ser mais fortes; são exatamente as ruas, avenidas e praças. O quadro internacional que se esboça nos é desfavorável, e já é mais que evidente que as grandes potências econômicas e políticas vergam-se cada vez mais, do ponto de vista político e ideológico, para a ultradireita, na mesma velocidade e medida em que, a crise inaugurada há alguns anos começa a explodir mais dura em diversos países, como Grécia, Espanha, Portugal e França. Em breve, um novo surto dessa crise se manifestará intensamente nos EUA, e não se tem ainda ideia de sua dimensão e da violência com que poderá nos atingir – sobretudo que hoje somos donos de duas das mais importantes reservas petrolíferas. As guerras são apenas a política feita através das armas, com a qual as maiores potências procuram resolver seus problemas às custas dos povos, inclusive os seus. Analistas de todas as procedências têm advertido sobre essa crise e sobre a política belicista da Casa Branca, tão intensa hoje quanto o foi sob George W. Bush. De acordo com o economista cubano Osvaldo Martinez, em seu artigo “Crise econômica global, guerra econômica e gasto militar”, “a estrutura do orçamento dos EUA e a lógica de sua política econômica, com Bush e Obama, é a de uma economia de guerra na qual o gasto militar exacerba o déficit fiscal, mas permite o funcionamento de um ‘equilíbrio do terror fi nanceiro’, repassa imensos lucros ao complexo militar industrial e mantém uma chantagem global baseada na força militar”. (CubaDebate, La Habana, 16 de novembro de 2010). Some-se a isto, a situação interna do país, onde as contradições de classes se aguçam. Apenas para ilustrar essa questão, transcrevemos um trecho do que nos diz Bill Quigley, diretor do Centro para os Direitos Constitucionais e professor de direito na Universidade de Loyola de New Orleans, em seu artigo “EUA: concentração de renda e aumento da pobreza como reflexos de suas políticas elitistas”:
“A disparidade de renda nos EUA é hoje tão ruim como era antes da Grande Depressão, no final da década de 1920. Entre 1979 e 2006, a camada formada pelo 1% mais rico mais que dobrou sua porção no total das rendas, passando de 10% para 23%. Sua renda anual média foi superior a 1,3 milhões de dólares. Nos últimos 25 anos, mais de 90% do total de crescimento das rendas nos EUA foi para os 10% mais ricos, deixando apenas 9% para as outras faixas de renda que formam os demais 90% da população”.
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