quinta-feira, 24 de julho de 2008
Causo 01: "Entrar pela porta que o povo abre"
Este aconteceu quando eu comecei a atuar no meio rural, quando tinha 15 anos. Pedi para um padre conhecido convocar os fiéis de uma área rural para uma reunião após a missa. O padre aceitou e, logo após a missa, convidou todos daquela comunidade rural para ouvir o que eu tinha a dizer, no salão paroquial, ao lado da igreja. Todos foram. Passei os slides "Fé e Política" que tinham sido produzidos pela Arquidiocese de São Paulo. Eram slides que mostravam a força do povo unido (faziam uma analogia com o curso de um rio) e alertava para os perigos do populismo. Após passar os slides, perguntei à platéia o que incomodava a todos, as demandas que tinham. Silêncio. Insisti, perguntei sobre comercialização, condição das estradas vicinais, crédito rural. Nada. Minutos depois, um jovem fica em pé e diz que a comunidade tinha um time de futebol e que necessitavam de camisetas. Eu achei uma prova de alienação, desconversei e continuei perguntando sobre problemas econômicos. Novo silência até que um senhor reforça o que o jovem havia falado. Eu continuei na cruzada até que, pouco a pouco, todos foram saindo, saindo, e fiquei sozinho, ao lado do padre. O padre, aliás, com um sorriso no rosto que me irritava muito, olhou e disse: "vou lhe dar um conselho: você sempre tem que entrar pela porta que o povo abre". Foi a maior lição política que tive, principalmente para quem queria ser educador popular.
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