Da Bula Revista:
As editoras não revelam todos os seus trunfos e por isso não se sabe sobre a maioria dos lançamentos de 2011. Depois, alguns lançamentos são decididos durante o ano, quando os negócios são feitos com editoras e autores. (...) O principal lançamento, por incrível que possa parecer, é um clássico do século 19, “Guerra e Paz”, de Liev Tolstói, pela primeira vez traduzido do russo, por Rubens Figueiredo (autor da proeza de traduzir “Anna Kariênina”). (...) A tradução que circula no Brasil, de João Gaspar Simões, tem como ponto de partida a edição francesa. A nova versão é da Cosac Naify.
Proibido na Inglaterra durante 32 anos, por ser considerado “pornográfico”, o romance “O Amante de Lady Chatterley”, do prosador e poeta inglês D. H. Lawrence, volta às livrarias, com nova tradução de Sergio Flaksman, ensaio da escritora Doris Lessing e chancela das editoras Penguin e Companhia das Letras. (...)
Um dos romances mais badalados nos Estados Unidos, “Liberdade” (“Freedom”), de Jonathan Franzen, será lançado, em maio, pela Companhia das Letras. O livro ficou célebre porque foi lido pelo presidente Barack Obama e o autor acabou na capa da revista “Time”.
A Objetiva vai lançar um livro-bomba, “Segredo de Estado”, do jornalista Jason Tércio. A obra relata como o deputado Rubens Paiva, pai do escritor e jornalista Marcelo Rubens Paiva, foi preso, torturado e assassinado num porão da ditadura civil-militar. A mesma editora prepara, para abril, o lançamento de “O Mal Ronda a Terra”, as memórias de Tony Judy. O brilhante historiador inglês morreu, em 2010, aos 62 anos. O livro deve ser comovente, mas convém publicar as obras históricas de Judy, um crítico perspicaz da esquerda que não se tornou direitista.
Um dos mais notáveis repórteres e biógrafos brasileiros, Fernando Morais lança, pela Companhia das Letras, “Os Últimos Soldados da Guerra Fria”. Fidel Castro mandou cinco agentes secretos para os Estados Unidos, naturalmente para espionar, mas eles foram presos e condenados à prisão perpétua. O livro, que resulta das conversas de Morais com pessoas do governo cubano e com alguns dos espiões, deve sair em maio.
Umberto Eco é um intelectual raro, com uma curiosidade enciclopédica, talvez o último iluminista, com faro de medievalista. Não só. É um romancista de qualidade que, por ter formação acadêmica, é visto com desconfiança por aqueles prosadores que não o percebem como um escritor “natural”, como se isto existisse. A Record lança o romance “O Cemitério de Praga”, que vendeu 500 mil exemplares, num só mês, na Europa.
O jovem Jonathan Safran Foer é autor do magnífico romance “Extremamente Alto & Incrivelmente Perto”, sobre o 11 de Setembro. Agora, o leitor brasileiro terá a chance de conhecê-lo como autor de não ficção. “Comer Animais” sai pela Rocco. Os ambientalistas pelo menos deverão aprovar sua crítica corrosiva ao setor agropecuário americano e sua conexão com o meio ambiente.
(...) A Companhia das Letras lança, em maio, “Rock & Roll e Outras Seis Peças”, do dramaturgo Tom Stoppard. De J. M. Coetzee, autor de um dos grandes lançamentos de 2010, “Verão”, sai, em fevereiro, “Mecanismos Internos” (Companhia das Letras). A nobelizada Herta Müller lança, pela Companhia das Letras, “O Balanço da Respiração”.
A publicação do romance “Felicidade É Fácil” (Record) será útil para que o leitor possa avaliar se o jornalista Edney Silvestre é mesmo um prosador a se levar a sério. “Se Eu Fechar os Olhos Agora” é mediano, um ensaio, quem sabe, para voos mais altos.
Glauber Rocha já foi biografado, de modo competente. Mesmo assim, Nelson Motta avalia que há mais a dizer e lança, pela Objetiva, “A Primavera do Dragão”, sobre o diretor de cinema baiano, morto em 1981, aos 42 anos.
Raimundo Carrero, um dos bons prosadores patropis, lança o romance “A Minha Alma É Irmã de Deus”, pela Record.
A Companhia das Letras lança o inacabado “Alabardas, Alabardas, Espingardas, Espingardas”, de José Saramago. Vai ser duro, nos próximos anos, suportar a viúva, sempre elas (María Kodama vai publicar até redações infantis de Jorge Luis Borges), desencavando “obras-primas quase prontas” do falecido escritor português.
Quem gosta de Roberto Bolaño, misto de escritor e “marqueteiro”, certamente obterá prazer com “O Terceiro Reich” (Companhia das Letras), livro póstumo. “A Ninfa Inconstante”, obra póstuma de Guillermo Cabrera Infante, sai pela Companhia das Letras, em fevereiro. Li trechos na imprensa espanhola, que o comparou ao romance “Lolita”, de Vladimir Nabokov. Nada a ver, exceto na temática. Pelo pouco que pude ler, embora muito bem escrito, não tem a “pegada” do próprio Cabrera Infante.
A Companhia das Letras lança “Retrato do Viciado Quando Jovem”, de Bill Clegg, e “Listen to This”, de Alex Ross.
A Cosac Naify banca “Como Funciona a Ficção”, do prestigiado crítico inglês James Wood. Em Portugal saiu como “A Mecânica da Ficção”, pela Editora Quetzal. “Cem Fotografias — Juan Rulfo” sai pela Cosac Naify. As fotografias foram feitas pelo escritor mexicano.
“Wolf Hall”, de Hilary Mantel, será lançado pela Record. O livro recebeu o Booker Prize.
O romance “O Sonho do Celta”, de Mario Vargas Llosa, sai em junho pela Alfaguara. O livro tem sido elogiado pela crítica europeia.
A Nova Fronteira publica “Bárnabo das Montanhas”, de Dino Buzzati, um dos maiores escritores italianos (autor da obra-prima “O Deserto dos Tártaros”), e “Tinkers”, de Paul Harding, vencedor do Pulitzer de ficção. A Nova Fronteira deve lançar, em março, o novo romance de Rubem Fonseca.
A Zahar lança “O Valor do Nada”, do jornalista e escritor Raj Patel”, e “O Gênio Em Todos Nós”, do jornalista David Shenk.
“Nêmesis”, romance de Philip Roth, certamente sairá pela Companhia das Letras, até o fim do ano. Aos 77 anos, Roth publica um livro por ano, quase sempre de alta qualidade.
A Planeta publicou “A Chegada do Terceiro Reich”, de Richard J. Evans, o notável historiador britânico. Espera-se que a editora lance, este ano, o volume seguinte, que mostra a ação do nazismo na Segunda Guerra Mundial.
Uma boa notícia: o jornalista Lira Neto está escrevendo a biografia de Getúlio Vargas. Não sei se digo “a” ou “uma”. Porque há biografias do político brasileiro que ficou mais tempo no poder, quase 20 anos, mas não há uma biografia satisfatória. O líder nascido no Rio Grande do Sul morreu há 54 anos.
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