segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

O debate sobre Hemegemonia às Avessas (de Chico de Oliveira)


Citei, de passagem, a discussão entre Chico de Oliveira e Carlos Nelson Coutinho a respeito do lulismo. Recebi alguns emails sugerindo que eu cite os termos desta discussão, publicada no livro "Hegemonia às Avessas" editada pela Boitempo.
Vou resumir os argumentos dos dois autores:

Chico de Oliveira:
1) O conceito de hegemonia às avessas significa que as classes dominadas tomam a direção moral da sociedade, mas a dominação burguesa se faz mais descarada. Além do Brasil de Lula, Chico ilustra com o caso da África do Sul;
2) Não são, no caso, os dominados que consentem em ser conduzidos pelos dominantes, mas o inverso (no caso, onde PT e Lula seriam os depositários da representação dos dominados), desde que não se questione a forma de exploração capitalista;
3) Contudo, as eleições que reconduziram Lula ao governo federal, em 2006, não interessaram 31% dos votantes, o que nos aproxima da realidade eleitoral dos EUA. Votos nulos e brancos atingiram 4% e 23% dos eleitores não votaram.

Carlos Nelson Coutinho:
1) O conceito de revolução passiva, em Gramsci, implica na presença de dois movimentos: a restauração (reação conservadora) e a renovação (onde algumas demandas populares são acatadas através de concessões pelos dominantes). Gramsci denomina tal situação de restaurações progressistas, revoluções-restaurações ou revolução passiva;
2) Já o conceito de contrarreforma sugere a enorme predominância da conservação (restauração) e tímidas novidades. Os dois conceitos, portanto, possuem distinições de ênfase política;
3) A chegada ao poder do PT não significou a ruptura com a hegemonia neoliberal, mas sua afirmação na política macroeconômica e neutralização da maioria dos movimentos sociais. Neste caso, o que estaríamos presenciando é o que Gramsci denominou de transformismo, ou seja, a cooptação pelo bloco no poder (este conceito está em Poulantzas e significa o bloco ou composição de classe histórico que comanda uma nação) das principais lideranças da oposição;
4) Portanto, para Coutinho, não se trata de uma hegemonia às avessas, mas de uma clássica hegemonia das classes dominantes.

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