segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Sindicalismo de resultado chega ao poder na Câmara, artigo do Brasil Econômico de hoje

Sindicalismo de resultado chega ao poder na Câmara

Pedro Venceslau
31/01/11 12:40

Formado nas fileiras da CUT, o deputado petista Marco Maia, 45, deve assumir na terça-feira (1/2) a Câmara dos Deputados em meio ao cabo de guerra sobre o valor do salário mínimo.
Em meados do último mês de dezembro, um dia depois de conceder uma entrevista à revista Veja, na qual criticou duramente o sindicalismo, o deputado federal Cândido Vacarezza (PT-SP), líder do governo e pré-candidato à presidência da Câmara, cruzou com o colega Paulinho da Força (líder da Força Sindical) nos corredores da casa. A conversa foi rápida, mas reveladora. "Eu vou perdoar a entrevista porque sei que você estava falando para a direita. Só não sei se os seus colegas do PT farão o mesmo", disse Paulinho. Ele estava certo. Ao bater de frente com o sindicalismo, Vacarezza perdeu o apoio do setor mais barulhento e articulado da bancada em sua campanha para ser o nome da legenda na sucessão de Michel Temer (PMDB-SP). Era o que faltava para que uma conjunção de forças imponderáveis virasse um jogo certo. Apesar do apoio do Planalto e da equipe de transição, Vacarezza foi derrotado internamente em um embate que ganhou ares de crise. E assim o nome de Marco Maia, um sindicalista gaúcho de 45 anos, formado nas fileiras da CUT, emergiu como terceira via e acabou se tornando o candidato franco favorito para assumir o terceiro cargo mais importante da República. De perfil conciliador, ele deve ser eleito nesta terça-feira (1/2) com folga, já que conseguiu o apoio de quase todos os partidos que habitam a casa, com exceção do pequeno e radical Psol - há 22 partidos representados na Casa. "O PT aprendeu com a divisão. O processo de escolha do nosso candidato foi duro, mas está cicatrizado", pondera o deputado Paulo Teixeira (PT-SP), novo líder do partido na Câmara. A pergunta que todos se fazem, entretanto, é qual será a postura de Maia diante da primeira grande polêmica do parlamento depois da posse da nova legislatura: o valor do salário mínimo. "O mar não está para peixe para o aumento do mínimo. De qualquer forma, o Marco é um conciliador. Ele ouve muito e processa as coisas", diz Teixeira.
Para o cientista político Rudá Ricci, um ex-militante petista com trânsito na CUT, é um engano achar que o perfil de Maia facilitará a vida dos sindicalistas no debate sobre o salário mínimo. "Os sindicalistas ‘cutistas' se dizem, desde a criação da CUT, inflexíveis só nos princípios. Tanto a Força (Sindical) quanto a CUT estão no Ministério do Trabalho. Eles aprenderam a fazer a grande política." Para ilustrar o pragmatismo dos sindicalistas, Rudá lembra que nos anos 1980, dirigentes sindicais da CUT e da Federação das Indústrias do estado de São Paulo (Fiesp) acertavam suas diferenças no restaurante do luxuoso hotel Macksoud Plaza.

Diferenças e semelhanças
A comparação entre Maia e seu antecessor, Michel Temer, é inevitável. Os dois têm perfis bem diferentes, mas que não chegam a ser diametralmente opostos. "O Temer tinha muito domínio sobre as normas, o regimento e a Constituição. Acredito que o Maia terá uma certa dificuldade nesse sentido. Mas acho que ele tornará os caminhos da Câmara mais acessíveis. O encanto do poder não o contaminou", avalia a deputada mineira Jô Moraes, do PCdoB, partido que até o último momento ameaçou lançar a candidatura de Aldo Rebelo para a presidência da Câmara. Apenas dois nomes haviam se apresentado para enfrentar Maia, ambos sem apoio de seus partidos. Sandro Mabel, do PR-GO, e Jair Bolsonaro, do PP-RJ. É o tempero que faltava.

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