domingo, 9 de janeiro de 2011
O melhor texto teológico
Um dos melhores textos que li recentemente é o livro de Julia Kristeva, intitulado "No Princípio era o Amor: Psicanálise e Fé". Kristeva é búlgara, mas vive em Paris desde 1966. Professora do Instituto Universitário da França, na Universidade Paris 7 e membro da Sociedade Psicanalítica de Paris. O livrinho em questão (83 páginas em formato de bolso) é reprodução de uma conferência que proferiu em 1984 para alunos da Escola Sainte-Geneviève, em Versalhes. A leitura é muito estimulante. No capítulo dedicado ao Credo, o leitor (se for cristão o impacto será ainda maior) vai ao delírio. Kristeva disseca a noção de Jesus Cristo ser engendrado, não criado, já que é partilha da mesma essência. Esta situação, segundo a autora, comporta fantasmas fundametais (todos fundantes da psicanálise), como a adesão do filho à substância corporal do pai (todo poderoso), à identificação simbólica. A autora vai ainda mais longe. Sugere que esta fusão substancial revela e sublima a homossexualidade.
Mais ácida ainda é a sugestão que faz a respeito da mãe virgem. O pai subtraído da cena primitiva tem relação óbvia com o momento inicial do Complexo de Édipo. Diz a autora: "o fantasma de ter seu filho sem a intervenção de um homem sustenta o equilíbrio narciísico de mais de uma mãe". E daí, salta para a origem do discurso machista da igreja, já que há evidente censura à sexualidade feminina (como pecado original). Cria-se a imagem da mãe virgem, o oposto da mulher moderna e de suas fantasias.
O texto de Kristeva dá o troco à acusação histórica que a igreja católica confere à psicanálise sobre a sexualização da vida e do psiquismo. Mas com erudição e diálogo com a teologia.
Uma leitura das mais instigantes.
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Um comentário:
Passando pelos caminhos de Freud e Jung.
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