sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Sobre O Livro Negro


Já o livro do Nobel Orhan Pamuk é muito mais elaborado. Mas possui uma ironia fina, menos visível que no livro de London. Começa com uma epígrafe em que se lê: "nunca use epígrafes: elas matam o mistério da obra!". O autor traça um passeio por Istambul e pela Turquia (seu país). Relata (e ironiza) as divisões da esquerda, os bordéis decadentes, as ruas e a polícia violenta. Mas o pano de fundo é o abandono masculino. Quase todos personagens masculinas são abandonados por suas mulheres. O fundo do pano de fundo são as relações familiares e as dificuldades das pessoas serem genuínas (já que buscam responder à expectativa familiar). O ponto alto, me parece, é a conversa entre três grandes jornalistas com mais de 70 anos de idade. A memória e a ironia se entrelaçam. O estilo do livro lembra algo da Montanha Mágica. O tempo não parece passar. Para aumentar este sentido angustiante da escrita, Pamuk lança mão dos heterônomos (Fernando Pessoa parece uma citação constante).
Enfim, mesmo os livreiros jurando de pé junto que se trata de um romance policial, este livro não tem nada deste estilo.

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