segunda-feira, 12 de janeiro de 2009
A longa jornada do PT de Montes Claros
Após a derrota de Athos Avelino (PPS-PT) nas eleições passadas em Montes Claros (norte de MG, município cuja influência econômica envolve o sul da Bahia e uma população regional ao redor de 2 milhões de pessoas) para o PMDB, o PT enfrenta uma acirrada disputa interna para ingressar no governo atual (que venceu o candidato apoiado pelo próprio PT).
Por 22 votos a 12 e uma abstenção, o PT local decidiu aceitar o convite do prefeito Tadeu Leite (PMDB) para ingressar na sua. Marcos Maia já se anuncia como secretário de governo. Obviamente que esta mudança de rumo tem a ver com disputas internas, mais vinculadas a nomes que a projetos. Os votos contrários (divulga Eduardo Madureira, em seu blog), "em sua maioria, foram dados por filiados ligados ao ex-vice prefeito Sued e o ex-secretário Gilmar Ribeiro, que participava no núcleo duro do governo Athos/Sued."
Desenvolvi uma consultoria no governo Athos para implantar a Governança Solidária, um projeto de descentralização administrativa, formação de lideranças sociais para a gestão participativa, implantação de Unidades Administrativas Regionais, orçamento participativo, Casa da Cidadania, orçamento participativo criança, enfim, um amplo programa de radicalização democrática da cidade.
Contudo, aos poucos, a timidez e insegurança do governo PPS/PT foi se tornando um grande obstáculo. O "núcleo duro" do governo temia a oposição na Câmara de Vereadores, ou mesmo o discurso de alguma ala de governo descontente (quase sempre vindo do secretário de comunicação, sobrinho de Darcy Ribeiro). Não conseguimos desenvolver nenhum projeto e a gota d'água foi uma discussão estranha em que se propunha que as obras do orçamento participativo fossem discutidas, antes, com os vereadores. Politicamente, o PT deveria ter construído uma frente de centro-esquerda, mas esteve à reboque da "militância do contra-cheque". Talvez, agora, tenha condições de refazer seu caminho, juntando-se ao PMDB e PCdoB (que também está no atual governo e apoiou a candidatura de Tadeu.
De qualquer maneira, há vôos mais altos que estão sendo discutidos pelos petistas mineiros, já que venceu as eleições em várias cidades-pólo. Mais ao norte, é o caso de Teófilo Otoni e, logo depois, Governador Valadares. Há dúvidas sobre a posse de Chico Ferramenta (que ganhou, mas ainda não levou) em Ipatinga, mas em seu discurso de final de ano afirmou que vai procurar construir uma aliança neste “corredor”. Esta estratégia parece diretamente vinculada à candidatura de Patrus Ananias ao governo estadual, em 2010.
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2 comentários:
Professor Rudá trata-se aqui mais um questionamento do que uma opinião. Pode ser?
Professor, a região de Montes Claros tem em torno de 7 deputados estaduais tendo Luis Tadeu - salvo engano - se aliado, ou vice e versa, da maioria dessas forças para vencer Athos Avelino. Coisas da política, como sabemos!
Pergunto ao professor:
Como poderá o PT corrigir sua trajetória num ambiente tão carregado?
Muito obrigado,
Guilherme Souto
Guilherme,
Vamos por partes:
a) a política é sempre "carregada", nunca sendo um terreno leve e tranquilo;
b) perceba a história recente de Aécio Neves. De quase nome comum para a sucessão de Lula, de outubro para cá vem somando derrotas políticas impensáveis. Perdeu as eleições municipais em quase todas cidades-pólo de MG e acaba de perder seu aliado em SP (Alckmin). É, no momento, candidato ao senado;
c) considero que o PT de Montes Claros não estava preparado para a aliança que fez com Athos Avelino. Nem mesmo Athos estava preparado para ser prefeito. Posso atestar e testemunhar a insegurança e ausência de projeto para MOC. Temo que o PT também não esteja preparado para a aliança com o atual prefeito;
d) no que consiste uma preparação? Primeiro, em ter uma leitura do município articulada a um projeto estratégico, que ultrapasse o ano vigente. Nunca ouvi ou li uma elaboração do PT de MOC a respeito. Há alguns pseudo-intelectuais do PT local que não conseguiram, até onde percebi, ultrapassar uma leitura dogmática de Marx. Uma pena, já que do século XIX para cá já se produziu muita coisa na esquerda mundial;
e) um segundo quesito básico é elaborar um plano político e de gestão consistente. O PT local parece absorver cânones do "modo petista de governar" sem qualquer espírito crítico. Parece que o forte dos dirigentes locais é mais o jogo que o projeto. Ora, esta perspectiva paroquial aproxima tais lideranças das de direita, porque eles também apreciam mais o jogo que o projeto.
Enfim, sem uma identidade nítida de esquerda será difícil não ser mais um elemento deste ambiente carregado.
Rudá
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