terça-feira, 13 de janeiro de 2009
Reflexão em causa própria
Em dois dias retomo minhas atividades de consultoria em gestão participativa. Faço uma última observação antes da retomada da correria que marca este tipo de atividade, envolvendo consultorias para sindicatos, prefeituras, governos estaduais, palestras, elaboração de pareceres e propostas.
Fico pensando o quanto mudamos desde que entrei nesta roda-viva, abandonando o ensino e pesquisa universitários. Nossa equipe produziu um amplo programa de formação de professores (só em MG, envolvendo 130 mil professores), em MG, RJ, TO, PI, SP, ES. Também desenvolvemos atividades para formação de extensionistas rurais de SP, MG, CE, Ministério do Desenvolvimento Agrário. Trabalhamos com direito da criança e adolescente em quase todo o país, além de desenvolver a primeira pesquisa sobre atendimento ao adolescente infrator. Elaboramos indicadores de avaliação de resultados de políticas públicas, criamos escolas da cidade para formação de lideranças sociais, formamos conselheiros do orçamento participativo, implantamos descentralização administrativa, cursos em escolas de governo, implantação do orçamento participativo criança, implantação da lei de responsabilidade social. Apenas para citar algumas das nossas frentes de trabalho. Quase 15 anos de trabalho por todo o país e parte da América Latina.
Olhando para trás, iniciamos as atividades a partir de uma visão quase escatológica dos "novos" movimentos sociais, embasados em teorias européias que foram adequadas ao Brasil pelas mãos de muitos sociólogos (do CEDEC, onde trabalhei, passando pela Federal de Santa Catarina e ongs do RJ). Lembro-me de Vera Telles, Eder Sader (com quem trabalhei e me surpreendia positivamente), Marilena Chauí, todos mergulhamos nesta hipótese que tinha muita, para nós tupiniquins, relação com a redemocratização e baixa inserção social dos partidos políticos. Os novos movimentos sociais lutavam pela participação social na política, com total autonomia, criticando duramente a institucionalidade vigente, ampliando os espaços do fazer política (para os bairros e locais de trabalho). Ruth Cardoso foi a voz mais racional que alertava para o conservadorismo comunitarista que embalava os "novos" movimentos sociais. Daí surgiu uma linha analítica mais crítica a respeito deste tema. A partir dos anos 90, a tese escatológica sobre os novos movimentos sociais foi minguando por inanição.
Os partidos de esquerda foram rapidamente tomados, nos anos 90, pela ânsia de inserção nos escaninhos da institucionalidade vigente. A tese da autonomia foi totalmente solapada nos anos 90. Parte da convicção sobre o papel dos movimentos sociais desaguou na Constituição de 88. Mas a tese sobre os novos movimentos sociais fazia uma mediação entre a militância e a sociologia, embora fosse desavergonhadamente escatológica. Contudo, a partir daí, o que gerou debate sociológico no Brasil?
E aí, chegamos ao ponto onde estamos. É hora de nos perguntarmos se toda energia jogada nos últimos anos para construção, elaboração e socialização de mecanismos e instrumentos de gestão participativa e radicalização democrática gerou algum resultado concreto ou significativo de mudança social e política. Muitas vezes, ao iniciar uma nova consultoria, somos obrigados a começar do zero, o que denota que a cultura da participação na gestão ainda não se instalou nos órgãos públicos e entre a grande maioria das ongs e entidades de representação social. A mudança cultural dos gestores e liderança sociais é extremamente lenta e a falta de reflexão sistemática desses atores gera um novo dilema de Sísifo.
Conclusões melancólicas, é verdade. Mas é hora de começarmos a realizar um bom balanço do que fizemos desde o final dos anos 80.
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