quarta-feira, 31 de agosto de 2011
PPS sem pai nem mãe?
O deputado Roberto Freire acusou o golpe. Num discurso agressivo afirmou que não entendeu a aproximação acelerada do alto clero do PSDB está promovendo em relação ao governo Dilma Rosseff. Sustenta que tal aproximação desarma a oposição.
Pode ser. Mas parece que desarma ainda mais os partidos menos potentes da oposição.
The Huffington Post chega ao Brasil
Da revista INFO:
The Huffington Post, considerado um dos blogs jornalísticos mais famosos do mundo começará a atuar no Brasil até o final deste ano. Quem garante é a própria Ariana Huffington, fundadora e diretora de redação do site. “Vamos fazer as mesmas coisas: agregar conteúdo, criar blogs, abrir as reportagens para comentários e nossas próprias histórias. A receira virá com anúncios”, disse Ariana.
Arianna Huffington nasceu em Atenas, na Grécia, escreveu livros e já foi até candidata ao governo da Califórnia antes de fundar o blog, em maio de 2005. Ela estará no Brasil para o InfoTrends, evento de tecnologia da revista Info. The Huffington Post foi um sucesso de primeira, atraiu novos leitores ao agregar notícias de várias publicações e publicar a opinião de milhares de blogueiros. A Aol comprou o site por 315 milhões de dólares.
Breve Observação:
Lembro que o jornal eletrônico Sul21 nasceu inspirado no The Huffington Post.
terça-feira, 30 de agosto de 2011
Pesquisa do INEP revela baixa qualidade do ensino fundamental
Do site da CBN:
Metade das crianças brasileiras que concluíram o 3.º ano (antiga 2.ª série) do ensino fundamental em escolas públicas e privadas não aprendeu os conteúdos esperados para esse nível de ensino. Cerca de 44% dos alunos não têm os conhecimentos necessários em leitura; 46,6%, em escrita; e 57%, em matemática. Isso significa que, aos 8 anos, elas não entendem para que serve a pontuação ou o humor expresso em um texto; não sabem ler horas e minutos em um relógio digital ou calcular operações envolvendo intervalos de tempo; não identificam um polígono nem reconhecem centímetros como medida de comprimento.
"Esse panorama mostra que a exclusão na educação, que deveria servir como um mecanismo compensatório das diferenças socioeconômicas, começa desde cedo", afirma Priscila Cruz, diretora executiva do Todos Pela Educação. "A grande desigualdade que tende a se agravar no ensino médio já se faz presente nos primeiros anos do fundamental. Isso é visível nas diferenças entre as regiões do País."
Os resultados descritos são da Prova ABC (Avaliação Brasileira do Final do Ciclo de Alfabetização). O exame é uma nova avaliação nacional, organizada pelo Todos Pela Educação, Instituto Paulo Montenegro/Ibope, Fundação Cesgranrio e o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep). É a primeira vez que são divulgados dados do nível de alfabetização das crianças ao final do ciclo.
Execução orçamento federal em 2011
Legislativo.................... 0,45
Judiciária..................... 1,76
Essencial à Justiça............ 0,43
Administração.................. 1,53
Defesa Nacional................ 2,65
Segurança Pública.............. 0,70
Relações Exteriores............ 0,17
Assistência Social............. 3,71
Previdência Social............. 31,14
Saúde.......................... 5,22
Trabalho....................... 2,96
Educação....................... 3,67
Cultura........................ 0,08
Direitos da Cidadania.......... 0,13
Urbanismo...................... 0,18
Habitação...................... 0,00
Saneamento..................... 0,05
Gestão Ambiental............... 0,19
Ciência e Tecnologia........... 0,51
Agricultura.................... 0,85
Organização Agrária............ 0,21
Indústria...................... 0,14
Comércio e Serviços............ 0,14
Comunicações................... 0,05
Energia........................ 0,05
Transporte..................... 1,13
Desporto e Lazer............... 0,02
Encargos Especiais............. 41,90
FHC e Aécio confundem eleitor de BH
Rui Falcão passou por BH e fez discurso coerente: apoiou a aliança com PSB para reeleição de Márcio Lacerda em 2012.
Mas a mesma coerência não se viu entre os líderes tucanos. FHC, que também esteve em BH, destacou a aliança com o PMDB. E Aécio, que acompanhava FHC, não descartou a possibilidade de candidatura própria na capital mineira, com João Leite como cabeça de chapa. Há problemas na afinação da orquestra.
Mapa do mercado de luxo no mundo
O mapa do mercado Classe A+ já inclui o Brasil. Ocuparíamos o 11o lugar, segundo a Merrill Lynch Global, no ranking mundial de países com mais milionários. São 155 mil brasileiros milionários. Mais: o país ganha 22 novos milionários por dia.
Este é o motivo para chegar ao Brasil uma loja da Petrossian, especializada em caviar. Ou para se instalar em dois anos a grife suíça de relógios Omega. Já somos o terceiro mercado de jatos executivos do mundo (626 unidades)atrás dos EUA, Canadá e Reino Unido.
alguns dados para entendermos como a pobreza diminui no Brasil e é acompanhada pelo aumento da desigualdade social.
segunda-feira, 29 de agosto de 2011
Dilma e seu mapa de tensões
A Folha de hoje publica o mapa da crise política de Dilma Rousseff. Trata-se da liberação das emendas parlamentares (Câmara Federal). Até agora, Dilmva liberou 242 milhões de emendas individuais. Deste total, o PT foi responsável por 22%; PMDB com 18,3%; PSB com 10,5%. Até aí, três partidos da base aliada de Dilma, com representação proporcional. O problema começa a partir daí.
O PDT ficou atrás do DEM!
DEM ficou com 7,9% dos recursos liberados e PDT com 5,5%!!!
Em seguida, PSDB (5,5%), PP (outro aliado, com 5,1%), PR (4,9%) e PTB (4,4%). PP e PR estão em pé de guerra. O PTB só não esperneia porque fechou um pacote de alianças para 2012.
Falta política na agenda dilmista.
FHC e Rui Falcão
Minas entrou definitivamente no mapa de disputa entre o PSDB (único partido de oposição ao lulismo com musculatura) e PT (o partido dominante do sistema partidária tupiniquim). Somente no dia de hoje, BH recebe FHC e Rui Falcão. Já havia recebido Lula e, logo em seguida, os tucanos reagiram filiando 130 sindicalistas (a maioria da Força Sindical).
151 mil correspondentes de bancos
São padarias, supermercados, açougues, correios, lotéricas, mercados, concessionárias, postos de gasolina, papelarias e cartórios. 150 mil pontos de correspondentes de bancos (principalmente Banco do Brasil, CEF e Bradesco) que movimentam 394 bilhões de reais. Sindicatos de bancários e deputados vinculados a esta categoria estão em pé de guerra contra esta rede bancária paralela.
É o jeitinho brasileiro entrando em campo para substituir a ausência de conta bancária.
A ilustração desta nota é d
domingo, 28 de agosto de 2011
Montadoras no Brasil
Ser quinto do mundo está se tornando número mágico para o Brasil. Veja matéria publicada no Estadão de hoje:
SÃO PAULO - O Brasil é hoje o país que mais atrai as montadoras. Nove fábricas já estão em construção ou em projetos, mesmo número de unidades em obras na China. Esse novo ciclo de investimentos dos fabricantes de veículos vai despejar US$ 5 bilhões no País até 2014. Entre os interessados em desembarcar no País há marcas de carros populares, como os chineses, até luxuosas como os da alemã BMW. As empresas que já definiram projetos vão adicionar capacidade produtiva extra de 820 mil veículos ao ano e, segundo anúncios feitos pelas companhias, cerca de 14 mil empregos diretos. Hoje, a capacidade total é de quase 5 milhões de veículos. O Brasil é o quinto país com maior número de montadoras já instaladas. São 26 fábricas de 19 marcas de automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus.
É a economia, estúpido!
Rio domingueiro
A Cruzada Veja
A revista Veja parece definitivamente desmoralizada. Mesmo assim, continua em sua Cruzada e, em algumas raras vezes, pauta o restante da grande imprensa. Este é o caso da "cutucada" em Zé Dirceu, de quem não guardo grandes lembranças e admirações (basta consultar muitas notas que postei neste blog).
Ocorre que Veja incorre em vários erros. O mais grave foi tentar invadir o apartamento onde estava o ex-ministro. O hotel confirma que o jornalista da revista, na ânsia de tentar obter alguma anotação (ou porque é um ator frustrado que gostaria de estrelar um filme de James Bond), tentou conseguir cópia das chaves do apartamento.
Um segundo erro é imaginar que apenas Zé Dirceu promove conspirações em hotéis. José Serra é famoso por algumas delas, assim como tantos outros. Conspirar é elemento central da prática política palaciana.
A revista não ajuda o leitor a compreender como se faz política no mundo real dos embates tramados nos bastidores. Assim, infantiliza o leitor.
Finalmente, não acredito que Zé Dirceu mereça tanta atenção. Imagino que o editor esteja conspirando contra o que pode ser uma tentativa de "retomada" do controle petista sobre o governo Dilma. Se for isto, a revista contradiz a pauta. Ao menos, aos olhos crédulos de quem acredita que Veja faça apenas jornalismo.
Roberta Sudbrack
Eu estava esgotado, mas respirei fundo e fui conhecer o restaurante de Roberta Sudbrack. Para quem não se lembra, ela foi chef da cozinha do Palácio do Planalto na gestão FHC. Era muito elogiada, sempre.
Sempre que estou no RJ tento conhecer este restaurante, mas ele abre em dias complicados (de terça a sábado) para um viajante como eu. Ontem tive esta oportunidade.
Comi um ovo caipira em crocante de pão e foie gras, seguido por porquinho de leite assado em baixa temperatura caseira (com batatinha croustilante) e terminei com um canelone de maçã e farinha de pistache.
Escrevendo assim, não dá nem para chegar perto. Os pratos são muito delicados e, sinceramente, estão no mesmo nível do DOM (8o melhor do mundo), do premiado Alex Atala.
Vou tentar descrever os pratos.
O ovo caipira vem numa taça de coquetel, estilo dry martini. O ovo, coberto pelo crocante levemente doce e o foie gras ficam na base da taça que é coberto por clara em neve (na verdade, parecia espuma, fina e leve). Antes, serviram fatias muito finas de um salame gaúcho e seis pequenos gougère, que é o pão de queijo francês (sem pouvilho e com muito gruyère). E também serviram um mandiopã salpicado com farinha de banana acompanhado de brotos de agrião.
O tal porquinho é quase indescritível. Uma fatia retangular, como se serve salmão, com a carne desmanchando. Mas o mais incrível é o pururuca: uma crosta muito fina e crocante, finíssima e leve que se corta com o garfo (tal a delicadeza). Eu fiquei realmente impressionado.
A sobremesa é uma surpresa a mais. Um fino caneloni crocante recheado de maçã. Come-se com as mãos, besuntando com a farinha de pistache.
Pedi um café, mas eles me sugeriram um chá de capim limão.
Divino. Para comer ajoelhado.
Coluna de Fernando Dantas sobre Antônio Barros de Castro
O artigo é grande, mas vale a pena. A melhor homenagem a este economista que foi presidente do BNDES no período da gestão Itamar Franco e que faleceu na semana passada, de maneira abrupta:
Castro, muito além do conflito ideológico
25 de agosto de 2011
Fernando Dantas
Tive o privilégio e o prazer, ao longo dos últimos dez anos, de fazer uma série de longas entrevistas para o Estado de São Paulo com Antônio Barros de Castro, professor emérito da UFRJ e ex-presidente do BNDES (1992/1993), falecido de forma inesperada no último domingo. Na grande maioria dessas ocasiões, eu estava acompanhado de Suely Caldas, colunista do Estado, ex-diretora da sucursal do Rio do Grupo Estado e grande admiradora do trabalho de Castro.
Ontem (terça-feira), ainda sob o choque da notícia, puxei nos arquivos do jornal e reli todas aquelas entrevistas. E esse panorama retrospectivo só reforçou a minha visão positiva sobre o legado intelectual do professor, e me fez notar também o seu grande poder de antevisão.
O pensamento mais recente de Castro poderia ser resumido como o de alguém que considera a estabilidade macroeconômica e o choque de abertura da economia brasileira nos anos 90 condições necessárias, mas não suficientes para o desenvolvimento do País. Nas suas palavras, em entrevista de 2005: “Políticas macroeconômicas severas, particularmente na parte fiscal, são comuns tanto na Coreia e China quanto em países que vegetam décadas na estagnação, como Portugal de Salazar. Sempre fui a favor do rigor fiscal, e contra o ‘pau na máquina’. Mas isto só não basta.”
O economista achava que um dos complementos fundamentais era uma política industrial, mas a concebia de forma muito distinta da defendida pela grande maioria dos desenvolvimentistas.
Defensor do período Geisel, de intervenção pesada e montagem de um parque industrial de insumos básicos e bens de capital, Castro considerava que esta era uma etapa encerrada da estratégia industrial brasileira. A nova política, ele costumava dizer, não era para preencher lacunas, e não deveria reeditar o antigo enfoque setorial.
Já em dezembro de 2001, Castro dizia que o Brasil era um país “onde a cultura industrial encontra-se assimilada, disseminada, dominada”. Dessa forma, a nova política industrial não era mais “para criar empresas e levantar fábricas (embora ele ainda admitisse uma exceção para a eletrônica)”. Para ele, o novo foco era o de “estimular a criatividade, apoiar inovações, socializar riscos, promover parcerias – uma política mais fina e leve”. E, quando falava de inovação, o economista tinha uma conceituação ampla, que ia desde alta tecnologia até processos produtivos, design, marketing, desenvolvimento de marca, etc.
A sua nova visão de política industrial foi, aos poucos, mesclando-se a sua interpretação da emergência da China na economia global. Tanto num caso como no outro foram diagnósticos precoces, da primeira metade da década passada ou talvez até antes.
Em 2003, ele afirmava que “a visão setorial não capta o dinamismo econômico que o Estado deve incentivar; o que importa nesta nova realidade é ter projetos, processos e produtos inovadores, voltados ao mercado externo, que pela diferenciação alcancem o ‘preço-prêmio’, e escapem da brutal competição de custos de chineses, centro-americanos e vietnamitas”.
Efeito China
Em 2007, ele falava do “efeito China” em termos mais amplos, e com percepção clara da questão, hoje intensamente discutida, do crescimento puxado pelas commodities encarecidas pela demanda chinesa: “Há a pressão competitiva sobre as economias maduras, que transferem suas unidades industriais menos sofisticadas para a China, e a aceleração do crescimento de países bem dotados de recursos naturais. Isto explica por que tantos países, incluindo África e América Latina, estão tendo desempenho tão bom. É o crescimento no vácuo da China, com sua demanda explosiva por commodities básicas”. Nessa mesma entrevista, Castro demonstrava preocupação com a doença holandesa, definida por ele como a situação na qual “o câmbio valorizado, provocado pelo boom de exportações ligadas aos recursos naturais, reduz ou anula os retornos dos segmentos não beneficiados pelo mesmo efeito”. A sua resposta ao problema, porém, não era a da defesa e da proteção, mas sim “partir do impulso da China e ir muito além dele”.
Assim, uma das saídas era a de “dar mais complexidade às atividades voltadas aos recursos naturais, criando um sistema de desenvolvimento de tecnologias em torno da exploração daqueles produtos primários”. O problema, evidentemente, era como fazê-lo.
Em 2006, com Lei da Inovação recém-regulamentada, Castro dizia que “o Brasil está constituindo um sistema nacional de inovação, que ainda está pouco articulado, mas aponta na direção correta”. Em maio de 2009, na sua última longa entrevista ao Estado, o professor explicava de forma mais detalhada o que tinha em mente: “O Estado brasileiro está bem equipado, mas é preciso entender que a sua função não é atender a demandas de empresas, mas induzir cooperações. O Estado não deve ser um balcão. Ele está sendo muito demandado pelas empresas, mas são demandas essencialmente de defesa, de proteção, mesmo que razoáveis”.
Não que o economista tivesse renunciado totalmente à ideia de proteção. Em 2006, ele alertava que “se partirmos para importar maciçamente o mais barato, vamos desfazer as cadeias locais, e o País tem um sistema industrial que não deveria ser desmontado”.
Feita essa ressalva, porém, fica claro na entrevista de 2009 que a essência da sua estratégia não era a defesa, mas sim olhar para frente: “Cabe aos poderes públicos ajudar a encaminhar soluções não para a sustentação do passado, mas sim para o futuro, levando em conta que, na flexibilidade tecnológica atual, é absolutamente impossível explorar todas as possibilidades – a seletividade é o xis da questão.” Assim, continuava, “no médio e longo prazos, a verdadeira proteção vem do avanço”.
Governo Lula: entusiasmo e críticas
A estratégia brasileira no mundo “chinocêntrico”, como costumava dizer, variava desde a exploração de produtos econômicos, mas de qualidade, para as classes populares ascendentes até “a pletora de oportunidades com que se defrontam as nossas empresas – o etanol ou, melhor dizendo, o canavial como coletor de energia solar; a tecnologia da informação; o software brasileiro; o núcleo eletromecânico; e muitas outras”.
Aliás, no quesito classes populares, vale um parêntese. Em entrevista de 2001, com formidável poder premonitório, Castro já afirmava que “o Brasil está a meio caminho da revolução de consumo das massas; em cada arranco da economia, aflora este mercadão ávido, moderno”.
O economista ficou muito entusiasmado com a eleição de Lula, pelo que percebeu como uma mistura de responsabilidade e prudência macroeconômica com uma “face agregadora insuspeitada”. Para ele, “Lula parece se encaixar muito bem neste novo padrão, no qual o Estado é um apoiador, difusor de informações, provocador, animador e, eventualmente, socializador de riscos”.
Ao longo do governo Lula, porém, o seu espírito crítico aguçado viria a prevalecer em diversas ocasiões. Em 2005, criticou o que via como a suposição “alojada no âmago da política econômica brasileira” de que o potencial de crescimento era de apenas 3% a 3,5%. Para ele, essa perspectiva de expansão era alcançada com “retoques, racionalizações, aprendizado e pequenos investimentos por parte das empresas”, mas não as levava a investir em novas fábricas. A crítica, evidentemente, era à política monetária, que Castro via como excessivamente conservadora naquele momento.
O tempo provou que ele estava correto no que diz respeito ao potencial de crescimento, que hoje é estimado em pelo menos 4% pela maioria dos economistas.
Aliás, desde a primeira das nossas entrevistas com Castro, em 2001, ele apostava na capacidade de crescimento mais veloz da economia brasileira. Embora tenha errado no varejo ao prever em dezembro de 2001 que o País superara a fase de “stop and go”, já que ainda haveria a derradeira e pior crise provocada pelo pânico eleitoral de 2002, Castro acertou no atacado ao prever que os “voos de galinha” estavam no fim.
Desafio do pré-sal
Mas a maior divergência do economista em relação aos governos petistas se deu justamente na sua principal área de interesse, a política industrial. Castro, que via méritos na política atual de inovação e tecnologia, conduziu essa discordância da forma discreta e elegante que lhe era característica. Manteve laços diplomáticos e de respeito mútuo com Luciano Coutinho, presidente do BNDES, que se tornou o principal mentor da política industrial a partir de 2007. Castro, inclusive, foi diretor de planejamento do BNDES entre 2005 e 2007, e assessor sênior posteriormente.
Para os que o conheciam, porém, estava claro que a política industrial de financiamento maciço a grandes grupos de setores tradicionais não era o que Castro tinha em mente. Com o advento do pré-sal, um tema que, junto com a China, dominou sua reflexão nos últimos anos, essa diferenciação tornou-se mais clara.
Na entrevista de 2009, o economista não poderia ter sido mais explícito ao criticar alguns dos objetivos complementares perseguidos pelo governo no âmbito da exploração do pré-sal: “Se formos meramente fazer estaleiros, produzindo com projetos e máquinas em grande parte importados, ou refinarias, que são um negócio quase fechado, e que já sabemos fazer (…) teremos, sim, problemas de sobrevalorização cambial, (…) tributários e fiscais”. Castro, na verdade, associava estas alternativas a um ritmo mais rápido de exploração do pré-sal, ditado pela demanda externa.
A sua preferência era a de “buscar os avanços que geram mais futuro, mais conectividade, no sentido de que vão espraiar efeitos positivos”. Neste caso, “o ritmo (de exploração do pré-sal) tem de ser encontrado em função de todas as oportunidades, acertando-se o passo com o conjunto de outras transformações simultâneas da economia”.
Ele citou, como exemplo de oportunidades do pré-sal, novos materiais (aços especiais), automação, software, motores, helicópteros e projetos de engenharia. Mas, para o economista, “tudo isso tem aprendizado, toma tempo. Então uma coisa é produzir 70 bilhões de barris suavemente distribuídos ao longo de 30 anos, outra coisa é ter um pico, uma explosão aí por 2020, e depois um abrupto declínio a partir de 2025″.
(...)
sábado, 27 de agosto de 2011
A imprensa exagera na "desmontagem do lulismo" de Dilma
A grande imprensa começa a mostrar - ainda timidamente - seus dentes contra o lulismo, novamente. Não se trata de orquestração, mas de uma espécie de "rádio peão" em que um editor conversa com outro e acabam criando uma ideia-fixa.
No caso, começam a crer que Dilma estaria desmontando o que Lula construiu. "Menas", diria o velho líder. Dilma, de fato, desmonta um dos vértices do lulismo, mas não o arcabouço inteiro. Estou reproduzindo, acima, o diagrama que utilizo em minhas palestras para sintetizar o que considero a lógica do lulismo. Trata-se de um modelo adaptado do fordismo. Neste caso, percebam que Dilma altera apenas uma das pontas, a que se relaciona com a coalizão presidencialista. Mas apenas ela.
Estou no Rio
Já estou no Rio de Janeiro onde debato a conjuntura nacional com o Conselho Regional de Psicologia.
Pretendo assistir o show de Bukola Elemide ou Aṣa (pronunciado "Asha"), cantora e compositora francesa de origem nigeriana. Está ocorrendo um festival de arte negra aqui no RJ e estou torcendo para ainda ter algum ingresso à venda. Vamos ver.
Enquanto isto, dá uma olhada no vídeo abaixo:
Ponderações sobre a greve dos professores de MG
Vou detalhar um pouco mais minha leitura sobre o ato da greve em si como instrumento de luta de professores. Continuo recebendo muitos emails (nem todos muito favoráveis às minhas análises) e gostaria de estimular este debate. Vamos lá:
a) A profissão de educador é a única que ainda não se curvou totalmente para os ditames do mercado. A única. É verdade que vem crescendo fortemente este enquadramento. O Brasil, há cinco anos, começou a ver a área educacional se oligopolizar. São 7 grandes redes que avançam aceleradamente sobre todas escolas privadas e começam a vender apostilas para muitas redes públicas. Mas, mesmo assim, a profissão em si ainda não se mercantilizou totalmente. Daí compreender esta profissão como a mais nobre (e mais resistente) dentre as profissões modernas (estou limitando, portanto, o foco temporal);
b) Há quem caminhe numa leitura negativa sobre o conceito de missão, como se fora carregado de voluntarismo moral. Não é isto que vários autores sugerem. A noção de missão do educador está vinculada à construção de um código moral de convivência. Porque o educador ensina as crianças. Alguns autores denominam este ato de socialização. Os freireanos acreditam que o ato de educar é um ato político, mas que se afasta de qualquer ação de convencimento. Somos muito rigorosos com isto porque sabemos que estamos construindo um espaço de debate para a autonomia. Trata-se de uma missão, que eu sempre tentei cumprir e estar à altura. Não consigo imaginar que um educador se sinta como qualquer outro profissional. Temos uma missão nobre, humanista. Esta consideração não remete a voluntarismo ou ausência de direito e dignidade que o profissional tem direito a ter. Portanto, lutar por salário não diminui ou altera a lógica da missão civilizatória que o processo educacional carrega;
c) Sobre a greve, considero um instrumento ultrapassado. É legítimo e não retiro a possibilidade democrático de seu uso pelos trabalhadores. Assim como é legítimo usar chapéu de feltro em dia quente, embora pareça meio inadequado. Mas tenho o direito de analisar sua adequação. Nos últimos anos, o Sindute liderou muitas greves e todas redundaram em fracasso. Este ano, após tantos fracassos, deve conquistar algo, mas não em virtude do movimento grevista, mas em virtude da decisão do STF. Aquilo que se denomina de “judicialização da política”. Enfim, a greve não contribuiu em absolutamente nada para a possível conquista que se avizinha;
d) A greve no serviço público é uma antítese. Porque ela não afeta exatamente um patrão, mas os usuários do serviço público, que não objetivam auferir lucro. O sindute vem propagandeando a noção de sindicato cidadão. Ora, nada mais cidadão que pensar em articular a luta salarial com a melhoria do serviço público. Ainda mais sendo um serviço de socialização como a educação. Mas o que sinto é um aprofundamento da concepção corporativa de sindicalismo e não um avanço na direção do sindicato cidadão. Alguns trabalham com o eufemismo de que aumentar o salário refletiria na melhoria do serviço prestado e, assim, a luta salarial seria uma luta pelo serviço público. Não tenho mais idade para acreditar nesta promessa que nunca se realiza. Não há nenhuma relação entre serviço público de qualidade e salário. Se existisse, a proposta neoliberal de bonificação de professores que atingirem a meta proposta pelo governo teria sentido. O que não tira o direito de qualquer trabalhador lutar por melhores salários e condições de trabalho. Mas uma questão não se relaciona a outra. Não há um estudo que indique ou confirme esta hipótese.
Portanto, o que sugiro é um debate mais aprofundado sobre melhores e mais adequados instrumentos de luta dos professores. Mesmo porque, este instrumento (a greve) já está com idade avançada.
sexta-feira, 26 de agosto de 2011
O "inverno chileno" de Beto Richa
Estou em Curitiba (amanhã estarei no Rio de Janeiro). Aqui, o governador Beto Richa enfrenta o protesto de estudantes da UEM (universidade de Maringá). Ontem, 400 estudantes tomaram o prédio da reitoria em protesto contra o corte de verbas na educação. Organizada pelo DCE, o protesto foi recheado de cartazes contra o governador. O reitor Júlio Santiago Prates Filho elaborou carta aos estudantes onde relata as iniciativas que tomou para atender as suas reivindicações: contratação de mais servidores, expansão do restaurante (e adoção de cardápio vegetariano) e instalação de outras unidades do restaurante no campus. O reitor saiu da universidade escoltado.
Vale registra o quanto esta porção do país se relaciona com o restante do Cone Sul da América Latina. Daí ser forçoso lembrar que ontem e anteontem se realizou a primeira greve geral nacional no Chile, convocada pela CUT (Central Unitaria de Trabajadores). A greve se alimentou do movimento de massas organizada pelos estudantes universitários chilenos. O Paraná está longe de ver a luta estudantil ganhar tal projeção ou até mesmo de se articular com a luta sindical.
Mas caldo de galinha e cautela...
Impacto do aumento do fluxo de capitais para o Brasil
A última análise de conjuntura publicada no boletim elaborado pelo Grupo de Economia da FUNDAP focou o boom de capitais externos que ingressaram no país neste ano. As ações anti-cíclicas que foram implantadas logo após a crise de 2008 aumentaram o grau de confiança dos investidores. Além disto, a diferença entre os juros internos e externos se ampliou. Finalmente, afirma o boletim da Fundap, a bem sucedida saída da crise dos países emergentes e a crise dos GIIPS (Grécia, Irlanda, Itália, Portugal e Espanha, que tiveram seu risco soberano rebaixado), consolidaram o fluxo de capital para o Brasil.
A passagem do boletim que reproduzo retrata como as medidas de inibição do fluxo de capitais adotadas pelo governo brasileiro não foram suficientes para administrar o câmbio (além do aumento da dívida externa do setor privado, que saltou 15,6% de dezembro do ano passado a maio deste ano):
O ingresso de capitais estrangeiros registrou o recorde histórico de US$ 60,3 bilhões no primeiro quadrimestre de 2011, a maior cifra observada no primeiro quadrimestre do ano da série histórica do Banco Central do Brasil (iniciada em janeiro de 1995). Esse resultado garantiu saldo positivo de US$ 62,7 bilhões da conta financeira – que registra os fluxos líquidos de capitais entre o país e o exterior –, montante igualmente inédito, superando em mais de US$ 12 bilhões o recorde anterior, registrado no mesmo período de 2007 (de US$ 59,8 bilhões). Com isso, o balanço de pagamentos brasileiro foi superavitário em US$ 39,3 bilhões, já que o déficit em transações correntes (também recorde histórico) somou US$ 22,2 bilhões. (...) A análise do perfil da entrada de recursos externos no período analisado revela que os investimentos diretos externos (IDE) responderam por 45% do total (US$ 26,9 bilhões).
Anastasia fará suas escolhas
O salário de professores representa 67% da folha de pagamentos do governo mineiro. Anastasia pretendia anunciar programa anti-crise, já precavido em função do impacto que a crise de 2008 teve sobre as exportações e produção de MG.
Mas com a decisão do STF sobre o piso salarial (afinal, decidiu-se que é mesmo piso e não pode ser dividido), terá que fazer suas escolhas. E rapidamente.
Lula fez suas escolhas
A área da infância e juventude foi a mais prejudicada com o contingenciamento do orçamento federal voltado para investimentos sociais entre 2009 e 2010, segundo o IPEA. O corte foi de 30%. O programa Segundo Tempo não recebeu nenhum recurso em 2010.O Pro-Sinase teve corte de 76% (em relação ao ano anterior). Somente enfrentamento à violência sexual não sofreu cortes.
quinta-feira, 25 de agosto de 2011
Sábado, no RJ
Participo, na tarde do próximo sábado, do encontro de psicólogos que representam o Conselho Regional de Psicologia do RJ no controle social nos municípios e no estado. Faço análise de conjuntura das políticas públicas e as potencialidades e lugar político do controle e participação social neste contexto.
Greve dos Professores em MG
A foto que ilustra este blog é de uma aula pública que os professores em greve da rede estadual mineira organizaram em plena Praça Sete, no centro de Belo Horizonte. Muito criativa. Durante o maio de 68, professores e alunos organizavam aulas públicas deste tipo. Foucault ficou famoso (ou mais famoso) com seus seminários à céu aberto. Num dia, colhia temas que os estudantes desejavam estudar e, no outro dia, apresentava um seminário a respeito (os alunos sentados no chão). Ele se recusou apenas a dar uma aula sobre Marx (ele tinha suas manias).
Recebi muitos emails solicitando que eu me posicionasse a respeito da greve dos professores. Confesso que fico constrangido porque fico temeroso que minhas opiniões pessoais criem algum mal estar, no calor do movimento. Sei o quanto é difícil conduzir uma greve deste porte.
Mas os emails não param de chegar. Então, não vou me esconder.
São dois lados da moeda. O primeiro lado é que greve é um instrumento legítimo de abertura de negociação. É uma ação extrema que não pode ser banalizada. Mas é um direito político. E a luta pelo salário nacional de professores é das mais legítimas
Aí vem o segundo lado da moeda. Não acredito que a greve seja o instrumento mais adequado para pressão no serviço público. Principalmente na área da educação. É um instrumento criado em outros tempos (a palavra greve vem do nome de uma praça em Paris onde os migrantes que vinham do campo e não conseguiam emprego nas cidades se concentravam, logo se transformando em local de resistência política dos marginalizados). Até ocupação de escolas me parece mais adequado (com tempo determinado de entrada e saída) ou estas aulas públicas, abertas aos cidadãos.
A greve prolongada afeta muitas famílias e obstrui o direito sagrado ao estudo. Muitos pais não têm como fazer para solucionar esta situação em que seus filhos não têm com quem ficar se não há escolas abertas. E esta prática não condiz com a noção de sindicato cidadão, voltado para o interesse público e não apenas para as lutas corporativas.
Há uma outra questão, que me aflige: este embate não teria, de lado a lado, motivações político-eleitorais não confessadas, que deslocam o horizonte de visão para 2012?
O fato é que, bem ou mal, a secretaria estadual de educação deu um passo ao recuar e alterar a base de cálculo de reajuste. Está longe da demanda dos professores. Mas foi um passo. Agora, o SINDUTE precisa dar um passo. É assim que se negocia.
Congresso Paulista de Educação Católica
PROGRAMAÇÃO DE ABERTURA
01/09/2011 - Quinta-feira
14h – Credenciamento
16h – Celebração Eucarística
17h – Abertura (representantes da Educação Estadual e Nacional)
18h – (Palestra) "Cenário sócio-econômico e político brasileiro": Prof. Dr. Rudá Guedes Moisés Salerno Ricci
19h15 – (Palestra) "Cenário da Educação Brasileira": Profª. Drª. Guiomar Namo de Mello
20h30 – Coquetel
Local: Colégio Salesiano Santa Teresinha. Rua Augusto Tolle, 575- (Entrada da Faculdade) - Bairro S. Teresinha - São Paulo/SP
Informações: Tel.: (11) 3825-7126 - Email: anec.sp@anec.org.br
Voltando
Para os que acompanham meu blog, estou retornando para o sudeste. Estou em Gramado (que ninguém é de ferro), mas parto ainda hoje para o sudeste. Participo, no sábado, de um evento no Rio de Janeiro, onde fico até segunda.
terça-feira, 23 de agosto de 2011
Slava
A foto aí ao lado é da cerveja artesanal Slava, feita numa cidade aqui próxima de Porto Alegre. Depois de uma boa discussão sobre projetos e ações sociais dos jesuítas na região meridional do país, achei por bem tomar esta garrafa de 1 litro. Amanhã continuaremos as discussões, tendo como foco as ações educacionais de cunho emancipatório.
Obama tenta driblar pé frio
Se não fosse uma tragédia seria confundida com piada de humor negro.
Além das crises e rebaixamento do grau de confiança do mercado de investimentos, agora os EUA de Obama sofreu com tremor de magnitude 5,9 que atingiu toda costa leste do país.
De qualquer maneira, o mercado de ações está confiante com o possível pacote anti-crise que deverá ser anunciado possivelmente na sexta. O Dow Jones ganhou 2,97% e o termômetro da tecnologia, Nasdaq, obteve alta de 4,29%. Ben Bernanke, presidente do Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos), discursará na sexta-feira.
Ahh! Obama estava jogando golfe quando começou o tremor. Ao menos teve desculpa para não acertar a tacada.
segunda-feira, 22 de agosto de 2011
Uma ilustração da batalha política que ocorre em MG
Um exemplo da guerra surda que ocorre no interior de MG é Teófilo Otoni.
O governador Antonio Anastasia teria convocado Alexandre Mattar, proprietário das farmácias Indiana (rede que vai de Teixeira de Freitas a Ipatinga) e o filiou ao PSDB. Mattar é homem de força entre os empresários e, portanto, fonte de recursos em 2012. Ainda se discute o seu destino político nas eleições municipais. Os moradores daquele município dizem que nunca presenciaram tal interferência do governo estadual por lá.
Na outra ponta, Thales Contão, ligado ao deputado e Presidente do PT estadual, Reginaldo Lopes, faz campanha por ter conseguido levar um IFET para Teófilo Otoni.
Nunca antes em Minas Gerais se viu tanto recurso público cevando uma futura eleição municipal.
Em POA
Fui até a Casa de Cultura Mario Quintana, hoje cedo. O hotel onde ele residia foi transformado neste centro cultural, após reação da população contra a derrubada deste prédio. Também passei na Livraria do Globo, na mesma Rua da Praia (ou dos Andradas). A charmosa livraria se tornou uma minúscula papelaria. Já registrei este fato aqui no blog, que eu não consigo digerir. Mas compensei comprando num dos sebos fantásticos que existe aqui na capital gaúcha o livro "O Rio Grande de Érico Veríssimo", com poucos exemplares, publicado em 2005, com fotos de Leonid Streliaev.
Um frio de 8 graus que combinou com o almoço no Atelier das Massas, na Rua Riachuelo, que fica acima da Rua da Praia.
domingo, 21 de agosto de 2011
Thiago Camargo comenta meu artigo sobre MG
Thiago Camargo:
Concordo com a análise que você faz da política mineira. Mas não sei se concordo com as mudanças que aponta.
Na verdade, me parece que está em curso uma mudança política nacional e que esta mudança permeia as questões que aponta em Minas. Os conflitos estão aumentando e acredito que isto tem sido consequência do aumento da competição política.
Estamos diante - cada vez mais - de um conflito entre duas forças centrais (com semelhanças do acontecia na democracia pre-64, embora com diferenças institucionais profundas). Com o crescimento das máquinas partidárias, os conflitos nacionais acabam alimentando os conflitos locais (e que por sua vez se retroalimentam).
O caso de Minas é interessante.
Todos estão interessados na disputa em Minas por conta da repercussão no projeto político do Aécio Neves. Fortalecer o PT mineiro e induzi-lo ao conflito com o Aécio é parte da estratégia nacional petista. Não vejo outra justificativa para o endurecimento repentino, cujas manifestações principais podem ser sentidas nas greves dos servidores (em especial do Sindute) e na articulação e atuação das forças politicas de oposição.
De forma estratégica, a Presidente Dilma resolveu os problemas internos do PT de Minas deixando claro quem está "mandando". Ou seja, ao colocar Fernando Pimentel como único ministro, decidiu o jogo interno do PT.
Agora as atenções estão voltadas ao Aécio (em nível nacional) e no desenlace da aliança Lacerda-PT e PSDB. O normal - especialmente se sua visão de mudança da política em Minas estiver correta - seria ou o PT ou o PSDB sairem sozinhos da disputa. Lacerda com PSDB ganha. Lacerda com o PT ganha. Porque Lacerda não sai candidato a governador em Minas e deixa um vice do PSDB governando (caso fosse reeleito)? Uma estratégia deste tipo abriria um conflito local, com repercussões na aliança Dilma-Lula.
Ao que parece o jogo político está cada vez mais amarrado, daí a impossibilidade de uma ação ousada como esta. Serve apenas para barganhas, mas no fim e ao cabo, não vejo modificações do "jeito mineiro de fazer política".
Ao pensar em quase todos os políticos mineiros atuais não vejo nenhuma modificação, com exceção do Pimentel (mas este sempre teve um comportamento mais forte e pragmático e que na verdade remonta sua origem - saiu da máquina e não dos movimentos sociais, das igrejas ou dos sindicatos).
Enfim, acho que a chave explicativa está no aumento da competição política e na influência do jogo nacional nos rumos da política em MInas.
Queria explicitar um aspecto importante. De fato, não há no pensamento político mineiro (se é que podemos dizer que isto existe) uma construção a respeito do desenvolvimento. As experiências anteriores que você cita são realmente relevantes e parecem distantes do que ocorre hoje. Não temos um grupo político e/ou técnico que pense os rumos do desenvolvimento de Minas. É já existiram vários.
Os programas para o governo de Minas espelha um pouco isto. Parece que não há "massa critíca".
Estou em Porto Alegre
sábado, 20 de agosto de 2011
O último livro de Fernando Morais
Depois que li a crítica escrita por Ricardo Bonalume Neto, na Folha de ontem, resolvi comprar este livro de Fernando Morais sobre a Rede Vespa, os agentes secretos infiltrados por Cuba em organizações de extrema direita nos EUA.
Não é possível que um livro ruim gere uma resenha tão visceral como a que a Folha publicou.
Aproveitei e comprei o livro de Gonçalo Tavares ("Uma viagem à Índia") e outro, de Antonio Tabucchi ("O tempo envelhece depressa"), como sobremesa para o melancólico filme que acabo de assistir.
A Árvore da Vida
Fui assistir A Árvore da Vida, filme escrito e dirigido por Terrence Malick e estrelado por Brad Pitt, Sean Penn e Jessica Chastain. Desolador. Uma resenha linear diria que se trata da história de uma família do Texas, anos 1950, e a difícil relação do filho mais velho com seu pai e uma educação formal e religiosa.
Mas trata de algo maior. O filme começa com uma leitura religiosa do mundo, do conflito entre a natureza (exigente e autoritária, que busca ser adorada e protegida) e a graça (gratuita, que não se incomoda com a rejeição e está sempre presente). Mundo do desejo e da correção, da norma e da pulsão.
Também é possível uma leitura ainda mais profunda, sobre a intenção divina, a natureza generosa e o conflito humano com a morte que Marx destacava como sendo um conflito original entre ser partícipe da natureza e ser transformador da natureza, procurando fazê-la sua imagem e semelhança (ou imagem de seu desejo, da objetivação de seu pensamento).
O filme é pesado, com muitas imagens dos elementos fundamentais: água, fogo, terra, ar, além da calma e violência.
Parece tudo, menos um filme dos EUA. É o filme mais europeu que os EUA já produziu.
Artigo da semana: mudanças na política mineira
MUDANÇAS NO JEITO MINEIRO DE FAZER POLÍTICA
Por RUDÁ RICCI
1. A tradicional política mineira
A política mineira começa a mudar. Vivo há 20 anos nessas terras, migrante de São Paulo, e já confessei algumas vezes que não conseguia entender o jeito mineiro de fazer política. Demorei quase uma década para compreender sua lógica. Porque por aqui não se faz política à luz do sol. O mundo privado contamina todos discursos e práticas. Por este motivo, nem sempre os atos públicos mais efervescentes revelam o real peso político e dinâmica dos atores sociais. Quem não é mineiro não entende os motivos de quem tem visibilidade, não raro, perder uma eleição. Como explicar os motivos do ex-Ministro Patrus Ananias dirigir o programa mais exitoso e com maior impacto eleitoral do governo Lula e acabar no ostracismo?
Desde que me instalei no interior das montanhas mineiras fui compreendendo que aqui se faz uma política feminina. Muitas feministas me disseram que esta análise pode indicar uma naturalização do comportamento político das mulheres. Mas esta nunca foi minha intenção. O que procurava afirmar é um “tipo ideal”, ao estilo weberiano, um recurso didático para diferenciar práticas que, como o nome sugere, é uma idealização. Weber já alertava para as ressalvas no uso deste recurso: muitas vezes, os tipos ideais se embaralham na prática social. Mas o recurso auxilia a compreender elementos que compõem a lógica política.
O que seria, então, feminino na prática política mineira? Primeiro, entendamos a tradição econômica. Em vários ciclos econômicos mineiros – mas o mais importante parece ter sido o fluxo dos tropeiros – as mulheres ficavam meses administrando sua família. No Vale do Jequitinhonha até hoje se ouve falar das “viúvas de maridos vivos”. O último ciclo que provocou tal diáspora foi o da cana-de-açúcar que atraiu tantos homens para a colheita na região de Ribeirão Preto, a Califórnia Brasileira, durante ao menos seis meses no ano.
Lembremos, ainda, da lógica muito recente do mineiro migrante. A capital mineira possui 114 anos somente e provocou um forte fluxo migratório para toda região metropolitana, transferindo funcionários – e, logo depois, suas famílias – de Ouro Preto. Há registros que até hoje os hábitos alimentares de alguns municípios desta região (caso de Betim) são fortemente marcados pela cultura rural, interiorana. Não por outro motivo, os jornalistas e literatos mineiros mais conhecidos não residiam ou residem em seu Estado de origem. Os mineiros, em especial os homens, sempre se viram enredados em processos migratórios.
Por este motivo, por essas bandas se fala, ao pé do ouvido, de tantos homens que possuem mais de uma família. E, em vários casos, todos se conhecem.
Daí a mulher ter uma presença no mundo privado extremamente destacada. Sempre foi a chefe de fato das famílias. O que gerou uma adaptação ou mutação do machismo brasileiro.
Em terras mineiras, são os homens que comandam a vida pública. Mas as mulheres possuem um forte domínio na vida privada. A violência doméstica permanece como no restante do país. Mas à mulher cabe uma voz ativa em relação ao cotidiano familiar e até mesmo às escolhas de investimento. Esta foi uma das surpresas quando iniciei minhas pesquisas no meio rural mineiro. Sempre que perguntava sobre os projetos de investimentos, o pretenso chefe da família convidava sua esposa para responder. Em todos estratos sociais rurais a situação se repetia. Ouvi da esposa de um ex-Secretário Estadual da Agricultura que ela tinha orgulho de ser fazendeira. Mandava com orgulho. E o marido, ao lado, quieto.
Ora, não há como negar que esta proeminência contribuiu para a formação de muitas gerações de homens que se projetaram na vida pública, espaço interditado pelo peculiar machismo mineiro.
A política mineira é claramente marcada por esta lógica que nasce da dinâmica familiar. A ação predominante é particular, privada, com conversas e acordos reservados e ausência de violência ou agressão direta e pública entre adversários. Ao contrário, o chiste, o espaço para recomposição, a guerra de posição parecem os elementos centrais desta prática.
Assim, um segundo elemento central da política mineira, decorrente desta lógica e tradição é a feudalização territorial e as reservas políticas. A máxima “Minas são muitas” orienta esta lógica. Minas se recorta em lógicas distintas, econômicas, sociais e culturais. Do Cerrado ao oeste do agronegócio, do sul paulista à Zona da Mata fluminense, do norte e nordeste incorporado à dinâmica nordestina, do núcleo siderúrgico do Vale do Aço à região metropolitana de BH. São regiões compartimentadas que criam uma federalização em muitos casos próxima da estrutura espanhola. Obviamente que a política assumiu os mesmos contornos culturais. Aécio Neves aprofundou esta concepção e estruturou seu staff político a partir de eleitos e emissários regionais. Daí a liberdade que tinha para anunciar apoios públicos que não se realizavam de fato nas regiões, dada a orientação contrária para que os seus emissários se mobilizassem nos acordos territoriais. As eleições de Lula e Dilma Rousseff, não por acaso, foram ancoradas, em Minas Gerais, pelos comitês “Lulécio” (Lula e Aécio Neves) e “Dilmasia” (Dilma e Antonio Anastasia), em campanhas semi-públicas casadas para Presidência da República e Governo Estadual.
A prática dos deputados estaduais segue a mesma orientação, independente da agremiação. Em Minas Gerais, mais que em qualquer outro Estado da federação, deputados esquadrinham seu campo de atuação e os prefeitos a ele vinculados. Prefeitos, por sua vez, se articulam com deputados de diversos partidos que tem em sua região um eleitorado cativo. A territorialização cria, assim, uma lógica e hierarquia política peculiares, que transversaliza partidos e supera ideologias.
Um terceiro elemento de tradição da política mineira é a cultura do planejamento. Parece uma contradição com as características anteriores, de tipo pós-moderno. Este, não por acaso, é um tema recorrente nas pesquisas acadêmicas mineiras: a relação entre tradição e modernidades. Trata-se do hibridismo mineiro, a entrada da modernidade que se sobrepõe às tradições da fragmentação mineira. Alguns chegaram a trabalhar estilos dicotômicos que se complementam (paradoxalmente) intitulados como mineiridade (moderno e ousado) e mineirice (tradicional e matreiro).
Na esteira da modernidade é possível destacar, na tradição da política mineira, o papel do Colégio Caraça, constituído a partir dos padres lazaristas. Afonso Pena e Artur Bernardes estudaram neste colégio afastado de tudo, no alto de uma serra. Muitos de seus alunos se elegeram governadores, senadores e deputados, além de altas autoridades eclesiásticas. Ainda no século XIX, o colégio foi visitado por dom Pedro I e Dom Pedro II. Em 1968 o colégio foi incendiado e só foi restaurado em 2002, perdendo a projeção que tinha na formação da elite política mineira. Mas a concepção desenvolvimentista e humanista já estava lá registrada.
Também merece destaque a fase logo após a II Guerra Mundial em que o governo estadual mineiro inaugurou a fase de planejamento induzido pelo Estado. No governo Milton Campos (1946-1950) lançou o modelo desenvolvimentista com o Plano de Recuperação Econômica e Fomento da Produção. O mais conhecido governador que assume esta orientação foi Juscelino Kubitschek, base para, mais tarde, formular o Plano de Metas. O fato é que nas décadas de 1950 e 1960 os governos mineiros procuraram organizar a intervenção e orientação da sua economia, focado no fomento do crescimento industrial acelerado. Nos anos 1970 vieram os Planos Mineiros de Desenvolvimento Econômico e Social (PMDES). O primeiro, de 1970, durante o governo Rondon Pacheco. O segundo, durante a gestão Aureliano Chaves. E, finalmente, o terceiro, implantado pelo governo Francelino Pereira. Tancredo Neves e Newton Cardoso também elaboraram seus PMDES, mas já sem a ênfase numa lógica sistêmica de desenvolvimento e planejamento.
A crise mundial que se irradiou no final dos anos 1970 e impactou os investimentos externos no Brasil foram corroendo este modelo mineiro de intervenção estatal fortemente orientado pelo intervencionismo e no dirigismo.
Contudo, todos estes traços da cultura política mineira se alteraram nos últimos oito anos. Gradativamente, como convém aos mineiros.
2. O que se mantém e o que mudou
Se a fragmentação territorial ainda se mantém, todos os outros traços da tradição da ação política mineira se alteraram na última década. Na verdade, a territorialização foi apropriada pela nova lógica, sofrendo um aggiornamento. Agora se constitui em palcos de ação coordenada de adversários políticos, em especial, petistas e tucanos. O conflito partidário se dá a partir desta tabuleiro esquadrinhado, uma espécie de “batalha naval” em terra firme.
Mas, afinal, o que mudou?
Mudou o código moral da ação política. Um código fundado no costume, na tradição comunitária. O comunitarismo possui um marco rural, fundado na interdependência, no compadrio, nos laços afetivos entre vizinhos. É emoldurada pela identidade pessoal que se espelha na do grupo que conhece. Em outras palavras, as histórias e experiências pessoais se cruzam e se reafirmam em grupos pequenos, em que todos se conhecem e onde os valores e moral são forjados. A identidade individual é a identidade comunitária. Daí os espaços privados se confundirem, a intimidade freqüentemente invadida e avaliada, constituindo o que João do Rio denominou, tempos atrás, de “cultura janeleira”.
Na última década, contudo, com a emergência de Minas Gerais como segundo pólo político do país, disputando muitas vezes com São Paulo, o enfrentamento entre os partidos líderes (PT em termos nacionais e PSDB em termos regionais) masculinizou a prática política.
Os conflitos parecem mais abertos. O estilo Eduardo Azeredo e Pimenta da Veiga foram substituídos pelo estilo Aécio Neves e Danilo de Castro. O estilo Patrus Ananias, por seu turno, foi substituído pelo estilo Fernando Pimentel. A sucessão tucana e petista em Minas Gerais deu lugar a uma agressão pública inédita que aumentou de intensidade com o final do governo Aécio. Isto porque Lula e Aécio Neves mantiveram acordos velados durante os oito anos que governaram o país e o Estado. Em 2011, com o caminho aberto para Aécio Neves se projetar nacionalmente, o acordo tácito se dissolveu. A partir daí, o confronto chegou ao seu ápice.
A Assembléia Legislativa foi, até o momento, o palco prioritário de explicitação do conflito aberto, inaugurado pela atuação do bloco oposicionista Minas Sem Censura (PMDB, PT e PCdoB), sob a liderança do deputado petista Rogério Correia. Veio a resposta com a articulação e assédio dos tucanos em várias regiões de Minas Gerais, atraindo lideranças sociais e vice-prefeitos e, recentemente, criando a ala sindical do partido (uma importante inflexão da história tucana) com a filiação em massa de sindicalistas vinculados à Força Sindical.
Assim, a territorialização política foi recomposta. Agora não existe mais respeito aos “donatários políticos” de cada região. Ao contrário, os territórios definem estratégias de ação entre partidos adversários que se movimentam neste terreno procurando arregimentar lideranças locais – agora com filiação direta e formação de grupos de apoio – e definindo políticas de incentivo ás alianças a partir das políticas públicas. Não há mais o famoso cuidado mineiro, as ações reservadas.
Finalmente, um elemento parece banido da lógica política mineira em função do aumento do conflito aberto entre partidos hegemônicos: o planejamento e orientação ao desenvolvimento a partir do governo federal.
Após a crise aberta de 1977 (com queda de financiamento a grandes projetos) e o quase desmonte de sistemas operacionais governamentais (como o da agricultura mineira) no final dos anos 1980, Minas Gerais foi substituindo a lógica orientadora pela adoção de controles de tipo empresarial na gestão pública. Não se trata apenas de um modelo internacional assimilado e reproduzido. Não se trata de puro mimetismo. Há um elemento de transformação da cultura política regional. A política, enfim, sobrepujou a economia. Em outros termos: a economia foi aparelhada pela política partidária. O que fez do mapa de investimentos um mosaico que se movimenta, há alguns anos, ao sabor dos ventos, das leituras exclusivamente realizadas pelos agentes econômicos a respeito das oportunidades de negócios e procura de situação que baixem seus custos de produção. Minas conforma, assim, um mosaico de investimentos que não se articula numa lógica estadual. O sul mineiro é um excelente “case” que demonstra o impacto desta omissão estatal: de produtor clássico de café e leite, responsável por 30% da produção nacional, se transforma aceleradamente, em função de investimentos chineses e outros, em região industrial e de serviços de alta tecnologia. O impacto sobre a atração de fluxos migratórios e sobre a oferta de serviços não é objeto de nenhum estudo ou ação preventiva.
Não existe coordenação ou leitura global das mudanças econômicas em curso. A agricultura familiar do sul e Zona da Mata se desloca lentamente para as fronteiras do Estado com o centro-oeste. Alguns pesquisadores afirmam que em trinta anos as regiões norte e nordeste do Estado sofrerão com a desertificação de grande parte de seu território.
A disputa partidária aberta e pública acaba por atrair investimentos que, se por um lado, superam problemas sociais, não se vinculam a estudos de impacto e não compõem um mesmo projeto estratégico de desenvolvimento. Governo federal e governo estadual travam duelam para conquistar almas e mentes de eleitores e financiadores regionais das campanhas partidárias.
Assim, o hibridismo entre tradição e modernidade mineiras acabou por dar lugar ao predomínio da ação política sobre a lógica social e econômica. Minas, mais que nunca, são muitas. Mas se antes esta constatação carregava um charme literário, agora resvala perigosamente na formação de uma arquitetura gótica, cujo melhor representante é Frankenstein, o moderno Prometeu .
Por RUDÁ RICCI
1. A tradicional política mineira
A política mineira começa a mudar. Vivo há 20 anos nessas terras, migrante de São Paulo, e já confessei algumas vezes que não conseguia entender o jeito mineiro de fazer política. Demorei quase uma década para compreender sua lógica. Porque por aqui não se faz política à luz do sol. O mundo privado contamina todos discursos e práticas. Por este motivo, nem sempre os atos públicos mais efervescentes revelam o real peso político e dinâmica dos atores sociais. Quem não é mineiro não entende os motivos de quem tem visibilidade, não raro, perder uma eleição. Como explicar os motivos do ex-Ministro Patrus Ananias dirigir o programa mais exitoso e com maior impacto eleitoral do governo Lula e acabar no ostracismo?
Desde que me instalei no interior das montanhas mineiras fui compreendendo que aqui se faz uma política feminina. Muitas feministas me disseram que esta análise pode indicar uma naturalização do comportamento político das mulheres. Mas esta nunca foi minha intenção. O que procurava afirmar é um “tipo ideal”, ao estilo weberiano, um recurso didático para diferenciar práticas que, como o nome sugere, é uma idealização. Weber já alertava para as ressalvas no uso deste recurso: muitas vezes, os tipos ideais se embaralham na prática social. Mas o recurso auxilia a compreender elementos que compõem a lógica política.
O que seria, então, feminino na prática política mineira? Primeiro, entendamos a tradição econômica. Em vários ciclos econômicos mineiros – mas o mais importante parece ter sido o fluxo dos tropeiros – as mulheres ficavam meses administrando sua família. No Vale do Jequitinhonha até hoje se ouve falar das “viúvas de maridos vivos”. O último ciclo que provocou tal diáspora foi o da cana-de-açúcar que atraiu tantos homens para a colheita na região de Ribeirão Preto, a Califórnia Brasileira, durante ao menos seis meses no ano.
Lembremos, ainda, da lógica muito recente do mineiro migrante. A capital mineira possui 114 anos somente e provocou um forte fluxo migratório para toda região metropolitana, transferindo funcionários – e, logo depois, suas famílias – de Ouro Preto. Há registros que até hoje os hábitos alimentares de alguns municípios desta região (caso de Betim) são fortemente marcados pela cultura rural, interiorana. Não por outro motivo, os jornalistas e literatos mineiros mais conhecidos não residiam ou residem em seu Estado de origem. Os mineiros, em especial os homens, sempre se viram enredados em processos migratórios.
Por este motivo, por essas bandas se fala, ao pé do ouvido, de tantos homens que possuem mais de uma família. E, em vários casos, todos se conhecem.
Daí a mulher ter uma presença no mundo privado extremamente destacada. Sempre foi a chefe de fato das famílias. O que gerou uma adaptação ou mutação do machismo brasileiro.
Em terras mineiras, são os homens que comandam a vida pública. Mas as mulheres possuem um forte domínio na vida privada. A violência doméstica permanece como no restante do país. Mas à mulher cabe uma voz ativa em relação ao cotidiano familiar e até mesmo às escolhas de investimento. Esta foi uma das surpresas quando iniciei minhas pesquisas no meio rural mineiro. Sempre que perguntava sobre os projetos de investimentos, o pretenso chefe da família convidava sua esposa para responder. Em todos estratos sociais rurais a situação se repetia. Ouvi da esposa de um ex-Secretário Estadual da Agricultura que ela tinha orgulho de ser fazendeira. Mandava com orgulho. E o marido, ao lado, quieto.
Ora, não há como negar que esta proeminência contribuiu para a formação de muitas gerações de homens que se projetaram na vida pública, espaço interditado pelo peculiar machismo mineiro.
A política mineira é claramente marcada por esta lógica que nasce da dinâmica familiar. A ação predominante é particular, privada, com conversas e acordos reservados e ausência de violência ou agressão direta e pública entre adversários. Ao contrário, o chiste, o espaço para recomposição, a guerra de posição parecem os elementos centrais desta prática.
Assim, um segundo elemento central da política mineira, decorrente desta lógica e tradição é a feudalização territorial e as reservas políticas. A máxima “Minas são muitas” orienta esta lógica. Minas se recorta em lógicas distintas, econômicas, sociais e culturais. Do Cerrado ao oeste do agronegócio, do sul paulista à Zona da Mata fluminense, do norte e nordeste incorporado à dinâmica nordestina, do núcleo siderúrgico do Vale do Aço à região metropolitana de BH. São regiões compartimentadas que criam uma federalização em muitos casos próxima da estrutura espanhola. Obviamente que a política assumiu os mesmos contornos culturais. Aécio Neves aprofundou esta concepção e estruturou seu staff político a partir de eleitos e emissários regionais. Daí a liberdade que tinha para anunciar apoios públicos que não se realizavam de fato nas regiões, dada a orientação contrária para que os seus emissários se mobilizassem nos acordos territoriais. As eleições de Lula e Dilma Rousseff, não por acaso, foram ancoradas, em Minas Gerais, pelos comitês “Lulécio” (Lula e Aécio Neves) e “Dilmasia” (Dilma e Antonio Anastasia), em campanhas semi-públicas casadas para Presidência da República e Governo Estadual.
A prática dos deputados estaduais segue a mesma orientação, independente da agremiação. Em Minas Gerais, mais que em qualquer outro Estado da federação, deputados esquadrinham seu campo de atuação e os prefeitos a ele vinculados. Prefeitos, por sua vez, se articulam com deputados de diversos partidos que tem em sua região um eleitorado cativo. A territorialização cria, assim, uma lógica e hierarquia política peculiares, que transversaliza partidos e supera ideologias.
Um terceiro elemento de tradição da política mineira é a cultura do planejamento. Parece uma contradição com as características anteriores, de tipo pós-moderno. Este, não por acaso, é um tema recorrente nas pesquisas acadêmicas mineiras: a relação entre tradição e modernidades. Trata-se do hibridismo mineiro, a entrada da modernidade que se sobrepõe às tradições da fragmentação mineira. Alguns chegaram a trabalhar estilos dicotômicos que se complementam (paradoxalmente) intitulados como mineiridade (moderno e ousado) e mineirice (tradicional e matreiro).
Na esteira da modernidade é possível destacar, na tradição da política mineira, o papel do Colégio Caraça, constituído a partir dos padres lazaristas. Afonso Pena e Artur Bernardes estudaram neste colégio afastado de tudo, no alto de uma serra. Muitos de seus alunos se elegeram governadores, senadores e deputados, além de altas autoridades eclesiásticas. Ainda no século XIX, o colégio foi visitado por dom Pedro I e Dom Pedro II. Em 1968 o colégio foi incendiado e só foi restaurado em 2002, perdendo a projeção que tinha na formação da elite política mineira. Mas a concepção desenvolvimentista e humanista já estava lá registrada.
Também merece destaque a fase logo após a II Guerra Mundial em que o governo estadual mineiro inaugurou a fase de planejamento induzido pelo Estado. No governo Milton Campos (1946-1950) lançou o modelo desenvolvimentista com o Plano de Recuperação Econômica e Fomento da Produção. O mais conhecido governador que assume esta orientação foi Juscelino Kubitschek, base para, mais tarde, formular o Plano de Metas. O fato é que nas décadas de 1950 e 1960 os governos mineiros procuraram organizar a intervenção e orientação da sua economia, focado no fomento do crescimento industrial acelerado. Nos anos 1970 vieram os Planos Mineiros de Desenvolvimento Econômico e Social (PMDES). O primeiro, de 1970, durante o governo Rondon Pacheco. O segundo, durante a gestão Aureliano Chaves. E, finalmente, o terceiro, implantado pelo governo Francelino Pereira. Tancredo Neves e Newton Cardoso também elaboraram seus PMDES, mas já sem a ênfase numa lógica sistêmica de desenvolvimento e planejamento.
A crise mundial que se irradiou no final dos anos 1970 e impactou os investimentos externos no Brasil foram corroendo este modelo mineiro de intervenção estatal fortemente orientado pelo intervencionismo e no dirigismo.
Contudo, todos estes traços da cultura política mineira se alteraram nos últimos oito anos. Gradativamente, como convém aos mineiros.
2. O que se mantém e o que mudou
Se a fragmentação territorial ainda se mantém, todos os outros traços da tradição da ação política mineira se alteraram na última década. Na verdade, a territorialização foi apropriada pela nova lógica, sofrendo um aggiornamento. Agora se constitui em palcos de ação coordenada de adversários políticos, em especial, petistas e tucanos. O conflito partidário se dá a partir desta tabuleiro esquadrinhado, uma espécie de “batalha naval” em terra firme.
Mas, afinal, o que mudou?
Mudou o código moral da ação política. Um código fundado no costume, na tradição comunitária. O comunitarismo possui um marco rural, fundado na interdependência, no compadrio, nos laços afetivos entre vizinhos. É emoldurada pela identidade pessoal que se espelha na do grupo que conhece. Em outras palavras, as histórias e experiências pessoais se cruzam e se reafirmam em grupos pequenos, em que todos se conhecem e onde os valores e moral são forjados. A identidade individual é a identidade comunitária. Daí os espaços privados se confundirem, a intimidade freqüentemente invadida e avaliada, constituindo o que João do Rio denominou, tempos atrás, de “cultura janeleira”.
Na última década, contudo, com a emergência de Minas Gerais como segundo pólo político do país, disputando muitas vezes com São Paulo, o enfrentamento entre os partidos líderes (PT em termos nacionais e PSDB em termos regionais) masculinizou a prática política.
Os conflitos parecem mais abertos. O estilo Eduardo Azeredo e Pimenta da Veiga foram substituídos pelo estilo Aécio Neves e Danilo de Castro. O estilo Patrus Ananias, por seu turno, foi substituído pelo estilo Fernando Pimentel. A sucessão tucana e petista em Minas Gerais deu lugar a uma agressão pública inédita que aumentou de intensidade com o final do governo Aécio. Isto porque Lula e Aécio Neves mantiveram acordos velados durante os oito anos que governaram o país e o Estado. Em 2011, com o caminho aberto para Aécio Neves se projetar nacionalmente, o acordo tácito se dissolveu. A partir daí, o confronto chegou ao seu ápice.
A Assembléia Legislativa foi, até o momento, o palco prioritário de explicitação do conflito aberto, inaugurado pela atuação do bloco oposicionista Minas Sem Censura (PMDB, PT e PCdoB), sob a liderança do deputado petista Rogério Correia. Veio a resposta com a articulação e assédio dos tucanos em várias regiões de Minas Gerais, atraindo lideranças sociais e vice-prefeitos e, recentemente, criando a ala sindical do partido (uma importante inflexão da história tucana) com a filiação em massa de sindicalistas vinculados à Força Sindical.
Assim, a territorialização política foi recomposta. Agora não existe mais respeito aos “donatários políticos” de cada região. Ao contrário, os territórios definem estratégias de ação entre partidos adversários que se movimentam neste terreno procurando arregimentar lideranças locais – agora com filiação direta e formação de grupos de apoio – e definindo políticas de incentivo ás alianças a partir das políticas públicas. Não há mais o famoso cuidado mineiro, as ações reservadas.
Finalmente, um elemento parece banido da lógica política mineira em função do aumento do conflito aberto entre partidos hegemônicos: o planejamento e orientação ao desenvolvimento a partir do governo federal.
Após a crise aberta de 1977 (com queda de financiamento a grandes projetos) e o quase desmonte de sistemas operacionais governamentais (como o da agricultura mineira) no final dos anos 1980, Minas Gerais foi substituindo a lógica orientadora pela adoção de controles de tipo empresarial na gestão pública. Não se trata apenas de um modelo internacional assimilado e reproduzido. Não se trata de puro mimetismo. Há um elemento de transformação da cultura política regional. A política, enfim, sobrepujou a economia. Em outros termos: a economia foi aparelhada pela política partidária. O que fez do mapa de investimentos um mosaico que se movimenta, há alguns anos, ao sabor dos ventos, das leituras exclusivamente realizadas pelos agentes econômicos a respeito das oportunidades de negócios e procura de situação que baixem seus custos de produção. Minas conforma, assim, um mosaico de investimentos que não se articula numa lógica estadual. O sul mineiro é um excelente “case” que demonstra o impacto desta omissão estatal: de produtor clássico de café e leite, responsável por 30% da produção nacional, se transforma aceleradamente, em função de investimentos chineses e outros, em região industrial e de serviços de alta tecnologia. O impacto sobre a atração de fluxos migratórios e sobre a oferta de serviços não é objeto de nenhum estudo ou ação preventiva.
Não existe coordenação ou leitura global das mudanças econômicas em curso. A agricultura familiar do sul e Zona da Mata se desloca lentamente para as fronteiras do Estado com o centro-oeste. Alguns pesquisadores afirmam que em trinta anos as regiões norte e nordeste do Estado sofrerão com a desertificação de grande parte de seu território.
A disputa partidária aberta e pública acaba por atrair investimentos que, se por um lado, superam problemas sociais, não se vinculam a estudos de impacto e não compõem um mesmo projeto estratégico de desenvolvimento. Governo federal e governo estadual travam duelam para conquistar almas e mentes de eleitores e financiadores regionais das campanhas partidárias.
Assim, o hibridismo entre tradição e modernidade mineiras acabou por dar lugar ao predomínio da ação política sobre a lógica social e econômica. Minas, mais que nunca, são muitas. Mas se antes esta constatação carregava um charme literário, agora resvala perigosamente na formação de uma arquitetura gótica, cujo melhor representante é Frankenstein, o moderno Prometeu .
DIEESE revela que 85% das categoriais conseguiram aumento real neste ano
Trattoria nova em Curitiba
Estou em Curitiba, 14 graus C no início da tarde. Garoa intermitente. Amanhã comentarei sobre a perfomance do governo Richa. Mas agora comentarei sobre a Trattoria Porcini, que tem apenas dois anos de existência. Curitiba se aproxima de São Paulo em relação à qualidade dos restaurantes, em especial, os italianos.
Esta nova trattoria é relativamente pequena, mas sofisticada. Pedi um conchiglioni ai gamberi (com um molho béchamel com gruyère) com um sabor fantástico. A sobremesa, um freddo de capuccini, servido numa xícara (uma chávena, para ser preciso), que tem uma consistência próxima a de um mousse com pouco açúcar, com um toque de chantily e grãos de café torrado. Vale a pena.
Veja AQUI
Uma leitura da política pela arte pós-moderna
Fredric Jameson afirma que não existe pós-modernidade (porque não possui um discurso ético, social), mas apenas pós-modernismo (discurso estético, impressionista).
Daí certo interesse na leitura que Enrique Vila-Matas faz sobre a prática política. Como se perceberá, trata-se de um discurso pós-modernista, que declara o papel da literatura na formulação da visão de mundo:
O que é política, afinal de contas? Se pegarmos a definição no dicionário, se eu não estiver enganado, encontraremos lá: a política é uma arte, uma habilidade, uma ferramenta utilizada para a convivência entre os homens e, principalmente, uma ciência que dá conta dos fenômenos relativos ao Estado. Parece-me evidente que o jogo de forças que constitui um indivíduo, ou um conjunto social, é variável. Os termos envolvidos se alteram, assim como suas dominantes, e com isso quero dizer as prioridades de cada contexto histórico. E, por mais chocante que possa parecer, é preciso saber reconhecer que não estamos no comando da situação. Bem, isso já parece óbvio para muitos de nós há bastante tempo. Contudo, existem aqulees que rsistem a um controle que só pode ser utópico. Pois foi esta, de qualquer maneira, a pretensão moderna: um sujeito senhor e possuidor da natureza, ator de sua própria história e da história do mundo. Acredito que estamos assistindo à superação do egocentrismo que foi o elemento essencial da tradição ocidental em geral, e da modernidade em particular. É, sem dúvida, um contexto muito amplo, e certamente estou sendo simplista com essas afirmações tão breves, mas tenho certeza de que a literatura contribuiu muito para o fortalecimento dessa mutação.
sexta-feira, 19 de agosto de 2011
Site indiano monta mapa da corrupção
Veja este fantástico site indiano que monta o mapa da corrupção (incluindo as pequenas, que são incentivadas a serem confessadas pelos indianos, registrando local, dia, o valor e o departameno que recebeu a propina) no seu país. Veja AQUI
Maestro Ricardo Mutti desabafa sobre sua Itália
Comentário de Roberto Lima:
No último dia 12 de março a Itália festejava os 150 anos de sua criação, ocasião em que a Ópera de Roma apresentou a ópera Nabuco de Verdi, símbolo da unificação do país, que invocava a escravidão dos Judeus na Babilônia, uma obra não só musical mas, também, política à época em que a Itália estava sujeita ao império dos Habsburgos (1840). Sylvio Berlusconi assistia, pessoalmente, à apresentação, que era dirigida pelo maestro Ricardo Mutti. Antes da apresentação o prefeito de Roma, Gianni Alemanno – ex-ministro do governo Berlusconi, discursou, protestando contra os cortes nas verbas da cultura, o que contribuiu para politizar o evento.
Como Mutti declararia ao TIME, houve, já de início, uma incomum ovação, clima que se transformou numa verdadeira «noite de revolução» quando sentiu uma atmosfera de tensão ao se iniciar os acordes do coral « Va pensiero » o famoso hino contra a dominação. « Há situações que não se pode descrever, mas apenas sentir ; o silêncio absoluto do público, na expectativa do hino ; clima que se transforma em fervor aos
primeiros acordes do mesmo. A reação visceral do público quando o côro entoa – ‘Ó minha pátria, tão bela e perdida’ - ».
Ao terminar o hino os aplausos da platéia interrompe a ópera e o público se manifesta com gritos de « bis », « viva Itália », « viva Verdi » . Das galerias são lançados papéis com mensagens políticas.
Não sendo usual dar bis durante uma ópera, e embora Mutti já o tenha feito uma vez em 1986, no teatro À La Scala de Milão, o maestro hesitou pois, como ele depois disse : « não cabia um simples bis; havia de ter um propósito particular ». Dado que o público já havia revelado seu sentimento patriótico fez com que o maestro se voltasse no púlpito e encarasse o público e com ele o próprio Berlusconi.
Fazendo-se silêncio, pronunciou-se da seguinte forma, e reagindo a um grito de « longa vida à Itália » disse:
RICCARDO MUTTI :
« Sim, longa vida à Itália mas ... [aplausos]. Não tenho mais 30 anos e já vivi a minha vida, mas como um italiano que percorreu o mundo, tenho vergonha do que se passa no meu país. Portanto aquieço a vosso pedido de bis para o Va Pensiero. Isto não se deve apenas à alegria patriótica que senti em todos, mas porque nesta noite, enquanto eu dirigia o côro que cantava ‘ Ó meu pais, belo e perdido’, eu pensava
que a continuarmos assim mataremos a cultura sobre a qual se assenta a história da Itália. Neste caso, nós, nossa pátria, será verdadeiramente ‘bela e perdida. [aplausos retumbantes, incluindo os artistas da peça] Reina aqui um ‘clima italiano’ ; eu, Mutti me calei por longos anos. Gostaria agora... nós deveriamos dar sentido à este canto ; como estamos em nossa casa, o teatro da capital e com um côro que cantou
magnificamente e que é magnificamente acompanhado, se for de vosso agrado, proponho que todos se juntem a nós para cantarmos juntos. »
Foi assim que Mutti convidou o público a cantar o Côro dos Escravos.
Pessoas se levantaram. Toda a ópera de Roma se levantou... O coral também se levantou. Foi um momento magnífico na ópera ! Vê-se, também, o pranto dos artistas.
Aquela noite não foi apenas uma apresentação do Nabuco mas, sobretudo, uma declaração do teatro da capital dirigida aos políticos.
No último dia 12 de março a Itália festejava os 150 anos de sua criação, ocasião em que a Ópera de Roma apresentou a ópera Nabuco de Verdi, símbolo da unificação do país, que invocava a escravidão dos Judeus na Babilônia, uma obra não só musical mas, também, política à época em que a Itália estava sujeita ao império dos Habsburgos (1840). Sylvio Berlusconi assistia, pessoalmente, à apresentação, que era dirigida pelo maestro Ricardo Mutti. Antes da apresentação o prefeito de Roma, Gianni Alemanno – ex-ministro do governo Berlusconi, discursou, protestando contra os cortes nas verbas da cultura, o que contribuiu para politizar o evento.
Como Mutti declararia ao TIME, houve, já de início, uma incomum ovação, clima que se transformou numa verdadeira «noite de revolução» quando sentiu uma atmosfera de tensão ao se iniciar os acordes do coral « Va pensiero » o famoso hino contra a dominação. « Há situações que não se pode descrever, mas apenas sentir ; o silêncio absoluto do público, na expectativa do hino ; clima que se transforma em fervor aos
primeiros acordes do mesmo. A reação visceral do público quando o côro entoa – ‘Ó minha pátria, tão bela e perdida’ - ».
Ao terminar o hino os aplausos da platéia interrompe a ópera e o público se manifesta com gritos de « bis », « viva Itália », « viva Verdi » . Das galerias são lançados papéis com mensagens políticas.
Não sendo usual dar bis durante uma ópera, e embora Mutti já o tenha feito uma vez em 1986, no teatro À La Scala de Milão, o maestro hesitou pois, como ele depois disse : « não cabia um simples bis; havia de ter um propósito particular ». Dado que o público já havia revelado seu sentimento patriótico fez com que o maestro se voltasse no púlpito e encarasse o público e com ele o próprio Berlusconi.
Fazendo-se silêncio, pronunciou-se da seguinte forma, e reagindo a um grito de « longa vida à Itália » disse:
RICCARDO MUTTI :
« Sim, longa vida à Itália mas ... [aplausos]. Não tenho mais 30 anos e já vivi a minha vida, mas como um italiano que percorreu o mundo, tenho vergonha do que se passa no meu país. Portanto aquieço a vosso pedido de bis para o Va Pensiero. Isto não se deve apenas à alegria patriótica que senti em todos, mas porque nesta noite, enquanto eu dirigia o côro que cantava ‘ Ó meu pais, belo e perdido’, eu pensava
que a continuarmos assim mataremos a cultura sobre a qual se assenta a história da Itália. Neste caso, nós, nossa pátria, será verdadeiramente ‘bela e perdida. [aplausos retumbantes, incluindo os artistas da peça] Reina aqui um ‘clima italiano’ ; eu, Mutti me calei por longos anos. Gostaria agora... nós deveriamos dar sentido à este canto ; como estamos em nossa casa, o teatro da capital e com um côro que cantou
magnificamente e que é magnificamente acompanhado, se for de vosso agrado, proponho que todos se juntem a nós para cantarmos juntos. »
Foi assim que Mutti convidou o público a cantar o Côro dos Escravos.
Pessoas se levantaram. Toda a ópera de Roma se levantou... O coral também se levantou. Foi um momento magnífico na ópera ! Vê-se, também, o pranto dos artistas.
Aquela noite não foi apenas uma apresentação do Nabuco mas, sobretudo, uma declaração do teatro da capital dirigida aos políticos.
Esboço de um texto sobre a política mineira
A política mineira parece com sinais trocados (em relação à sua tradição).
Sempre acreditei que se tratava da prática política mais feminina do país. No caso, algumas feministas me disseram que naturalizo o que seria prática feminina. Não se trata de naturalizar, mas de procurar compor uma espécie de "tipo ideal" com a mera intenção didática, de suporte para a diferenciação. No mais, todo tipo ideal é idealizado, não?
O fato é que sempre considerei a prática política mineira como rejeição da violência ou até mesmo agressão direta entre oposicionistas. Nada que desconsidere a disputa ou a divergência. Mas há algo de marcado pelo cuidado em não ultrapassar um limite do que poderia denominar de código moral considerado adequado nas relações comunitárias. Este é o mote: Minas mantém relações comunitárias, marcadas pelo afeto, pelo costume, pela relação privada, a conversa ao pé do ouvido.
Contudo, algo vem se alterando nesta prática a partir das gestões Lula e Aécio (ou com a emergência do estilo Fernando Pimentel). Os conflitos parecem mais abertos e mais agressivos. As ações parecem mais e mais públicas, de movimentos largos. Este é o caso do conflito aberto entre a bancada governista (tucana) e a oposição (bloco Minas Sem Censura), ou a vinda de Lula para BH ou a filiação em massa de sindicalistas ao PSDB que ocorrerá amanhã.
Esta mudança de comportamento se articula com a ainda presente ação territorializada, feudalizada, no Estado. As bancadas parlamentares se organizam a partir da reserva de mercado territorial. O governo Aécio, contudo, era mais atento a esta prática. Manteve ao longo de oito anos esta rede de contatos e emissários em cada uma das regiões do Estado. Anastasia parece ter uma presença mais física e até certo ponto formal, ao estilo Dilma Rousseff (embora mais agressiva e direta que a Presidente). Anastasia, enfim, é mais acadêmico que Aécio e o jogo pesado fica por conta de outros atores tucanos.
Nas eleições municipais passadas, o PSDB mineiro se descuidou. Não parece que isto ocorrerá em 2012. Ao contrário, as articulações políticas, em especial no sul do Estado, são mais e mais intensas e diretas. Vice-prefeitos são "convidados" a ingressar no PSDB. A arregimentação de políticos locais é realmente muito agressiva.
Na outra ponta, Minas perde sua tradição também em função da ausência de planejamento estratégico, algo que compunha a tradição política regional. O agronegócio avança para o oeste do Estado, na divisa com a região centro-oeste. O sul mineiro se transforma aceleradamente, substituindo o café-com-leite pelas indústrias de ponta e serviços. As regiões de extração de minérios já atrai a fome dos chineses. Mas tudo ocorre ao sabor dos ventos (e dos investidores). Não há uma ação coordenadora ou mesmo uma reflexão mais profunda por parte do Estado. Algo que perpassou vários governos estaduais e partidos no poder e que ofende a história da política mineira.
Enfim, este esboço sugere um estudo mais apurado sobre as mudanças e permanências das práticas políticas mineiras.
A vez do PSDB mineiro
Depois de Lula, 130 sindicalistas (os tucanos mineiros citam 150). A agenda política de Minas Gerais está lotada e revela a disputa acirrada entre PT e PSDB.
Marcus Pestana, presidente do PSDB-MG afirma que se trata do lançamento do PSDB Sindical no país, dentro do processo de atualização do perfil de seu partido. O lançamento do PSDB Sindical acontecerá às 11 horas, deste sábado (20/08), na sede do partido em Belo Horizonte, com a presença do o governador Antonio Anastasia, do senador Aécio Neves e do presidente nacional do PSDB, deputado Sérgio Guerra.
Há vários aspectos importantes neste ato:
1) O PSDB amplia significativamente sua relação com o movimento sindical. Já havia tentado com a central sindical social-democrata e com a Nova Central. Agora, consegue atrair lideranças da Força Sindical, a segunda maior força sindical do país;
2) Com isto, moderniza o PSDB e aproxima de vez o sistema partidário (PT, PCdoB, PDT, PSTU e outros partidos já têm sua vinculação sindical, mas são todos declaradamente de esquerda). Por outro lado, a partidarização das centrais sindicais se explicita;
3) Não se trata de um esforço apenas mineiro. No final de agosto ou início de setembro haverá um ato de filiação em massa de lideranças políticas e sociais pelo PSDB paulista.
O embate entre petistas e tucanos mineiros vai assumindo contornos dramáticos.
Além da organização sindical, os dois partidos começam a mexer seus peões na região sul do Estado de Minas Gerais. PT já fala em levar projetos do BNDES para lá. Alta patente tucana está quase semanalmente por lá (o governador Anastasia desembarca em Pouso Alegre por esses dias).
Uma briga que pode ajudar a economia mineira, já que avança sobre a pauta social/sindical e de investimentos. Como se vê, a disputa político-partidária também pode ser positiva para a população!
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