Todo dia acordo e me olho no espelho. O que vejo não é o que estava registrado na minha memória. Ainda me vejo na faixa dos 30 aos 40 anos. O que vejo é um cabelo que parece neve e sinais de que já passei dos 50. Todo dia é a mesma coisa.
Acho que é esta a sensação que grande parte dos militantes (principalmente das redes sociais) petistas sentem.
Fico desconcertado com a intolerância para tudo o que os jovens fazem coletivamente e que não segue o script que se encontra nos manuais de conduta juvenil partidária. As manifestações de junho foram caracterizadas como provocação, baderna ou manipulação (existente ou potencial) da direita. Cheguei a interpelar José de Abreu, blogueiro e ator da Globo, tal o rancor que suas postagens no twitter revelavam. Pedi que refletisse sobre os ataques que nós, quando jovens, sofremos por nossas ousadias e comportamentos pouco convencionais. Mas nada amolece a rocha de certeza de grande parte desses militantes virtuais, que se sentem mais fortes neste terreno da comunidade das redes sociais.
Agora, com os rolezinhos, o que se lê nas redes sociais, partindo de petistas declarados? Que se trata de ações descompromissadas, provocações ingênuas e que, invariavelmente este é o argumento final, serão usadas pela direita.
A direita, pelo visto, é uma muleta para esses petistas (não são todos, evidentemente, mas uma boa parcela dos militantes virtuais).
PT bom parece aquele composto por gente grisalha e barriguda. Um espaço em que me encaixaria plenamente, diga-se de passagem. E que me faz lembrar de como os velhos militantes do Partidão nos abordavam, nós, jovens, que fundávamos o PT ou pouco antes disto. Com um copo de whisky na mão, o olhar pouco acolhedor e o ar blasé nos ensinava, do alto de sua poltrona, como não sermos ingênuos, esquerdistas, impetuosos e provocadores da direita sempre alerta. Acho que se tivéssemos seguido seus conselhos não teríamos feito nada do que fizemos e só teríamos a história deles para contar para os netos, já que a nossa seria de extrema previsibilidade monótona.
Os rolezinhos não passam de atos pré-adolescentes. Correr num shopping, aos bandos, significa o que, afinal? Brincadeira. Mas os militantes virtuais e a PM paulista querem alçar esta brincadeira ao estatuto de ação política. Tanto insistem que acabarão logrando seu intento.
Será impressionante a aliança dos rolezinhos com os "meninos" de junho.
Tenho para mim que os adultos grisalhos teriam que ter outra postura em relação aos atos adolescentes de nossos jovens. Ao menos, ouvi-los e, se possível, dialogar. Enfrenta-los, além de atitude defensiva e grosseira (lembra a disputa de espaço no mundo selvagem), só reforçará o espírito de corpo e aumentará a comunidade. Não foi isto, afinal, que ocorreu em junho do ano passado quando a PM bateu sem dó nos jovens militantes do MPL?
Para nós, velhos de esquerda, a responsabilidade é ainda maior. Teríamos que aprender com eles. A esquerda, lembremos, sempre se alimentou da ousadia dos jovens. Se renovou a partir de suas ações.
Não gostar de tudo o que não é espelho é revelador. Da idade. E da esclerose mental.
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