sábado, 18 de janeiro de 2014

Ainda sobre a polêmica ao redor da taxa de desemprego


A Folha publica hoje que 61 milhões de brasileiros acima de 14 anos não trabalham e não procuram emprego. Ao excluir deste contingente quem tem menos de 18 anos e acima de 60 anos, somam-se 29,8 milhões de pessoas (acima dos 7,3 milhões de desempregados registrados pelo IBGE).
Trata-se de uma questão conceitual sobre desemprego. Assim que me formei, em 1984, ingressei na Fundação SEADE como supervisor da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED), convidado por um ex-professor da PUC-SP, Miguel Chaia, uma pessoa extremamente generosa, comprometida e, ainda, complexa (um excelente crítico de arte). Bom, no que tange a esta nota, vale lembrar que naquele período, a PED confrontava com a metodologia e conceito adotado pelo IBGE. O IBGE só registrava o desemprego aberto, ou seja, aquele declarado pelo entrevistado. Já a PED registrava o desemprego oculto, ou seja, aquele em que o entrevistado desejava o emprego, mas havia desistido de procurar porque não tinha mais condições (não tinha como custear a passagem de ônibus para procurar, por exemplo) ou tinha decidido fazer bicos, depois de tanto tempo de procura infrutífera.
Veja os conceitos de desemprego AQUI e AQUI .
Pois bem, não dá para fazer ilações sobre o que ocorre com este contingente de 22 milhões que a Folha considera desempregados e o IBGE não. Não basta afirmar que é desemprego oculto simplesmente porque fazem parte da PEA e não estão empregados. Pode ser o fenômeno do Nem-Nem (jovens que não trabalham e não estudam, termo empregado originalmente na Espanha, para se ter uma ideia de um fenômeno internacional). A matéria da Folha (elaborada pelo competente Gustavo Patu) informa que se trata de uma nova metodologia adotada pelo IBGE, mas não se aprofunda nesta metodologia (ver AQUI ). Enfim, não temos como comprovar tese alguma, como acredito que a matéria pode induzir. Mas é uma importante sinalização e uma inovação metodológica no IBGE (sempre conservador em relação às suas metodologias tradicionais). O debate sobre o tema precisa se aprofundar, sob pena de partidarizarmos (no pêndulo de argumentos eleitoreiros, tanto do governo, quanto da oposição) e não pensarmos a situação real de milhões de brasileiros.

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