quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Artigo sobre Dilma Rousseff


Dilma Rousseff: O que será que será?
Rogério Leibovitz é economista, formado na Unicamp

Por problemas burocráticos não votei nas últimas eleições. Seria minha estréia como não- eleitor do PT, desde 1982. A bem da verdade, nas duas últimas eleições já era um petista desconfiado, sem entusiasmo nenhum, afinal, algo de muuuito suspeito estava acontecendo com nosso partido que, me lembro, fazia as campanhas financiado pela venda de botons e camisetas e pelas quermesses fora de época. Quentão pipoca e cerveja e, de repente, virou uma potencia eleitoral. Algo de muito suspeito aconteceu nessa transição. Lá pelas tantas, o partido já rico, leio a transcrição na Folha de São Paulo de uma entrevista concedida por Marco Aurélio Garcia a um jornal de esquerda, espanhol se não me engano ( ainda existe esse tipo de imprensa na Europa), onde ele também dizia estranhar o rápido crescimento da estrutura partidária, o enriquecimento do partido, e citava como exemplo uma compra de 5 mil micro computadores (!!!), numa tacada, para uso nas sedes e diretórios em todo o Brasil. Ah sim!! Agora sim, me lembro quando foi. Claro. Foi na época do salve-se sem puder do mensalão. Nos primeiros dias após a eclosão do escândalo ninguém sabia ao certo o tamanho e a extensão da confusão que estava se armando e, como é comum nessa situação, pra tirar o seu da reta, membros do partido tentavam dois movimentos desesperados e simultâneos. O primeiro, de dizer que não era todo o partido que estava envolvido nas maracutaias e, depois, de dizer que ele, obviamente, fazia parte da banda boa, pura e casta que nada tinha a ver com os erros dos “companheiros”, futuros abilolados “Ex companheiros” Era o que tentava naquele momento o eterno assessor para assuntos internacionais de Lula. Triste. Enfim, eram os estertores daquele que durante anos foi para mim e tantos outros crentes ingênuos, o partido da redenção nacional, o Partido dos Trabalhadores. Como nunca fui filiado e tampouco um militante de primeira hora, apenas um simpatizante convicto, sofri menos com a separação. Fico imaginando como deve ter sido difícil, por exemplo, para o coitado do Hélio Bicudo. De qualquer forma, honrou sua biografia e saiu do partido. Enfim, foi muito triste e vergonhoso constatar a queda moral de nossos mentores de anos. Era a típica sensação de marido traído, o último a saber.
Um amigo tucano com quem durante anos briguei discutindo política, aproveitou o cachorro morto pra não chutar. Tentou até me consolar sugerindo que persistisse, que perseverasse, como diriam os companheiros evangélicos, na minha fé, até então inabalável. Que isso era coisa da política e que o PT não era pior por causa disso. Irônico. Triunfante. E eu lá, com cara de babaca. Insisti em que estava decidido a nunca mais votar em qualquer candidato petista e assim faria por um motivo simples: o que me levou a “ser petista” foram motivações de ordem ideológica e por idealismo.
Nunca me beneficiei de qualquer favor partidário, paguei por cada boton e camiseta e nunca busquei fazer avaliações de ordem “pragmática” na escolha de minha opção política. Entendia ser mais útil minha postura de cidadão comum com minha visão ingênua (?) e utópica da política, para contribuir mais para a depuração do quadro político do país, do que qualquer pretensa tentativa de avaliação objetiva e matemática, técnica, que indicasse, entre concessões e coalizões, a combinação ótima entre picaretas e políticos sérios à permitir que avançássemos mais rapidamente na direção certa. Aliás, se considerarmos que sem reforma política teremos que continuar convivendo com hordas de pilantras de todos os tipos e cores rodeando o Palácio do Planalto, quem se arrisca a me dizer qual a quantidade ótima de pilantras e de que tipo, o governo Dilma deve abrigar para otimizar seu desempenho?
Enfim, não sou capaz de ser pragmático em política. Nem tenho estômago pra isso.
Feito esse longo prólogo, que serve para apresentar o autor e seu diletantismo em relação ao tema, arrisco, como tem feito metade da população brasileira, pelo menos, nos últimos dias, a dizer o que acho que pode acontecer com o governo Dilma. Esse tipo de exercício de futurologia é interessante pra depois a gente reler e ver como nos enganamos. Mas como chutar não custa nada...
Antes, pouco antes mesmo da eleição, pra você ver como minha convicção é fraca, achava que estávamos possivelmente a beira de um desastre com a eleição da companheira Dilma. Meu raciocínio simplista considerava que a inexperiência política da ex-ministra, associada ao seu temperamento, digamos, pouco afável, iria fazer o pudim azedar na primeira crise política, possivelmente já na partilha ministerial. Teríamos então o pior dos mundos com uma presidenta inexperiente refém do PMDB, mais fisiológico do que nunca, com o sinistro Michel Temer na vice presidência capitaneando a chantagem. Passadas as primeiras duas semanas, grata surpresa.
Dilma parece ter estabelecido uma margem perfeita de inflexibilidade. É, vai ser dureza para o PMDB. Dilma parece ter começado bem. Em um segundo movimento, talvez daqui alguns meses seria interessante, coerentemente com seu discurso de posse e, se seu bom desempenho perdurar, fazer mesmo um gesto de aproximação com a oposição, que deverá nessa altura do campeonato estar mais derrotada do que agora, se isso é possível. Seria o momento de jogar mais água na fervura peemedebista promovendo uma aproximação, ainda que meio virtual com setores do PSDB. Delírio meu? Não sei. Do PSDB pode se esperar tudo. Se a manobra funcionar é céu de brigadeiro durante um bom tempo. Tudo bem, voltou o utópico ingênuo. Mas não seria mal baixar a bola do PMDB e dar um tiro de misericórdia no DEM. É certo que esses políticos de direita não vão abandonar a profissão assim, mas político sem partido e como o traficantes sem morro.
De resto, deve ser mais do mesmo. Nunca poderíamos imaginar na Faculdade de Economia da Unicamp, nos anos 80, que a solução viria de um hibrido de políticas liberais e keynesianismo. A composição da fórmula pode mudar. Mas por enquanto é isso.
Nessa hora tenho que reconhecer que o ex presidente Lula arbitrou de forma perfeita a convivência de desenvolvimentistas x banco central ao longo, principalmente, do seu segundo mandato. Mas, para não perder o costume, uma breve ressalva. O nosso festejado ex presidente do Banco Central, herói do efeito marolinha, a bem da verdade, atirou no que viu e acertou o que não viu. Explico: a política de juros altíssimos, muito questionada até então, obviamente não previa a possibilidade de uma crise sistêmica como a que ocorreu. Ninguém previa, sequer imaginava, o que estava por vir. O que significa dizer que o Brasil e com suas reservas internacionais no teto, na verdade, de certo modo, deu sorte. Até o surgimento da crise, para muitos analistas a política de juros elevados era excessiva e atrapalhou durante um bom tempo um crescimento econômico maior e melhor. Mas Meirelles e Lula, que não são bobos, não iam deixar de surfar nessa marolinha. “O Brasil estava preparado”. É....tá certo....
Por fim, registrar que na realidade os sobressaltos e as dificuldades na condução da política econômica hoje em dia tendem a não prosperar porque, de certa forma,criou-se um fórum amplo e permanente de discussão sobre o encaminhamento das medidas de ajuste e existe um razoável consenso com relação as diretrizes básicas dessa política. O que significa dizer que não existe rompimento a vista e que as correções de rumos se darão. A saber, controle da inflação, alguma contenção no gasto público, e utilização de ferramentas que garantam uma melhora da situação do cambio enquanto não se pode retomar uma política mais consistente de redução da tx de juros. Não acreditar que vai ser assim é torcer contra. O que acontece, aqui e ali. Eu, apesar dos pesares, obviamente torço a favor.
Sucesso, companheira Dilma.

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