sexta-feira, 18 de junho de 2010

Como se deve fazer política no interior do país


O jornal Estado de Minas publicou matéria sobre o que denominou "O Moisés do Sertão". Reproduzo, abaixo, o artigo (escrito pela jornalista Bertha Maakaroun) por achar que retrata a nova política no meio rural´(com foto e tudo). Achei um primor:

Ex-presidente da Emater, pré-candidato à Câmara dos Deputados, leva água para as regiões secas de Minas e espera conseguir votos. Seus principais adversários não estão nada satisfeitos

Bertha Maakaroun

A corrida eleitoral está só começando, mas nenhum outro pré-candidato à Câmara dos Deputados tem causado tanta polêmica com sua movimentação pelo interior mineiro do que o engenheiro agrônomo José da Silva Soares (PDT), que presidiu a Emater-MG por sete anos. À boca pequena, é chamado de “Moisés do semi-árido”. O sertão não virou mar, mas a água chegou lá, em 188 municípios do Norte, Jequitinhonha e Mucuri, onde as comunidades escondidas em rincões esquecidos recebiam vez e outra insumos para o plantio, mas não tinham o que beber. Em vez do cajado do personagem bíblico, canos, tubulões e caixas d’água. Em vez das tábuas, os novos mandamentos: softwares para registrar os apoios amealhados e as 43 mil famílias beneficiadas. Para a conversão do “milagre” em votos, Zé Silva, como o tratam os funcionários da empresa, está a um passo.
Servidor de carreira, Zé Silva prega: “A Emater demorou 55 anos para descobrir que sem água para beber não adianta ensinar a plantar”. É o discurso daquele que, ao longo de sua gestão, também multiplicou de 100 para 1.660 os técnicos de campo.
Para alguns aliados políticos, Zé Silva é o técnico competente que executou um trabalho inovador no período em que presidiu a Emater. Para os adversários, a emenda: ele é o técnico competente, que também transformou a Emater numa máquina de votos, cuja colheita se anuncia nas urnas, com a apuração da eleição para a Câmara dos Deputados. “Ele usou a empresa e a sua estrutura para fazer política pessoal, pedindo voto para deputado federal na região Norte, no Jequitinhonha e no Mucuri”, afirma o deputado federal Humberto Souto (PPS), que tem base eleitoral no Norte de Minas. “Distribuiu canos, caixas d’água, tudo aquilo que a Emater poderia fazer dentro de um projeto estratégico, foi realizado sem critério, com o único propósito de beneficiá-lo. Na região isso é notório”, acrescenta Souto.
Desfiliado do PSDB em agosto passado para integrar-se ao PDT, o projeto político de chegar à Câmara dos Deputados é, segundo Zé Silva, uma construção, que garante, se sustenta no sonho dos 700 mil agricultores familiares de Minas, dos quais, 473 mil atendidos pela Emater. “Não tenho prefeitos nem vereadores. O meu trabalho é de militância, está na relação direta com as organizações e os agricultores”, sustenta. Daí a elevar a voz aos agricultores familiares de todo o país, um outro pulo. Depois de acumular na presidência da Emater três mandatos consecutivos na presidência da Associação Brasileira das Entidades Estaduais de Assistência Técnica e Extensão Rural (Asbraer),Zé Silva correu os estados brasileiros pregando o movimento nacional de reconstrução dos órgãos estaduais de fomento à extensão rural. “Criamos uma frente parlamentar em 2007 e conseguimos aprovar a Lei da Agricultura Familiar e a Lei Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural, sancionada por Lula em janeiro”, afirma Zé Silva.
“É na arena política que se faz a transformação e que o agricultor familiar será ouvido”, justifica Zé Silva a sua aspiração por um mandato popular, sempre com a fala mansa e o forte sotaque do pontal do Triângulo Mineiro. Mas também é na arena política onde se processam os laços de sangue, surgem as grandes oportunidades da vida e se tramam as traições. O maior patrocinador da carreira de Zé Silva, o deputado federal e presidente do PSDB regional, Nárcio Rodrigues, não gostou do desencadeamento da história, que se iniciou há mais de 30 anos, no Triângulo, quando o menino Zé chegado da “roça”, passou a distribuir o seu Jornal do Campo no meio rural. De braço direito, cabo eleitoral e aliado, Zé Silva passa agora a disputar votos na própria base de Nárcio Rodrigues, já que ambos concorrem a uma cadeira na Câmara dos Deputados.
“Zé Silva é técnico eficiente. Não foi outro motivo que me levou a patrocinar candidatura dele para a presidência da Emater. Mas não esperava que fosse partir para o processo eleitoral sem levar em consideração o jogo do grupo”, critica Nárcio Rodrigues. De acordo com o parlamentar tucano, o grupo político que deu sustentação a Zé Silva se surpreendeu com a sua decisão de deixar o PSDB e filiar-se ao PDT para concorrer à Câmara dos Deputados, sem sequer uma conversa prévia. “Você patrocina alguém, abre um espaço técnico para dar visibilidade ao grupo, mostrando que tem quadros para governar e a pessoa usa isso em favor de seu próprio projeto pessoal e se volta contra você”, considera Nárcio Rodrigues. “Deixo o tempo a julgar. Há uma ruptura política e uma decepção pessoal inédita, inimaginável”, afirma o deputado tucano que agora, trata de avisar aos aliados no Triângulo Mineiro, que o ex-amigo tornou-se um vírus instalado em sua base eleitoral. “Nárcio deu musculatura e força para o Zé Silva e agora ele a usa contra o próprio Nárcio”, avalia o deputado estadual Zé Maia.

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