segunda-feira, 3 de maio de 2010

Paulo Freire


Paulo Régis Neves Freire faleceu no dia 2 de maio de 1997. Eu pensei em colocar uma nota no blog, ontem, mas acabei esquecendo, após assistir Alice, no cinema.
Paulo era uma pessoa generosa e adorável. Eu o conheci quando entrei no curso de direito, na PUC-SP. Matava aula e corria para o quarto andar, o andar do pós-graduação. Tinha uma constelação de intelectuais dando aula: Florestan Fernandes, Décio Pignatari, Barelli, Paul Singer, Octávio Ianni e Paulo Freire. Eu sentava no fundo da sala e assistia. Um dia, Paulo Freire me disse: "pelo jeito, você é aluno da graduação (tinham raspado meus cabelos). Mas se quer assistir minhas aulas, vou tratá-lo como aluno do pós. Terás que ler todos os livros e fazer todos os trabalhos". Não me lembro bem se cumpri com o acordo, mas logo fui convidado para assistir seus famosos seminários aos sábados, acho que na sala 333, semi-auditório. Era gente saindo pelo ladrão. Lembro de Paulo lendo Dialética do Concreto, de Karel Kosic, que ele adorava. A cada sábado, uma ou duas páginas do livro, que me deixava pensando se ainda estaria vivo quando chegássemos ao capítulo final. Paulo parava, lia as entrelinhas, relatava fatos, ilustrava, comentava, criticava, dava vida ao texto. Um dia, eu disse que aprendi a ler com ele. Nem sei se ele entendeu. Não tinha como não se engajar conhecendo e sendo amigo dele. Ele gostava de contar causos, como o das mãos dadas com outros professores na África (ele dizia que ficava pensando o que os conterrâneos pensariam se vissem uma foto dele de mãos dadas com outro marmanjo). Lembro de algumas conversas na casa dele, entrecortadas por telefonemas, entrevistas para uma jornalista da Finlândia (o país era tão exótico para mim, naquela quadra da minha vida, que não me esqueci mais desta entrevista), dos editores, dos contatos políticos. Quando fui do governo Erundina, ficava feliz só de saber que tinha Paulo como um dos secretários daquele governo, mesmo que não tivesse mais tempo para conversar com ele.
Tudo que falava era, ao mesmo tempo, poético, ganhando um peso de sabedoria, já que falava pausadamente, pensando, degustando cada palavra. Era uma pessoa ímpar, embora imagino que não fosse lembrado por ser assim. Acho que queria ser lembrado pelo afeto e não pela genialidade.

2 comentários:

Valéria Borborema disse...

Sempre achei que Paulo Freire merecia mais reconhecimento. Há países que o idolatram, enquanto que no Brasil... Certa vez, li numa reportagem da IstoÉ que o ciúme acadêmico não deixa a memória de Freire ser reverenciada como merece e seu ensinamento, por conseguinte, mais conhecido.

Unknown disse...

Sou fã de Paulo Freire e suas idéias revolucionárias a cerca da educação.
Se ele fosse vivo concerteza gostaria de ter o privilégio de um dia conversar com ele, ou somente escutá-lo.