quinta-feira, 6 de maio de 2010

Mais uma tentativa de explicar o jeito mineiro de fazer política


Por partes:
1) Mineiro é desconfiado? Acho que é lenda. Com quase duas décadas por estas bandas, acho que há duas características principais, na política: o personalismo e o estilo rural-comunitário;
2) Minha tese é que a política mineira é a mais feminina do país, marcada pelo poder privado. Mineiro não gosta do que é público. Ouvi, uma vez, um padre dizer que mineiro gosta de denúncia mas não de quem denuncia;
3) Esta marca vem da ausência dos homens na administração do lar, em virtude do nomadismo dos ciclos econômicos, a começar pelos tropeiros. As mulheres assumiram papel preponderante nas decisões locais e são muito fortes na condução das famílias. Daí (em função dos homens nômades) que há tantas duplas e triplas famílias dentre os homens do interior, muitas vezes toleradas pelas mulheres. E daí a expressão, no Vale do Jequitinhonha: "viúva de marido vivo". Daí Xica da Silva, Dona Beja e tantas outras. Elas construíram a lógica da administração doméstica e marcaram uma cultura local-regional, tão profunda na política mineira. Por aqui, nada de embate e confronto direto e agressivo como os paulistas gostam;
4) Eu nunca consegui entender totalmente como um candidato estadual ganha eleição por estas bandas. Eles não aparecem. Os que aparecem muito acabam perdendo. Veja o caso do Hélio Costa: de onde vem esta liderança nas pesquisas? Eu não tenho a menor idéia. Ele está ausente em quase tudo que é público, não apresentou nenhum projeto relevante, mas anda pelas estradas de terra (o que conta por aqui);
5) O que o pessoal do PMDB mineiro diz é que ele sempre chegou muito perto de se eleger. O que faltava era justamente uma aliança para valer com PSDB ou PT. Veremos se isto é fato;
6) No mais, o que conta por aqui é aecismo-lulismo. O resto é balela. Partido é vertigem. E Aécio, não tenho dúvidas, vai cristianizar Serra. Porque ele não vai abrir o Estado para Serra ser a figura mais importante da República. Minas é do Aécio. Ele já fez isto antes. Com Alckmin (a imprensa tem memória curta) chegou a fazer um grande encontro com prefeitos mineiros. E, por baixo do pano, liberou e apoiou os lulécios. Tenho relatos de prefeitos lulécios que se reuniram com Aécio na sede do governo, traçando planos. Os tucanos não mineiros desejam ardentemente que isto não ocorra e até a Folha entrou neste embalo com a coluna do Fernando Barros. Trata-se de uma ilação de quem não entende nada de mineiro. O lulismo por aqui é Fernando Pimentel;
7) Acho que Patrus (e sua geração PT anos 80) morreu neste final de semana. Ele nunca disputou o PT (nem ele, nem Nilmário Miranda, nem Luis Dulci, nem André Quintão, todos medalhões deste bloco), enquanto Pimentel fez todo jogo de praxe (filiou até poste, financiou campanhas de prefeitos do interior em 2008 etc). O PT-lulista está como peixe no aquário em relação ao tradicional sistema partidária tupiniquim. Já não é outsider. E, enquanto o PSDB é o guardião deste sistema absolutamente distante das ruas), o PT caminha para dar as mãos e sair por aí, sem lenço nem documento, convidando, de passagem, o PMDB. Aposto todas minhas fichas que a aliança em curso (coisa de poucos anos) é o fechamento completo do sistema partidário PT/lulista-PSDB-PMDB. Minha dúvida é se os tucanos paulistas serão alijados, terão menos força ou se serão peça fundamental desta trama. Se forem peça fundamental, demorará mais tempo para ocorrer a aliança (até a geração FHC-Serra ser substituída). Se tiverem menos peso (o que pode ocorrer com uma eventual derrota de Serra à Presidência), sobe a geração mais afeita à concertações políticas, com liderança de Aécio e tucanos cearenses;
8) Portanto, cá em Minas, Hélio Costa é nada como Anastasia o é. O que conta é a vontade de Lula-Pimentel e Aécio. O resto é papo furado. Em outras palavras, a questão é se Aécio joga suas fichas em Anastasia ou se resolve fazer corpo mole, procurando avaliar o cenário até meados de setembro. O que posso garantir é que mesmo cristianizado (o que não é tão certo assim, neste momento) Anastasia não estará fora do projeto vitorioso. Anastasia é a Dilma de Minas;
9) O que os analistas com pouca experiência no mundo político concreto ou não mineiros não entendem é que partido não conta nada em MG. São agrupamentos políticos ao redor de líderes que se aproximam e conversam com frequência. Os "militontos" ficam brigando entre si e os líderes mineiros acertam tudo nos bastidores. Há uma ética nas disputas por aqui - como em duelos do século XIX -, um código não escrito, difícil de entender. É uma arte mineira. Eu mesmo, só percebo sinais e analiso resultados. Mas o que ocorre de fato, nunca entendi;
10) Termino com esta: se Lula desejar, Hélio Costa se torna governador. Mas precisará convencer Aécio. Ficou claro ou ainda está muito mineiro?

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