domingo, 2 de maio de 2010
A difícil situação de Patrus Ananias
Patrus é considerado, por muitos analistas, o melhor prefeito que BH teve desde a consolidação da hegemonia PT-PSB no governo local. Implantou a pedra livre no abastecimento, a Escola Plural na educação, o orçamento participativo, entre outras inovações. Todas políticas desmontadas e invertidas pela gestão Fernando Pimentel. O que lhe daria uma vantagem sobre Pimentel. Daria, porque a situação é exatamente inversa. O que resulta da ação política nem sempre é lógico. Patrus vive um momento difícil em sua carreira política. Está sendo obrigado a radicalizar o discurso, o que foge de suas características pessoais. Assim como ocorreu com Plínio de Arruda Sampaio. Se Pimentel perder as prévias do PT mineiro que ocorrem neste domingo (que teoricamente escolhe o candidato á sucessão mineira) ainda assim será coordenador da campanha de Dilma Rousseff. Na possibilidade de vitória de Dilma, Pimentel terá destaque no futuro governo federal e Patrus nem será sombra. No caso de vitória de Pimentel nas prévias de hoje, poderá ceder a vaga para Hélio Costa e se candidatar ao Senado. Nesta hipótese, dá xeque mate em Patrus, porque lhe rouba duplamente a legenda, podendo ser senador e ministro.
À Patrus só resta vencer as prévias de hoje. Daí sua radicalização. O que me chama a atenção é que esta é a trajetória de quase todos líderes petistas oriundos da Teologia da Libertação. Tiveram seu apogeu no petismo da década de 1980 e começaram a amargar seu declínio no final dos anos 1990. No governo Lula, surpreendentemente, perderam total espaço. Sobram alguns abnegados que, como Patrus, são obrigados pelas circunstâncias a radicalizar seu discurso e entrar num jogo de tudo ou nada. Um dos problemas dessas lideranças católicas petistas é que raramente jogaram xadrez no interior do PT. Sua virtude, a de serem objetivos e transparentes, revelou-se sua desgraça a partir do lulismo. Eu apostava na projeção de Patrus como ministro do Bolsa Família. Mas o estilo pessoal, correto (por sinal), se chocou com a fome de poder e o estilo agressivo de Pimentel, que entrou no interior de MG apoiando candidatos prefeitos, articulando com quem aparecia pela frente. Pragamatismo X Idealismo.
Lembro, inclusive, de uma nota publicada no Painel da Folha de SPaulo que retrata, indiretamente, este descompasso. Ao sair de Brasília, um passageiro tenta passar pelo detector de metais do aeroporto. Retira relógio, caneta e moedas, mas o apito insiste em acusar algum metal perigoso. Alguns minutos depois, o passageiro se lembra de mais um metal: abre a camisa e revela um crucifixo relativamente grande, como um pingente invisível. O segurança do aeroporto, ao ver o crucifixo, se desculpa e diz: "pode passar, padre". O "padre" era Patrus Ananias.
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5 comentários:
Não lhe parece, professor Rudá, que mesmo ganhando o Patrus ele será - como é que se diz, cristianizado - em nome da coligação pró-Dilma?
Rudá, onde posso encontrar artigos, documentos explicando o que é a Escola Plural? Abração, Luiz H. Mendes
1) Patrus nem precisou ser cristianizado, mesmo porque, o PT está escanteando todos que vieram da Teologia da Libertação;
2) sobre Escola Plural, sugiro o livro de Cláudia Caldeira, "Reinventando a Escola", Editora Annablume, 2002.
Pelo que tenho acompanhado, isso é uma perda. Mas, professor Rudá, não lhe parece contraditória essa situação?
O PT, pelo que parece, pois não dá para apostar se chegaria ou não, apenas conseguiu alcançar o poder quando se abriu às alianças.
É aquela coisa, se continuasse "fechado" - era a tendência - não levava; quando se abriu, teve que recorrer às práticas funestas de negociatas junto aos aliados e pragmatismo político, que tanto criticamos.
Não será essa a "maldição", para qualquer dos grupos que acenderem ao poder central, por sermos um país de dimensões continentais?
Sim, parece uma sina. Mas Lula poderia ter negociado algumas áreas específicas, como cláusulas pétreas. Cito um exemplo: ele poderia ter garantido o sistema de controle e monitoramento social sobre o orçamento público. Parece pouco, mas lhe daria uma folga em relação ao parlamento (e suas emendas), além de alargar a educação cidadã. Poderia, ainda, ter projetado o programa Educação Fiscal (PNEF), que já existe e é coordenado pela ESAF. Enfim, poderia ter inovado politicamente e democratizado o Estado pelas bordas, em áreas que os partidos aliados nem mesmo têm interesse. Mas o fato é que o lulismo e a nova geração de dirigentes petistas não são refratários à gestão participativa. São centralizadores e conservadores politicamente. Diria que são "emergentes no sistema partidário tradicional".
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