sábado, 6 de agosto de 2011

Histórias da Velhice


Estou lendo "Diário da Guerra do Porco", de Adolfo Bioy Casares. Por coincidência, Rodrigo, um dos membros da equipe de filmagem que me acompanhou até Machado neste final de semana, contou várias histórias deliciosas envolvendo seu avô. Uma delas lembrava o livro que estou lendo, embora com um tom inverso ao livro (o livro é melancólico e a história do avô, como verá, tem muito humor).
Conta Rodrigo que um dia desses seu avô chega mais para lá do que para cá (ele gosta de uma ou duas pingas). Estava resfolegando e não conseguia se manter em pé sem grande esforço. Encostou os braços na ponta da mesa, mas as mãos foram cedendo ao peso do seu corpo. Na medida em que falava, os braços avançavam sobre a mesa e empurravam tudo o que topavam pela frente - toalha de mesa, vaso, copo... - como se ele fosse por acabar deitando na mesa. Antes, contudo, falou: "chama a nossa turma". Rodrigo: "que turma?". A resposta foi meio óbvia: "a nossa, uai". E explicou o motivo: "tem um folgado atacando todo mundo na rua, quase na esquina. Ele me atacou. Vamos lá". E saiu pela porta meio cambaleando, meio em marcha resoluta. Rodrigo foi atrás. O avô vários passos à frente. Chegando à esquina percebeu uma muvuca. Muita gente e a polícia. Apertou o passo e ultrapassou o avô. E soube que a história era um pouco diferente do que tinha ouvido minutos antes.
Na verdade, um menino de uns 12 anos estava sentado num banco da parada do ônibus. Como todo adolescente, jogou seus pés para a frente. O avô de Rodrigo, que caminhava com dificuldades para sua casa, topou com o pé do menino. Imagino que deve ter esperado uns segundos para entender que aquele pé tinha ligação com o rosto do garoto. Aí, não teve dúvidas. Tentou fixar o olhar no adolescente e gritou: "moleque safado. Tá querendo me derrubar, né?". O menino nem teve tempo de decifrar a frase e já começou a levar tapas e chutes, alguns chegando a acertar o alvo, outros pegando no banco ou no poste que indicava o número do ônibus. O resto você já sabe.
O fato é que o avô foi chegando e o policial perguntou para o menino se ele queria dar queixa contra a agressão. A resposta foi que não, afinal o homem que havia batido nele, no poste e no banco era idoso. Rodrigo ouviu logo atrás a frase: "como é que é? idooossoooo?"

2 comentários:

Massan-Z disse...

Um clássico dos clássicos.... Sr. Roberto meu avô além de tudo, uma lenda! Parabéns e obrigado..

Rodrigo Porto

Nelio Souto disse...

Muito bom!