sábado, 8 de maio de 2010

Jornalistas de Valor


Vejo o quanto este mundo acelerado de hoje impactou o trabalho dos jornalistas. Tenho um filho jornalista (dos bons) e sei como este ritmo acaba criando uma estrutura mental de hiperativo. Pauta de última hora, pouco tempo para pensar e avaliar o que uma fonte disse, dados complementares de internet (sem tempo para entender se a metodologia de uma pesquisa possibilida comparação com outra). Um caos. Por este motivo, de tempos em tempos vou destacar um ou outro jornalista da grande imprensa que admiro e que posso atestar sua integridade e postura profissional. Hoje, faço um destaque para dois jornalistas do jornal Valor Econômico: a editora de política Maria Cristina Fernandes e o jornalista sedidado em BH, Cesar Felício. Por força de ofício, tenho o prazer de estar em contato com eles com certa regularidade. E são dois "espécimes" exemplares do jornalismo imparcial e adaptado com inteligência e rigor a estes tempos malucos (Tom Peters publicou um livro muito interessante cujo título era justamente "Tempos loucos exigem organizações malucas", editado no Brasil pela Harbra). Eles dialogam, ponderam, o que é raro no jornalismo político. Cada vez mais, nesta área, o jornalista é tentado a se impor. De um lado, em virtude das fontes exclusivas, que o faz difente. Há uma tendência em preservar as fontes, o que acaba levando-o a se partidarizar. Por outro lado, como tem pouco tempo, o contraditório nem sempre é um caminho que leva à resposta rápida. Nem vou citar o caso da pressão dos donos e editores do jornal, parte verdade, parte folclórico (em mesmo, quando fui foca do Jornal da Tarde, recebia alguns eventos para cobrir com um risco de lápis vermelho, código dos diretores para destacar interesse da casa).
Maria Cristina e Cesar vão além do dever de casa. Escutam muito, instigam, mas provocam. Faz o entrevistado pensar, refletir ou até mesmo cair em contradição. Como sociólogo posso atestar que este é a "renda fina" da técnica de entrevistar: fica no limite seguro que não induz, mas não se deixa levar pelo entrevistado, criando um ambiente reflexivo, de respeito mútuo. Não se trata de uma relação comercial, de relação oferta-procura. É um exercício profissional.

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