Imagino que seja de interesse saberem a troca de mensagens que tive com os pais dos meninos de Timóteo (os pais queriam que eles estudassem em casa e foram sentenciados pela justiça da sua cidade, de acordo com o artigo 55 do Estatuto da Criança e Adolescente. Trata-se de um dos temas mais nobres e delicados deste país.
Abaixo, reproduzo a mensagem dos pais endereçada a mim e a minha resposta, logo a seguir:
A MENSAGEM DO PAI, CLEBER NUNES
Caro professor Rudá Ricci,
Sou o pai dos garotos Davi e Jônatas. Réu no processo criminal movido pelo Estado de Minas Gerais documentado pelo JN de ontem. Sinceramente é difícil imaginar que o senhor creia em tudo que disse tanto na postagem inicial quanto nas respostas aos comentários.
Quanto às avaliações às quais os meninos foram submetidos, sugiro que se informe melhor. Se as mesmas provas fossem aplicadas para estabelecer o IDEB ele seria bem próximo de zero. Os testes continham questões abrangendo os 4 anos finais do ensino fundamental sendo 5 questões dissertativas em cada uma das oito provas, incluindo teoria de educação física, passando por história da arte e outras armadilhas. Entendo que deve ter sido procurado pela equipe da Globo na última hora, como nós fomos, e pode não ter tido tempo de pesquisar. Mas o senhor pode fazer isso agora antes de disparar críticas infundadas. Não tente aplicar remendo novo em tecido velho.
O senhor escreveu: “Repense esta sua concepção autoritária, individualista e desagregadora. Seja mais solidário. Pense nos filhos de outros pais. E pense no seu país. O senhor só está pensando em sua família. E ainda fala em educação....”
Saiba que meus filhos não são missionários. Eles precisam estar vivos e com suas faculdades intactas, para realmente serem úteis em vez de peso para a sociedade. Hoje há milhões de jovens dependentes das políticas sociais do governo. E agora, quem paga a conta? Entendo que queira, ou precise defender sua categoria. Utiliza alguns termos como: metalinguagem, porfólio, inteligências múltiplas, transdisciplinaridade. Mas que efeito isso tem tido na prática, além de impressionar os pais em reuniões e florear os projetos pedagógicos. O senhor tem muitos anos de escolaridade a mais que eu, que abandonei a sala de aula no primeiro ano do ensino médio. Mas convenhamos, que competências são tão indispensáveis para manter um sistema educacional que se encontra entre os piores do mundo com resultados cada vez piores? Os dados oficiais do SAEB e Prova Brasil estão disponíveis no site do INEP. É o próprio governo que atesta sua incompetência.
Por favor, à luz do artigo 246 do CP me responda:
1- O que significa a expressão: instrução primária?
2- Se a existência de justa causa descaracteriza o tipo penal, que causas poderiam ser consideradas justas?
3- Ensino obrigatório é o mesmo que freqüência à escola?
4- Os termos ensino e educação são sinônimos?
5- O senhor apóia a atitude do Estado, condenando pais responsáveis que, exercendo seu direito, escolhem um meio que crêem ser mais eficaz para educar seus filhos?
A seu inteiro dispor,
Cleber Nunes
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A MINHA RESPOSTA (RUDÁ)
Prezado Senhor Cleber,
Lamento que tenha entrado de maneira tão desavisada nesta situação. Como pai, imagino que o fez com a melhor das intenções. Mas errou. E errou por desconhecimento de uma discussão imensa que envolve os direitos das crianças e adolescentes e educadores deste país desde os anos 80.
Acredite que eu não apenas escrevi com convicção plena, mas que sou um dos formuladores desta política em nosso país. Sou consultor em todo o país e no exterior para temas como este. Seu erro foi, me perdoe a sinceridade, grave.
Eu tive acesso às avaliações que seus filhos foram submetidos. Mas este é o problema menor (como se nossas avaliações fossem muito bem preparadas!!). O problema é que o senhor desconsiderou todos estudos e pesquisas sobre aprendizagem de crianças e adolescentes desde o século passado: Wallon, Vygotsky, Kohlberg, Piaget, até mesmo Melanie Klein, e tantos outros.
Para piorar, sem intenção (imagino), maculou minha profissão e de tantos outros educadores sérios do país, que pensam o que podemos fazer não apenas pelos seus filhos, mas por todos nossos filhos.
Caso queira discutir critérios de avaliação pedagógica, estou à disposição. Imagino que conheça as diferenças entre avaliações classificatórias e formativas (tema de tantos anos, envolvendo o mundo todo).
Os seus filhos podem não ser missionários, e possivelmente não o serão com esta educação absolutamente segregacionista, mas nós, educadores, somos. Porque queremos o melhor para os filhos que não são nossos.
Como o senhor parece não conhecer os esforços da área educacional em nosso país, simplesmente acredita que o SEU esforço é melhor que o nosso. Quanta arrogância! Posso citar milhares de exemplos bem sucedidos. Vá para Governador Valadares e veja a proposta de reforma educacional e de implantação da escola em tempo integral da rede municipal de ensino. Mas para que citar, senhor Cleber? O senhor já tem o vaticínio pronto, não se abre para o mundo, pensa que seu lar é o próprio mundo acabado e perfeito!
Por acaso sabe o que se faz na Finlândia, o melhor sistema público de educação do mundo? Obviamente que não.
Não só apoio integralmente a posição do juiz como divulgarei e articularei a rede de Centros de Defesa de Direitos da Criança e Adolescente do país para apoiarem nacionalmente esta decisão. Temos que lutar contra o egoísmo, a solução individual para problemas públicos. Esta é nossa função como educadores. Saiba que estamos atentos e faremos o possível para criar um país mais solidário e que pense publicamente. Volto a perguntar: se seu filho fosse atendido por um hospital e não dessem o atendimento que almejava, o senhor operaria seu filho em casa? Qual o motivo para desqualificar a profissão de educador desta maneira? O senhor carrega armas nas ruas e faz justiça com suas própria mãos em função da nossa polícia não gerar segurança?
Entenda: temos que construir um país. Temos que formar líderes e não apenas vestibulandos. O desafio é muito maior para quem pensa a educação.
Mas esta não é sua obrigação como pai. Esta é obrigação dos educadores. Daí pedirmos para não cometer estes erros, não tentar atalhos fáceis.
Coloco-me absolutamente à disposição.
Rudá Ricci
15 comentários:
É isso aí. O senhor sonhou um mundo e vai aplicá-lo a ferro e a fogo. Cita uns doutores que concordam com o senhor e pronto: usurpar a autoridade paterna ganha um verniz de ciência e "avanço". Tudo que o senhor falou com uma insolência incrível para o senhor Cléber vale para o senhor doutor ou pós-doutor em petismo: "Quanta arrogância". "o senhor já tem seu vaticínio (sic) pronto". Quer dizer que um pai ofende os educadores por educar seus filhos em casa, mas um educador não ofende ninguém usurpando autoridade paterna. Não cabe ao estado decidir como conduzo minha vida, isso não é normal, isso não é natural. O uso que o senhor deu à palavra vaticínio me autoriza a dizer que o senhor é analfabeto funcional, pernóstico (é sério, veja o dicionário antes de me xingar). Não vou acusá-lo de desonesto porque não sei se o senhor tem capacidade de apreensão dos próprios atos, sequer consegue perceber as injustiças a que esses pais e esses meninos foram submetidos. Sem mais.
Caro Helder,
1) Uai! Mas não é para discutir educação? Então quando citamos autores não pode? A gente educa a partir do quê? Não posso citar as idéias e pensamentos de outros? Dos clássicos? Que interessante, não?
2) Vaticínio quer dizer profecia, prognóstico. É isto que escrevi e que você colocou em suspeição (com o tal sic).
Vamos fazer o seguinte: o senhor se acalma, pena melhor no que escreve e voltamos a conversar. Neste nível é difícil alguém defender a educação. Convenhamos.
Prezado prof. Rudá. O conteúdo das provas aplicadas seja de menor importância como o senhor se refere. As avaliações foram aplicadas para provar que o trabalho dispendido pelos pais foi errado e que os meninos não possuem capacidade de resolver questões que outros [que estudem nos sistemas educacionais regulares] supostamente teriam. Ou seja, o que os pais ensinaram não os habilitou a resolver problemas que outros são capazes de resolver porque estiveram na sala de aula da rede municipal, estadual ou particular. Aqui, ainda não há uma avaliação sobre o mérito [se é desejável ou não que pais administrem conteúdos escolares em seus lares]. Portanto, sendo as provas aplicadas para construir um argumento para desacreditar o que os pais fizeram, seria muito bom compartilhar as questões de tais avaliações. Afinal, apesar do discurso de princípios em torno da escola pública estar impecável, que tal aplicar a prova ao restante dos alunos e ver como se saem, como os pais processados sugerem? rsrs.
Depois, em que pese a concordância com os princípios gerais de defesa da escola pública, acho que o senhor pinta o quadro muito melhor do que ele é. A escola pública não está nem perto do que o senhor fala. As que se salvam são as federais, pela conjunção favorável de estrutura física, condições de trabalho, salários melhores com perspectivas de carreira e alunos muito bons [por causa da severa seleção por que passam] e acompanhamento familiar. O senhor mesmo poderia dar um argumento irrefutável desses problemas, indicando o nome das escolas onde seus filhos/filhas estudaram. Atenciosamente, Cláudio Souza
Caro professor Ricci,
Em primeiro lugar baixo aqui minhas armas. Me perdoe se demonstrei arrogância. Tenho sido atacado de todos os lados e muitas vezes torna-se inevitável o contra ataque. Minha decisão não foi tirada de qualquer canto. Não tenho a intenção de desqualificar sua profissão. Essa nunca foi minha intenção. Muito pelo contrário professor, quero apenas somar. Minha casa, minha família estão abertos para cooperar e ajudar em vez de segregar. Fico feliz que se disponha a conversar. Quem sabe possamos unir forças? Não sou contra a escola. Muito menos contra sua profissão. Estou simplesmente lutando pelos meus direitos como cidadão. Vivemos em uma sociedade democrática e pluralista. Por falar nisso qual é o seu entendimento de pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas? Esse pluralismo restringe-se às alternativas impostas pelo Estado? Lembro-me da frase atribuída a Henry Ford: “Qualquer cor desde que seja preto.” Porque tanta sede do Estado em relação aos nossos filhos? Eu não acho que os pais devem indiscriminadamente tirar os filhos da escola. A instituição escolar na maioria das vezes é indispensável. Minha luta é apenas pelo direito fundamental de escolha garantido pela nossa constituição. Nunca pensei que esse processo fosse tão longe. Acha justo o que o Estado está fazendo conosco? Submeter dois meninos à pressão de um tribunal. Depois impor sobre eles uma maratona de testes maliciosos, além de uma sabatina por uma psicóloga para ao final sermos condenados como criminosos? Que tipo de exemplo estão dando a esses garotos que eles estão querendo "proteger"? O que teria acontecido se os meninos tivessem falhado nos testes? O senhor realmente apóia a forma como o Estado tem tratado este caso? Acha justo sermos enquadrados como um caso típico de abandono intelectual? O senhor não respondeu minhas perguntas ao final do meu comentário. O senhor cita o Código Penal. Quero que me explique em que consiste o crime do qual fomos condenados. O debate não deve errar o alvo. Se um pai acha que deve enviar seu filho para a escola que envie. Que seja para a Escola Che Guevara ou Escola Karl Marks, Escola gay como a que foi recentemente inaugurada em Campinas, ou Escola Pomba Gira ou o que for. "Aos pais pertence a prioridade do direito de escolher o gênero de educação a dar aos filhos." - artigo 26° da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Gênero de educação não quer dizer necessariamente freqüência à escola. Quanto à sua pergunta em relação ao hospital, quero te informar que se eu tivesse plena convicção de que meu filho corre mais risco em um hospital do que em casa eu não hesitaria em tirá-lo. O remédio não pode ser pior do que a doença. O senhor nega que confinar uma criança 5 horas por dia em uma sala de aula representa riscos à sua condição peculiar de pessoa em desenvolvimento? Se eu tenho uma alternativa melhor e mais saudável porque não utilizar? Porque negar ao meu filho o direito de aprender em liberdade e de socializar em um ambiente fora de uma sala de aula? Se houvesse garantia de que a escola seria algo melhor para os meus filhos, seria lá que eles estariam. O senhor faz idéia de quanto nos custou essa decisão que o senhor chama de “atalho fácil”? Teria sido muito mais barato matriculá-los na escola particular mais cara do país. Voltando ao exemplo do hospital, se os pais tem direito de decidir sobre deixar ou não um filho internado, ainda que isso signifique risco de vida, bastando para isso assinar um termo de responsabilidade, porque não teriam direito de decidir sobre sua educação? O senhor deixaria seu filho em um hospital para se socializar? Para ser solidário com outras crianças. Mesmo que essa fosse sua decisão, acha justo impor isto a outros pais? Bem, acho que já fiz perguntas demais. Estou ansioso para ouvi-lo.
Novamente, agradeço pela oportunidade de discutirmos esse assunto de tamanha importância. Agradeço também ao Sr Helder de Melo, Roderico e Vinícius pelo apoio e sugiro que mudemos o tom do debate.
Cláudio,
As informações que me enviaram atestam que os alunos em questão tiraram entre 60 e 65% da nota total (a linha de corte foi definida como 60). Em outras palavras, teriam passado um pouco acima do limite. O problema é que estes testes são muito ruins do ponto de vista pedagógico. Quase sempre são provas objetivas, cujas respostas já sabemos antecipadamente. Avaliam a memorização de conteúdos. Mas, hoje, uma verdade científica dura, em média, 5 anos. Portanto, este tipo de avaliação tinha sua importância no século passado, mas deve ser relativizada neste século. Outros instrumentos (como prova operatória ou observação e registro) deveriam ser introduzidos.
Eu sou doutor e sempre estudei em escola pública (com exceção da universidade, que foi a PUC-SP). Sempre estudei em escola estadual, no ensino básico. E estudei com pobres, com negros, japoneses, ricos, bons jogadores de futebol, péssimos jogadores de futebol etc. Esta pluralidade e heterogeneidade me ensinaram muito.
Mas não nego a qualidade do ensino. O público e o privado brasileiros são bem ruins. Nas privadas (que estão perdendo alunos em profusão) não há coerência pedagógica entre ensino fundamental 1 e ensino fundamental 2, e muito menos com ensino médio.
A questão é criar uma lógica do "salve-se quem puder". Para piorar, este atalho de se estudar em casa é o pior dos mundos. É um equívoco sem igual na história da educação mundial. Veja a história da educação na Antiguidade, na Idade Média, nos kibutz. A lógica é exatamente a contrária: internato. Não penso algo tão radical, mas privatizar o ensino em casa é uma volta rápida ao mundo das cavernas, ao comunitarismo (pior, ao núcleo familiar como centro do mundo). Esta é a questão. Temos que melhorar os serviços públicos e não achar atalhos equivocados.
Prezado Cleber (1),
Já lhe disse que sei de sua boa intenção. Não acredito que deva ser punido. Mas sua iniciativa não pode servir de exemplo.
Também imagino que não seja intenção desqualificar o trabalho de educadores. Mas tentei demonstrar que, na prática, esta é a consequência de seu ato.
Acredito que o senhor faz uma confusão em relação aos direitos do cidadão. Há, ao menos, um conjunto de quatro direitos do cidadão: o civil (o que o senhor alude, já que é o direito individual), o político (de fazer leis, propor, ser eleito e eleger), o social (direito ao bem estar) e o difuso (meio ambiente, sustentabilidade e direito a governar com o eleito). O problema que aponto é que o senhor ficou somente no primeiro. Uma sociedade que destaca apenas o direito individual não é sociedade. No máximo, uma comunidade. O Brasil vem caminhando rapidamente para o egoísmo e cinismo para com as instituições públicas. Eu me preocupo imensamente com o futuro de nossa democracia. Autores como Boaventura Santos vem destacando a emergência do que denomina "fascismo social", da sociedade civil. Uma pesquisa recente sobre a classe média brasileira (livro de Amaury de Souza e Bolivar Lamounier) revelam que a classe média brasileira não acredita nem mesmo em amigos (menos de 40%), apenas na família (86%). Ocorre que todos estudos mundiais revelam que um país ou região desenvolvem com sustentabilidade com a confiança entre cidadãos que pensam soluções para problemas comuns. O que se denomina Capital Social.
Sua iniciativa acaba com a possibilidade de desenvolvimento do capital social justamente porque abandona o espaço público. Isto é gravíssimo. É o fim, inclusive, do pluralismo, porque o espaço público é simplesmente negado. Se puder, leia o livro de Richard Sennett, O Declínio do Homem Público.
Prezado Cleber (2),
O senhor fala em escola estatal. Ninguém invocou apenas este tipo de escola pública. Nos EUA existem as Charter School. Mais de 2 mil. Por qual motivo o senhor não tentou esta iniciativa de pais?
O senhor cita a Constituição. Cita equivocadamente. A Constituição não lhe dá este direito. Tanto que o Estatuto da Criança e Adolescente, em seu artigo 55, afirma que o seu ato é um delito.
Veja, se alguém tenta se suicidar e se safa da morte, é processado. Por qual motivo? Porque o Estado defende a coletividade. Ele não pode acatar a morte como direito individual ou a humanidade termina. Entende a lógica do Direito?
Entenda, seus filhos não estão sendo submetidos a um tribunal. É o senhor e sua esposa que estão. Por um ato não pensado. Obviamente que teremos que achar uma conciliação. Mas não podemos admitir seu ato em hipótese alguma. Não vejo o motivo deles terem passado por testes. A questão é que vocês descumpriram a lei que diz que os pais não podem deixar de matricular seus filhos numa escola. Há usuários de drogas leves que não concordam com a lei, mas sabem que se as usarem podem ser punidos. O senhor pode discordar da lei, mas não pode infringí-la. Veja, sou absolutamente favorável ao debate sobre esta questão. É assim que se faz um país democrático. Sempre invejei os debates que presenciei nas ruas de Portugal, onde pais debatiam as políticas educacionais. Acredito que o senhor tenha todo direito de discutir possíveis soluções ou até mesmo a pertinência de uma lei. Mas o senhor agiu pelas próprias mãos sem discutir com a sociedade. A reação das instituições foi imediata.
Ao final de sua mensagem, o senhor radicalizou. Não se pode colocar um filho em escola que professe uma política, seja marxista, seja nazista. Está na lei. Também não pode professar uma religião porque vivemos sob a égide de um Estado laico, de uma educação laica. Não temos um Estado Muçulmano.
Finalmente: o atalho que me refiro é o senhor virar as costas para a sociedade e tentar uma trilha sem base técnica, para o sucesso dos seus filhos. Educação não é isto, senhor Cleber. O senhor se aproxima de instrução, mas não de educação. Sei que parece uma tecnalidade, mas estou me esforçando para explicitar seu erro fugindo de termos técnicos.
Volto a afirmar: não tenho dúvidas de sua intenção. Não tenho dúvidas de sua generosidade. Mas há erros técnicos em sua conduta, além de ter cometido um delito.
Entendi que o professor Rudá defende a questão do desafio da construção da civilização, e, caminhando numa perspectiva individualista, estaremos caminhando em direção contrária a esse desafio.
Agora, podemos muito bem regredirmos e colocarmos por terra os avanços conquistados, mas com isso estaremos mais distantes de uma sociedade onde o outro valha alguma coisa.
Mais... Se se chegamos ao ponto de pais quererem educar seus filhos dessa maneira, devido as carências do sistema educacional, esse é um outro problema.
Por que não juntarmos força para cobrarmos mudanças?
Entre outras falácias o senhor introduzindo pontos irrelevantes, se desviando da questão. Ainda estou esperando as respostas das perguntas que fiz.
Quero citar Celso Bandeira de Mello que disse: “Violar um princípio é muito mais grave que transgredir uma norma qualquer. O Delito que o senhor insiste em dizer que cometi se baseia em uma norma claramente inconstitucional. O capítulo III do Código Penal que trata de crimes contra a assistência familiar lista casos de abandono. Ao lado de abandono intelectual o CP dispõe sobre outros tipos. O artigo 245 fala sobre entregar o menor a pessoas inidôneas. O 246 sobre deixar de prover instrução primária e o 247 sobre não permitir que os filhos freqüentem casa de jogos nem convivam com pessoas viciosas ou de má-vida. Pode explicar o que isto significa? Seria possível obedecer uma norma sem desobedecer outra? E quanto ao direito de desobediência civil? O que me diz? Bem, estou acumulando perguntas. Ficarei muito feliz em ouvir as respostas.
Pelo visto, sua paciência expirou. "Falácia, pontos irrelevantes, estou esperando respostas". Termos de quem "espera respostas" evidentemente. Interessante como uma discussão aberta revela a vocação democrática das pessoas.
Sugiro que o senhor discuta, a partir de agora, com a justiça e não mais comigo. Talvez perceba que violou um princípio (o princípio republicano) e a norma. Dois equívocos em uma ação.
É na justiça que o senhor terá que provar que a norma é inconstitucional. E já perdeu em primeira instância. Espero que aprenda. Afinal, se estava tentando ensinar seus filhos em casa, nada melhor que aprender com seus próprios erros.
Fiquemos por aqui. Meu blog não se presta para catarse.
Caro Ruddá!
Venho acompanhando com intenso interesse o desenrolar desta questão.
Sou professor também, mas do ensino fundamental e médio da rede estadual de São Paulo. Dei aulas em mais de duas dezenas de escolas da região de Campinas.
Também estou terminando mestrado na F.E. da Unicamp.
Dessa minha experiência, como professor do estado, ficou uma certeza: nunca permitiria um filho meu estudar no sistema de ensino e nas escolas por que passei.
A dúvida que fica, e queria te perguntar isso, numa boa: Vc é professor, mas há quanto tempo não entra numa sala de aula de uma escola pública, em um bairro de periferia? Óbvio que seus caminhos hoje são outros, talvez tenha feito isso no início de carreira. Mas acredite-me, a escola é outra.
Se tivesse um filho com idade escolar de ensinos fundamental e médio, sem dúvida,encararia o Estado, talvez até reuniria um grupo pequeno de outros jovens e ensinaria eu mesmo.
Diversidade é bom, né. Mas no Brasil Diversidade é Diferença. E em algumas linhas que vc escreveu nesta contenda, vc diz da importância de conviver com pobres, ricos, negros, indios, etc... sei lá, isso me pareceu mais como aquilo que tem no
Rio de Janeiro, de levar turistas estrangeiros pra fazer turismo em favelas...
Vai aí um desafio: Paase pela experiencia de ser professor numa dessas escolas por que passei, anonimamente, dúvido que suas convicções em relação ao Ensino se manterão...
De qq maneira, parabéns por este espaço
Marcelo,
Minha esposa é professora e dirigiu uma escola de ensino fundamental com tempo integral e sistema de ciclos. Ela coordenou pedagogicamente esta escola e é autora de livros didáticos, pela Saraiva. Eu trabalho em reformas de sistemas educacionais públicos há anos e fui elaborador de programas de formação continuada de professores de redes estaduais. Presto consultorias para redes públicas para solucionar problemas como estes que você aponta.
A saída é:
a) dedicação exclusiva do professor em uma única escola. Esta história de professor complementar renda em duas ou três escolas é tudo, menos profissão de educador;
b) escola em tempo integral. Não escola integrada que é um arremedo de escola em tempo integral;
c) mudança curricular, focado na formação para a cidadania, estudando e pesquisando os espaços da cidade em que se vive e produzindo soluções;
d) implantação do Orçamento Participativo Criança e Adolescente, onde os estudantes criam redes de estudo e discussão com todas escolas do município;
e) avaliações múltiplas com conselhos de classe semanais;
f) implantação de enturmações especiais, sendo uma de referência e outras (uma vez por semana) para desenvolver conteúdos específicos em turmas que apresentarem dificuldades (inclusive de comportamento) ao longo do mês. Escola que repete muito é porque não conseguiu intervir na hora certa ou avaliou de maneira equivocada.
Acho, sinceramente, que sua argumentação é falha. Primeiro, tenta criar um argumento de autoridade a partir da sutil desqualificação entre quem analisa e quem trabalha. Se fosse por aí, todos aqueles que não são drogados não teriam como entender um. Quem não roubou ou assassinou não poderia ser juiz. Quem não tem filho não poderia analisar uma família, e assim por diante. Este é o típico raciocínio que desqualifica a crítica e a teoria. A situação é mais grave quando este raciocínio pragmático parte de um professor, revelando descaso com o estudo. Mas o fato é que tenho contato direto com as salas de aula.
Também não entendo seu argumento sobre a diversidade. Principalmente quando diz que é diferença o que é tautológico, uma obviedade desnessária de se dizer. Imagino que você se confundiu e queria dizer desigualdade, que é distinto de diferença. Eu quero um país com diferentes, plural. Caso contrário, e sua escrita resvala nisto, estamos pregando a pureza de raças, como no nazismo.
Nós dois vivemos um mundo com diversidade e desigualdade. E até onde eu percebo, não morremos ou enlouquecemos. Isto chama-se aprendizagem. Esta redoma de super proteção de nossos filhos cria egocêntricos e narcisistas. Somente com a frustração é que nos tornamos adultos maduros, que sabem lidar com a adversidade e a diferença. É óbvio que temos que criar condições de segurança. Listei algumas delas. E nenhuma transforma a escola em zoológico.
Prezado prof. Rudá .
Antes de tudo, permita-me apresentar :meu nome é André, tenho 16 anos,
estudo em uma escola estadual de São Paulo -Capital, cursando o terceiro
ano do Ensino Médio .
Por favor, não leve a mal, mas quando o senhor afirma que é melhor para o
jovem ir até a escola do que ter aulas particulares com seus pais, o
senhor não sabe sobre o que está falando .Eu convivo diariamente com o
falho sistema de ensino estadual do país, em uma das suas principais
cidades .Se meu pai virasse pra mim e me oferecesse aulas em casa, eu
aceitaria sem hesitar .E lhe digo por quê .
Não só os alunos não tem interesse nas aulas, que são em sua grande
maioria monótonas e repetitivas, como também a escola não consegue chamar
a atenção o suficiente desses alunos para que eles tenham interesse no
conhecimento gratuito que a eles é dado.É claro que isso envolve questões
de melhorias técnicas em toda a rede, aumento de salários dos professores
e funcinoários, investimentos pesados em educação e todo o resto que o
senhor já deve estar habituado a ver de perto, pelo seu cargo .Só que além
disso, existe outro fator que compromete pesadamente a imagem da escola
pública no país : os alunos .Me diga, por qual motivo eu sou obrigado a ir
todos os dias em um lugar cheio de funkeiros fracassados que não estão
interessados em porra nenhuma, pra ter pseudo-aulas com professores
depressivos que não conseguem se impôr na sala de aula pela humilhação a
que são submetidos diariamente ?O senhor acha que, fazendo isso, eu
contribuo para que tenhamos um país melhor ?Um futuro bom ?Bobagem .A
escola já não é mais a mesma de antigamente .Depois que a palmatória foi
extinta, seu nível caiu gradativamente .Hoje em dia, o aluno que levanta a
mão em uma sala de aula para expôr sua opinião ante a questão levantada
pelo professor é ridicularizado por seus colegas, apelidado, e ao invés
de se sociabilizar com seus diferentes, acaba por fazer o exato oposto, se
afastando das pessoas por ter um mínimo de sede de interesse em
conhecimento .Dentro de suas casas, os estudantes estão seguros, sob os
cuidados dos pais .Aliás, o senhor poderia citar algum nível de
relacionamento mais apropriado para a relação Mestre - Aprendiz do que a
família ?Se este senhor quer proteger seus filhos das ineqüidades dos
perversos alunos que hoje infestam as escolas com seu vocabulário sujo e
sua malícia, ele não faz isso com intenção de desmerecer ou subjulgar o
papel dos professores, mas com o objetivo de garantir que seus filhos irão
aprender devidamente em um ambiente seguro .
E outra, por que o senhor está sendo tão esquivo com relação às perguntas
do pai desses alunos ?Está recorrendo a um vocabulário muito bonito e
vazio, com discurso que tem fundamentos em uma teoria que não corresponde
à realidade .Quem é o senhor para julgar qual lugar é mais apropriado para
o estudante aprender ?QUem é o senhor para julgar qual é o melhor lugar
para eu aprender ?Eu conheço minha casa .Sei o que tem dentro .Eu conheço
minha escola .O senhor não .Eu posso dizer certamente o que seria melhor
para mim .O senhor não .
Sinto muito, mas definitivamente, o senhor não sabe do que está falando .
Só uma
Caro André,
Infelizmente (ou felizmente) eu sei o que estou falando. Tenho 47 anos e trabalho uma vida toda este tema. Com sua idade, já havia sido chamado no DOPS porque tinha passado um abaixo assinado entre alunos da Escola Estadual Índia Vanuíre, em Tupã-SP, pedindo para alterar o uniforme que usávamos. A diretora achou que um comunista estava fazendo minha cabeça. Imagine! Sempre estudei em escola pública, com exceção da faculdade, a PUC-SP, que ingressei com 17 anos. Com 18 anos comecei a alfabetizar adultos, orientado por Paulo Freire, que tive o prazer de conhecer e me tornar amigo. Foi o maior educador que o país já teve.
Entendo sua angústia. O ensino não é falho apenas em escolas públicas. Conheço as escolas particulares de perto, muitas delas, e são igualmente falhas, embora o marketing diga o contrário. Nas melhores universidades públicas, como a UFMG, os alunos oriundos de escolas públicas são os que apresentam melhor desempenho, para ter uma idéia, embora a maioria que ingresse venha de escola particular. Confuso, não? Ocorre que as escolas particulares desenvolvem técnicas de memorização e as públicas raramente enveredam para esta técnica (da Escola Comportamental, criada no século XIX).
Entendo que você aceitaria um convite de seu pai mas também entenda que é por este motivo que não é adulto: nós, adultos, temos a responsabilidade de explicar que não se pode agir por puro impulso emocional, para solucionar um problema do momento. É minha responsabilidade, como adulto e educador, reforçar que se trata de uma saída egoísta, individualista, desesperada, que não forma uma nação democrática. Que temos que lutar para melhorar todas escolas, dos outros alunos que, como você, querem melhorias. Que há outras soluções possíveis de pais, como a criação de escolas de pais, como acontece, inclusive, nos EUA. A saída individual seria o fim da sociedade, da crença que podemos pensar nos outros, no público acima do privado, como algo que faz da humanidade uma espécie generosa. O motivo de você estar numa escola com funkeiros é o de você aprender que o mundo é feito por diferentes e que quem é educado é tolerante para com isto. Você escreve bem, o que demonstra que aprendeu a norma técnica da escrita. Contudo, a falha em sua formação é exatamente o campo da tolerância ao diferente.
Enfim, aprecio sua mensagem. Mas ela me dá mais argumentos para defender minhas convicções.
É lamentavel meu amigo RUDÁ, que em pleno seculo XXI, ainda hajam pessoas defendendo que as pessoas devam viver como verdadeiras ilhas, e tratam a educação como algo individual e não coletivo, graças a DEUS, que nós temos leis que diciplinam oas desavisados, que pais como este, não se multipliquem, a sociedade parece retroceder no tempo e nos fatos.
Francisco José de Sousa, Ex-Conselheiro Tutelar.Teresina- PI
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