terça-feira, 12 de outubro de 2010

Mauro Paulino continua tentando


Poxa! Fiquei realmente feliz com a participação do diretor geral do Datafolha no Entre Aspas. Ao admitir que o Datafolha errou no primeiro turno, respirei aliviado. Um pouco de humildade entre pesquisadores é sempre salutar. Mas aí, Paulino escreve um artigo dos mais tendenciosos e defensivos na Folha de hoje ("Erros sobre erros", A8). Ele insiste que o voto fundamentalista não foi tão importante para definição do segundo turno. Eta Paulino! Joga uma cortina de fumaça e coloca o leitor nas trevas. Faz marketing. O que penso é que foi sincero num programa que não é visto pela massa e, talvez, por apenas uma diminuta parte dos leitores da Folha. Mas na Folha, defende seu quinhão mercadológico. Pondero o seguinte:
1) Os casos de corrupção afetaram uma fatia pequena do eleitorado brasileiro, em especial, as mulheres indecisas (até aquele momento). Não há nenhum outro registro de pesquisas realizadas naquele momento. O IBOPE já havia realizado pesquisa sobre o tema da corrupção e havia verificado que 75% dos brasileiros não se interessam e não levam a sério este tema. O leitor da Folha leva em consideração. Mas o leitor da Folha, segundo o próprio Datafolha, é majoritariamente tucano e está acima da classe C, classe social da maioria dos eleitores brasileiros;
2) Mulheres, jovens e fundamentalistas religiosos compõem os eleitores que alteraram o voto lentamente ao longo dos últimos dez dias da campanha do primeiro turno. O que Paulino não diz é que mulheres e jovens formam um eleitorado desorganizado, difuso. Jovens se contatam e podem formar opinião via internet. Mas só. Formam o que se denomina na Inglaterra de "pares de idade". Mas ainda formam um eleitorado difuso. Os fundamentalistas não. São muito mais coesos e se falam quase diariamente. Conversar com um evangélico é ouvir uma espécie de pregação ressentida. Os carismáticos católicos são diferentes: sorriem o tempo todo, cantam muito, mas tal energia encobre convicções extremas e um foco no combate. Combatem, em primeiro lugar, a Teologia da Libertação.
Fundamentalista não gosta de diferenças. Por este motivo sua agenda é mais contra algo que a favor. Trata-se de um raciocínio simples ou simplificado, ausente de dúvidas explícitas. Como humanos têm dúvidas e não controlam seu inconsciente, os cantos, gritos e sorriso pregado no rosto geram uma espécie de antídoto contra o sofrimento psicológico. O clima de transe permanente impede, por sua vez, a reflexão mais comedida. E aflora o espírito comunitário, afetivo, que namora o irracionalismo.
Paulino até tenta. Mas poderia ser mais reflexivo em seus artigos. Ajudaria a combater o pensamento único.

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