quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Um manifesto pró-Dilma e pró-Serra

Maurício David (ex-BNDES) recebeu um convite para assinar o manifesto pró-Dilma, encabeçado por Chico Buarque e Leonardo Boff, que será divulgado no próximo dia 18. A resposta de Maurício foi inusitada e um soco no fundamentalismo tosco. Eu não conseguiria assinar qualquer manifesto, mas achei a iniciativa de Maurício algo digno de nota. É um ato de generosidade política, algo que falta nestes dias de exageros e irracionalismos. Vou reproduzir a resposta dele ao convite que recebeu, mesmo não tendo pedido autorização:
Estou pensando em fazer uma coisa inusitada : como me preocupa o clima de ataques recíprocos entre as "torcidas organizadas" da Dilma e do Serra, eu que sou amigo dos dois mas bastante crítico de suas alianças, estou pensando seriamente em assinar um manifesto a favor de ambos. Não, não fiquei louco... Para esclarecer a minha posição : não aceito em absoluto a tese de que "o Brasil vai acabar" caso a Dilma seja eleita, veiculada por muitos setores da campanha do Serra, assim como também não aceito em absoluto a tese recíproca de que "o Brasil vai acabar" se o Serra for eleito, veiculada por setores da campanha da Dilma... Posso dar o meu testemunho pessoal, até por conhecê-los por muitos anos e com eles ter militado também por muitos anos - que ambos representam o que de melhor tem o Brasil em atores da esfera pública. Ainda sonho com a união PT/PSDB em um só e único partido social-democrata, questão que já levantei em uma entrevista à Istoé em 2002 em plena campanha do Ciro, do qual era assessor na ocasião.

2 comentários:

Ligando as avenidas disse...

Caro Rudá,

sei que nosso sistema partidário é uma bagunça, sei que há políticos da pior qualidade sendo eleitos a cada eleição e sei que temos sérios problemas de participação e representação em nossa democracia. Sei ainda que PSDB e PT têm uma origem comum e por vezes são vistos como irmãos gêmeos que deveriam se reconciliar no sentido de uma superação de algumas dessas mazelas da política nacional. Eu não concordo com essa tese, mesma com tais ressalvas. Na minha opinião, PSDB e PT de fato representam o melhor do estoque político partidário do Brasil, mas nem por isso deveriam se transformar na mesma coisa. Tendo a imaginar que uma fusão desses dois partidos significaria antes de tudo uma eliminação das nossas possibilidades de escolha no âmbito da política partidária, que já são bastante parcas – diga-se de passagem. PT e PSDB, no meu entendimento, deveriam significar alternativas para o Brasil e cada vez mais, dentro de uma lógica democrática, esses partidos deveriam se diferenciar - cada um com a sua agenda e suas respectivas propostas para o país. Do contrário, se o que há de melhor na nossa política partidária tornar-se uma só coisa, teremos verdadeiramente o fim da representação partidária em nossa política. Mais uma ressalva para concluir, sei que a representação partidária não é condição suficiente para uma democracia plena. Mas, sinceramente, não consigo enxergar uma democracia avançando sem partidos políticos diferenciados e de qualidade.

Emanuel Marra

ps.: o tema central do tópico não é o que eu levantei nesse post, mas achei esses momento minimante oportuno para colocar a questão de uma eventual aproximação entre PSDB e PT em pauta.

Rudá Ricci disse...

Emanuel,
Como tese, você tem razão: a aproximação de PT e PSDB diminuem as opções. Mas opções ocorrem quando temos diferenças. A disputa eleitoral confunde muito porque emocionam. Mas, se tivermos um pouco de distância, trata-se de duas propostas social-democratas ou social-liberais. A agenda é totalmente coincidente. Ainda mais quando a agenda privatista foi demonizada em 2006 e a agenda fundamentalista foi transformada em pauta fundamental neste ano. PT e PSDB se aprioximam rapidamente. Não sei se terão como se fundir, mas a aproximação é quase natural. Basta ocorrer uma mudança de geração de caciques. E estamos praticamente nesta altura do campeonato.
Finalmente, o sistema partidário brasileiro não tem qualquer inserção concreta em nosso cotidiano. Então, não nos representa.