sábado, 2 de fevereiro de 2008

A queda de Matilde Ribeiro


O caso do uso abusivo do cartão de crédito da ex-ministra da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), Matilde Ribeiro, parece abrir a possibilidade de leitura sobre como alguns militantes da luta por direitos sociais do Brasil necessitam amadurecer sua postura política. Primeiro, pensemos em como os assessores da ex-ministra revelaram um poder quase sobrenatural. Matilde afirmou que passou a usar o cartão aconselhada por assessores a partir de julho de 2006 devido às “dificuldades com deslocamento e hospedagem fora de Brasília”. E que dois assessores diretamente envolvidos no caso foram exonerados. “Este erro não foi cometido exclusivamente por mim, então o tratamento vai ser coletivo”, afirmou aos jornalistas. Durante a semana, a grande imprensa noticiou que Lula aguardava o pedido de demissão da ex-ministra, mas que assessores aconselhavam a "resistência" às pressões do Palácio do Planalto. O que os assessores não percebiam é a postura de tutela sobre um cargo delegado do Presidente da República. Aliás, trata-se de uma postura pouco republicana. Este comportamento de "resistência" sobre algo que não se relaciona com direito à igualdade racial é o que incomoda mais. Tudo passa a ser "resistência" o que banaliza a luta por direitos sagrados. Parte do movimento negro brasileiro entra nesta confusão discursiva e necessita amadurecer. O erro da ex-ministra foi grosseiro. No ano passado, Matilde gastou R$ 171 mil no cartão durante viagens de trabalho, com diárias, aluguel de carros, hospedagem, compra em loja livre de taxas de importação em aeroporto. O maior gasto durante as viagens foi para pagar aluguel de carros: 94 dessas operações somaram R$ 118.683,17, para deslocamentos dentro de cidades, regiões metropolitanas e comunidades quilombolas. Ora, trata-se de dinheiro público. Se faltou verba de gabinete, qual o motivo para não "resistir" e pressionar ao invés de utilizar cartões de crédito? No Brasil, precisamos superar a tutela e a futileza política (travestida de "resistência") sob pena dos brancos continuarem governando e considerando os não-brancos com compaixão. Como disse Nietzsche, a compaixão é um sentimento baixo, porque desconsidera o outro como igual.

Um comentário:

Sâmara Nick disse...

O que os assessores pretendiam quando sugeriam a "resistência"?
Lamentável tudo isso!