domingo, 30 de setembro de 2007

"Para sua secretária"


Visitei, hoje, as ruínas de Tenochtitlán, onde estão duas imensas pirâmides astecas (Sol e Lua) e um espaço imenso, onde coloquei à prova meu grande preparo físico. Os milhões de vendedores de objetos indígenas têm o humor do brasileiro. Ao oferecer algo diz, de saída: "para sua secretária ou amante". Na cara de pau. É impressionante como uma civilização tão avançada e ousada pôde ser destruída pelas armas. Aliás, como sempre. Andei por grande parte da Cidade do México, principalmente pelo entorno do Paseo de la Reforma. A cidade é fundamentalmente colorida, cores vivas por todos locais: pelo Museu de Antropologia (enorme), pelos parques (enormes), pelos prédios. Perguntei pelo PRD, o partido que seria a esquerda daqui: parece que além das múltiplas divisões internas, vem copiando a prática do PRI. Algo parecido com o Brasil

sábado, 29 de setembro de 2007

México e Frida Kahlo


Já estou na Cidade do México onde participo de um simpósio, organizado pelo professor Manuel Canto (Universidad Autónoma Metropolitana) sobre Perspectivas da Democracia na América Latina. A cidade é apinhada de gente e lembra muito as contradições arquitetônicas de Santiago do Chile e Lisboa: prédios imponentes e tradicionais ao lado de grande modernidade. O mesmo para as pessoas: muitos com cortes de cabelo e vestimentas conservadoras e tradicionais ao lado de gays de mãos dadas e cabelos pintados de todas as cores. É o que Néstor Canclini chamou de cultura híbrida da América Latina. A comida é deliciosa e muito melhor da comida mexicana vendida no Brasil. Comi uma sopa de tomates com um pedaço de abacate e tiras de tortilla de milho dentro da sopa. Em seguida, visitei uma exposição de pinturas de Frida Kahlo, a cara sofrida e orgulhosa do México. Nos próximos dias, relato neste espaço as discussões ocorridas no simpósio.

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

A Roda da Fortuna

Os romanos da Antiguidade acreditavam que Fortuna era uma deusa a ser seduzida pelos homens. Fortuna carregava uma roda que girava constantemente. Ao parar voltada para cima, a sorte sorria para o afortunado. Lula deve ter feito um pacto com Fortuna. A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) subiu 1,46% nesta quarta-feira e fechou pela primeira vez acima de 59 mil pontos, ajudada pela alta dos mercados internacionais. O dólar fez o caminho inverso e caiu a R$ 1,847, próximo de voltar ao menor patamar desde 2000. O fechamento da Bolsa brasileira foi aos 59.714 pontos. É o terceiro recorde seguido. Dias atrás, a crise imobiliária norte-americana gerou Cassandras para todos os lados. Do outro lado, mesmo sem muito consenso na base governista, Lula obteve uma vitória ao iniciar a discussão nesta quarta-feira para a votação das emendas e destaques à PEC (proposta de emenda à Constituição) que prorroga a cobrança da CPMF até 2011.

domingo, 23 de setembro de 2007

O Caso Mares Guia


O PT Governista é centralizador e pragmático e vem diminuindo aceleradamente o poder do partido na montagem de uma grande frente partidária, que Lula denominou de coalizão. Não por engano, esta palavra remete à experiência parlamentarista, defendida desde a primeira hora pelo Presidente da República. Aqui, as diferenças com o PT Não-Governista são brutais. Parlamentarismo é quase sinônimo, para este bloco petista, de golpe político. Parte deste bloco é formado pelo baixo clero parlamentar e por fortes dirigentes da máquina partidária regional do PT. Lutam, com toda energia, para ampliar seu espaço no interior do governo federal. Nem todos, que aprenderam na última década a cultuar o pragmatismo político, se iludem em poder influenciar as políticas e estratégias do governo federal. Mas se contentariam em poder utilizar a máquina governamental para legitimar seu poder frente à base partidária. Lula ficaria com o governo e este bloco com a máquina política. Obviamente que o núcleo duro do governo Lula não aceita nem mesmo negociar esta possibilidade. Há, entretanto, uma parcela deste bloco que por tradição (caso daqueles próximos das organizações pastorais ou de movimentos de base) não aceita facilmente métodos centralizadores de gestão política, sugerindo maior transparência e o retorno às consultas de base partidária como eram correntes na origem do PT. O fato é que se um Projeto de País está cada dia mais distante na elaboração do governo federal e dos partidos brasileiros, o Projeto de Poder vai se forjando nas sombras.
Daí que o caso Walfrido Mares Guia é menos pessoal e muito mais revelador de uma rinha de galos de briga que se insinuam diariamente nos escaninhos escuros do poder brasiliense.

terça-feira, 18 de setembro de 2007

Brasil gasta pouco com Educação, diz OCDE


O Brasil é o que menos gasta com educação dos 34 países analisados por um estudo da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) divulgado nesta terça-feira (18). O país apresenta o menor investimento por estudante (desde o ensino básico até a universidade), gastando em média cerca de R$ 2.488 por ano. Os 30 países da OCDE gastam, em média R$ 14.376, e no país que mais gasta em educação, Luxemburgo, este valor chega a R$ 25.705. No Chile, o único outro país sul-americano incluído no estudo, o gasto total é de R$ 5.470. Enquanto o Brasil gasta R$ 2.213 em estudantes da pré-escola (à frente apenas da Turquia, que gasta R$ 2.139) e R$ 1.973 em estudantes do ensino fundamental e ensino médio (o mais baixo), os gastos com estudantes universitários chegam a R$ 17.226 por estudante, ao ano.

Em Defesa do BNDES

Recebo de Mauricio Dias David, Ph.D em Ciências Econômicas pela Sorbonne, economista
(segundo ele, desaproveitado)do BNDES, vice-presidente do Centro de Estudos para o Desenvolvimento (do Corecon-RJ) e professor da pós-graduação da UFF e da Universidade de Paris um artigo muito interessante, de onde destaco os trechos a seguir:
"Há grande preocupação no quadro funcional do Sistema BNDES com relação às contratações recentes, realizadas fora do sistema regular de admissão de funcionários através do sistema de concurso público. Esta foi, aliás, uma das grandes conquistas da Constituição de 1988; para entrar no Serviço Público, concurso público. (...)A partir das análises weberianas, a constituição de um sólido corpo funcional e a consolidação de uma burocracia moderna passou a ser valorizada como um instrumento vital para a gestão eficiente do Estado. Weber exerceu influência universal e suas obras fundamentais são clássicos do pensamento político e social. Sua ascendência no Brasil foi (e é) imensa: Raymundo Faoro, Sérgio Buarque de Hollanda e Celso Furtado, entre os já desaparecidos, tiveram profunda influência weberiana. Fernando Henrique Cardoso, Hélio Jaguaribe, Fábio Konder Comparato, até o presidente Lula (weberiano avant la lettre, mesmo sem o ter lido) têm o seu pensamento marcado pelas concepções do analista de "Economia e Sociedade". Pode o sistema de concurso público apresentar mil e uma falhas. Eu mesmo, em uma rápida contagem, encontrei dois ou três problemas aparentemente insolúveis. (...) Com efeito, são hoje reconhecidos universalmente os méritos do sistema aberto, republicano, competitivo, de seleção dos integrantes da administração pública. Na Inglaterra, por exemplo, quando se muda um Ministro, ele pode mudar apenas dois ou três funcionários no seu gabinete. O mesmo se passa na Suécia, no Japão, na Alemanha, na França. Por que no BNDES teria de ser diferente? O corpo funcional do Banco não é considerado de excelência? Todo presidente, ao ser empossado, não entoa o mantra da "excelência do corpo funcional"? Trata-se de um lip service (coisa dita da boca para fora, um bater inconseqüente de língua...) como dizem os anglo-saxões? (...) É uma situação moralmente inaceitável que, em havendo pessoal qualificado e de altíssimo nível no BNDES, vá se trazer de fora gente de qualificação duvidosa (este tem sido o quadro das contratações o mais das vezes...), com salários que fariam corar o presidente da República, se o mesmo soubesse que "assessores" são contratados no BNDES fora da carreira, ganhando salários várias vezes superiores...ao seu próprio salário como presidente da República! Aliás, já tivemos um presidente do BNDES que foi demitido sumariamente pelo então presidente da República quando os jornais estamparam, nas primeiras páginas, uma cópia do seu contra-cheque... Um argumento final e definitivo: por que um técnico tem de estudar feito um louco para prestar concurso para o BNDES, ser aprovado em provas extremamente competitivas, ser cada vez mais qualificado para ingressar na instituição, entrar com um salário relativamente baixo (provocando inclusive evasões no quadro funcional), ir progredindo na carreira funcional ano a ano, acumulando experiência, sendo testado no cotidiano por décadas, e de repente ver-se atropelado por uma contratação dessas? Por alguém entrando "por fora" em postos que o funcionário qualificado do Banco costuma levar décadas para atingir?"

domingo, 16 de setembro de 2007

Mino concorda: eles são iguais


Do blog do Mino Carta:
Qual é o país de democracia autêntica e civilização avançada, onde o presidente do Senado, envolvido em falcatruas e mazelas, resiste impassível, agarrado à sua cadeira? Haveria ali outro Renan Calheiros? O nosso Renan é o símbolo vivo de uma terra medieval, o seu comportamento transcende a política, abarca, em todos os aspectos e em todas as direções, um modo de vida mafioso. Leitores de jornais e revistas, em boa parte filiados ao clube do privilégio, desprezam Renan e o apontam à execração geral e irrestrita da nação. Não percebem o quanto ele representativo da classe a que pertencem. Sem meias palavras, Renan é elite. Em condições normais, não hesitaria em participar de um desses eventos organizados por João Dória Jr., o iconoclasta-mor, para a diversão da fina flor do empresariado e até de alguns ministros, com direito a uma conferência de Fernando Henrique Cardoso, o nosso Clinton. Digo mesmo que Renan, enlevado, envergaria o uniforme de Indiana Jones para dançar à beira da piscina em Comandatuba. Vivemos uma quadra de escassa reflexão e baixo quociente de inteligência. A capacidade de raciocínio está em xeque, e neste pântano a questão moral afunda, à tona sobram apenas as bolhas do desastre. Algo é certo, a Máfia é mais competente e menos hipócrita.

sexta-feira, 14 de setembro de 2007

Eles se merecem

No dia 13 de março de 2003, quando o Senado derrotou emenda constitucional do senador Tião Viana acabando com o voto secreto para cassações, muita gente boa que discursa hoje para abrir o voto ficou contra. Arthur Virgílio, por exemplo, que hoje fez veemente defesa do voto aberto no início do julgamento, dizia na ocasião: "O voto secreto é um instrumento que deixa o parlamentar a sós com sua consciência em uma hora que é sublime, em que o voto é livre de quaisquer pressões, que podem ser familiares, do poder econômico, de expressão militar ou de setores do Executivo. Voto pela manutenção do voto secreto".
E assim também fizeram, na ocasião, seus colegas Cesar Borges (DEM), Tasso Jereissati (PSDB), Eduardo Azeredo (PSDB), Heráclito Fortes (DEM), Garibaldi Alves (PMDB), Gerson Camata (PMDB), Agripino Maia (DEM), Edison Lobão (DEM),Marco Maciel (DEM), José Sarney (PMDB), Mão Santa (PMDB) e Leomar Quintanilha (PMDB), entre outros.

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Faltam Quatro


Os senadores Aloízio Mercadante (PT-SP) e João Claudino (PTB-PI) afirmaram foram duas das seis abstenções que ocorreram (e salvaram Renan Calheiros) ontem, no Senado. Quais seriam os outros quatro? Vários apostam que um deles seria o tucano Álvaro Dias. Líderes do DEM admitem "traições" em seu partido. Enfim, as chantagens de Renan (ameaçando revelar dívidas de senadores, casos extra-conjungais e outros quetais), o rolo compressor dos petistas governistas (cantando as eleições de 2008) e a necessidade do Planalto (em ter Renan frágil, dócil para pagar a fatura, a começar pela CPMF) venceram.

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Conferência Internacional de Educação Democrática


Participei, hoje, de uma mesa na Conferência IDEC, que pela primeira vez ocorre no Brasil (na cidade paulista de Mogi das Cruzes, onde ocorre também o Fórum Mundial da Educação). A fala de Yaacov Hecth, do Institute for Democratic Education de Israel foi impressionante. Yaacov dirige a Hadera Democratic School, que possui 400 alunos. Os alunos decidem o que e como estudar. A escola possui parlamento, governo eleito, comitê judicial, organizações sociais. Já recebeu o Prêmio de Escola do Ano de Israel. A partir do seu sucesso, hoje já existem 26 escolas desta natureza em Israel, embora envolvam apenas 0,5% dos estudantes do país. Neste momento, um Institute for Democratic Education (IDE) trabalha uma rede que inclui 4 das 10 maiores cidades de Israel. Para maiores informações, contatem o próprio Yaacov (em inglês): yahecht@netvision.net.il .

sexta-feira, 7 de setembro de 2007

Um dos grandes dilemas da esquerda


Estou lendo o livro organizado por Perry Anderson cujo título é "Um Mapa da Esquerda na Europa Ocidental". No capítulo em que analisa a esquerda italiana, logo no início, avalia que este país é o que apresenta o paradoxo mais inusitado: movimentos sociais radicais e governos conservadores de longa duração. Esta parece ser uma síntese do dilema das esquerdas: não conseguem traduzir a radicalidade da mobilização social do início do século XXI no plano institucional. Lutas sociais e partidos políticos parecem divorciados.

Pavarotti


Socializo mensagem enviada pelo professor José de Souza Martins:
Em memória de Pavarotti, que faleceu na manhã de hoje, passo-lhes essas lembranças e repasso-lhes a bela "Nessun dorma", da ópera Turandot, de Giacomo Puccini, com Luciano Pavarotti e amigos (clique no endereço):
http://br.youtube.com/watch?v=N4GhZ90BtxQ&mode=related&search

terça-feira, 4 de setembro de 2007

João Cabral: catando feijão


Catar feijão se limita com escrever:
jogam-se os grãos na água do alguidar
e as palavras na da folha de papel;
e depois, joga-se fora o que boiar.
Certo, toda palavra boiará no papel,
água congelada, por chumbo seu verbo:
pois para catar esse feijão, soprar nele,
e jogar fora o leve e oco, palha e eco.

Ora, nesse catar feijão entra um risco:
o de que entre os grãos pesados entre
um grão qualquer, pedra ou indigesto,
um grão imastigável, de quebrar dente.
Certo não, quando ao catar palavras:
a pedra dá à frase seu grão mais vivo:
obstrui a leitura fluviante, flutual,
açula a atenção, isca-a com risco.

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Uma paulada em Zé Dirceu


Foot Hardman, da Unicamp, escreve o artigo abaixo. Uma paulada em Zé Dirceu:

O comissário da falsa dialética
Francisco Foot Hardman* - O Estado de S.Paulo
- O PT, além de novo partido da ordem, tornou-se, em sua retórica de autovitimização, o partido dos desagravos. Na penúltima sexta-feira, além da notícia do rodízio de pizza na noite anterior, confraternização de João Paulo Cunha e camaradas, para firmar protesto contra seu indiciamento pelo STF, realizada em churrascaria paulistana à la argentina (pizza na parrilha parece ser agora o ponto alto de elaboração da nova dialética petista), anunciava-se o intuito do ex-Campo Majoritário, agora rebatizado de Construindo um Novo Brasil (sempre com os velhos métodos e práticas, só para seguir na via dialética), abrir o 3º Congresso da sigla com ato de desagravo, entre outros, a José Dirceu e José Genoino.
É Renan, mártir das vacas murchas, quem imita Dirceu, comissário dos falsos martírios, ou é Dirceu quem imita Renan? Tudo se embaralha. De um lado o aparelho petista semi-estatizado, que já viveu a euforia da alavancagem propiciada pela rede de acumulação primitiva dos chamados núcleos financeiro e publicitário do esquema quadrilheiro, agora se arrasta na inércia de homens-dispositivos afeitos ao discurso defensivo, prenhe de melodramas da Grande Família, mais para agentes otários, truculentos, camundongos de aparelho, que para Valérios e Dudas Mendonças, estes dois, sim, fartos de tudo "que já tiveram que pagar", e das dívidas não contabilizadas, fartos dessa política reduzida a propaganda e mala preta, fartos como seus bolsos. De outro lado, mas na mesma clave política, sobressai o Senado atolado na fantochada sem fim, não só pelas estripulias autocráticas de seu presidente, mas pela conivência intrapares com a mentira, da mais silenciosa à mais histriônica, as manobras rasas do regimento e do não-regimento, o bacharelismo de rábulas da mais velha tradição do Estado patrimonialista, a pura arrogância autista e cínica ante o clamor da opinião pública.
Queixam-se agora mensaleiros de ditadura da mídia. Tentam desqualificar o STF por suspeição no julgamento dos 40 mensaleiros. Nem passava por sua imaginação discursiva questionar a política de comunicação, oligopólica e permeável a negociatas, mas tremendamente eficaz para manter as alianças no Poder Legislativo e entre o Planalto e as oligarquias regionais. Idem, o então presidente da Câmara, João Paulo Cunha, que se valia até de contratos publicitários "experimentais", digamos, em sua ânsia por rápida ascensão no aparelho partidário, de olho numa vaga para candidato ao governo estadual paulista.
Dirceu serviu-se a rodo da mídia sôfrega por narrativas tipo "esta é sua vida" para edificar biografia pontilhada de hiatos e fatos falhos, na pose de grande herói na luta contra a ditadura, ele que sempre sobreviveu, com relativa e crescente comodidade, à sombra de aparelhos, do guerrilheiro ao castrista, do petista ao federal. Setores da esquerda ainda parecem permeáveis a esses rompantes narcisistas de arrabalde. Apaguem os refletores, por segundos, e troquem os personagens. A opereta malandra de Roberto Jefferson, cobra de puro veneno que Dirceu e Lula certo dia creram amansada, também parece se espelhar nesses arroubos de vitimismo, nessa verve de vitupérios assacados contra "forças ocultas", o fantasma de Jânio assombrando o fantasma de Getúlio, porquanto talvez o sonho de consumo do novo PT seja mesmo o PTB. Sem exagero: esse fiapo arruinado da antiga sigla varguista é fiel partido da base governista, antes e pós-mensalão, presidido por Jefferson e contando, entre estrelas adventícias, com o farol da modernidade e ex-caçador de marajás Fernando Collor.
Mas no espaço mágico e descontaminado do 3º Congresso, suarão os derradeiros intelectuais do partido na definição do sempre renascido "socialismo petista" (sic). Poderão recorrer ao "socialismo" do general Abreu e Lima, pernambucano, combatente das forças de Simón Bolívar, que escreveu livro homônimo ainda em 1845 e hoje é uma das referências mais adoradas de Hugo Chávez. Ou então ao "socialismo moreno" do saudoso Brizola. Ou mesmo à constelação de "socialismos e socialistas" já elencada, com fina ironia, por Marx e Engels em seu genial Manifesto Comunista, de 1848. Raras vezes a lógica implacável do auto-engano, com sua ideologia materializada em palavras, gestos e símbolos, terá tido tanta ritualização, no Brasil. Talvez Dirceu e Genoino, entre outros, poderiam propor ato de desagravo ao "socialismo petista", tão enigmático quanto incompreendido neste novo século. Talvez seja isso: trata-se do "socialismo" dos inocentes, sejam os inocentes úteis, sejam os inúteis.
Todos acima de tudo inocentes, como costuma nos advertir, qual missa diária, o presidente Lula, nosso Bonaparte tropical. É bom, sim, que insista. Às vezes as coisas ficam algo confusas, para não dizer desgraçadas, e como lembrou ele próprio em entrevista ao Estado de domingo passado, "qualquer presidente constrói uma base heterogênea por causa da realidade política brasileira". Tem-se, pois, que admitir isso como um dado da natureza. E que nenhuma ação política decidida e séria tenha sido articulada, desde 2003, pelo PT e pelo governo, para mudar drasticamente tal estado de coisas, podemos debitar essa grave lacuna à conspiração da realidade.
Por isso, o bordão: Jader, Maluf, Renan, Jefferson, Zé Dirceu, Gushiken, Palocci, João Cunha e demais vítimas da santa aliança midiático-elitista-natural da "realidade deste país" - alegrai-vos! Associai-vos em desagravos e júbilos e pizzas na parrilha. Juntai-vos em ONG das vítimas cansadas do Ministério Público e da Opinião Pública. Porque afinal garante-nos nosso Guia: todos serão inocentes até que nunca se prove o contrário.

Lei de Responsabilidade Social


No próximo dia 13 de setembro, no Plenário 3, Anexo II, da Câmara Federal, ocorrerá a primeira audiência pública para discutir o projeto de Lei de Responsabilidade Social elaborada pelo Fórum Brasil do Orçamento. O projeto já tramita na Comissão Legislativa de Participação (CLP) da Câmara Federal. A deputada Luiza Erundina é a relatora. A lei propõe a abertura de impeachment para autoridades públicas que não cumprirem metas sociais detalhadas em todo ciclo orçamentário (federal, estadual e municipal).

sábado, 1 de setembro de 2007

Congresso do PT


Acabo de redigir um artigo sobre o 3o Congresso Nacional do PT, que está acontecendo neste momento. O título é "Um Kruschev para o PT". A Carta de Princípios do PT, escrita em maio de 79, e seu Manifesto, de 1980, destacavam o seguinte ideário:
a) partido vinculado à organização popular, que se traduz na organização no local de trabalho e moradia;
b) as atividades eleitorais e parlamentares se subordinam à organização das massas exploradas;
c) recusa-se a aceitar representações patronais no seu interior (partido sem patrões);
d) os trabalhadores devem se organizar como força política autônoma;
e) o PT não se deseja um partido para os trabalhadores, mas dos trabalhadores;
f) deseja se inserir no cotidiano dos trabalhadores e de suas lutas sociais;
g) os programas partidários serão construídos por sua base, pelos núcleos de militantes.
Alguma coisa mudou, não?

STF X STF


O ministro do STF, Eros Grau, afirmou que vai processar Ricardo Lewandowski, seu colega no Supremo. A acusação: calúnia. Lewandowski foi flagrado trocando e-mails com outra ministra do STF onde afirmava que Eros Grau rejeitaria as denúncias contra os 40 recém-julgados pelo mensalão em troca da indicação de Carlos Alberto Direito para a vaga de Sepúlveda Pertence. Nada como o controle social para que os brasileiros se pareçam uns com os outros.

Audiências Públicas do PPA

A Comissão Mista do Orçamento (Câmara Federal e Senado) possui três relatorias (para PPA, LDO e Lei Orçamentário Federal de 2008). A relatoria do PPA (diretrizes orçamentárias para os próximos 4 anos) decidiu realizar 10 audiências públicas que terminam em Brasília, no dia 9 de outubro deste ano. As dez audiências (denominadas oficialmente de seminários) serão realizadas em :
20 de setembro: Manaus
21 de setembro: Belém
24 de setembro: Cuiabá
27 de setembro: Rio de Janeiro
28 de setembro: São Paulo
1 de outubro: Fortaleza
4 de outubro: Salvador
5 de outubro: João Pessoa
8 de outubro: Florianópolis
9 de outubro: Brasília
Está em discussão a realização de mais um seminário em Belo Horizonte. Os seminários colherão sugestões da sociedade civil para o relatório parcial da relatoria do PPA (que será discutido e voltado na plenária da relatoria e, depois, da CMO, sendo finalmente encaminhado para plenária do Congresso).