Recebo de Mauricio Dias David, Ph.D em Ciências Econômicas pela Sorbonne, economista
(segundo ele, desaproveitado)do BNDES, vice-presidente do Centro de Estudos para o Desenvolvimento (do Corecon-RJ) e professor da pós-graduação da UFF e da Universidade de Paris um artigo muito interessante, de onde destaco os trechos a seguir:
"Há grande preocupação no quadro funcional do Sistema BNDES com relação às contratações recentes, realizadas fora do sistema regular de admissão de funcionários através do sistema de concurso público. Esta foi, aliás, uma das grandes conquistas da Constituição de 1988; para entrar no Serviço Público, concurso público. (...)A partir das análises weberianas, a constituição de um sólido corpo funcional e a consolidação de uma burocracia moderna passou a ser valorizada como um instrumento vital para a gestão eficiente do Estado. Weber exerceu influência universal e suas obras fundamentais são clássicos do pensamento político e social. Sua ascendência no Brasil foi (e é) imensa: Raymundo Faoro, Sérgio Buarque de Hollanda e Celso Furtado, entre os já desaparecidos, tiveram profunda influência weberiana. Fernando Henrique Cardoso, Hélio Jaguaribe, Fábio Konder Comparato, até o presidente Lula (weberiano avant la lettre, mesmo sem o ter lido) têm o seu pensamento marcado pelas concepções do analista de "Economia e Sociedade". Pode o sistema de concurso público apresentar mil e uma falhas. Eu mesmo, em uma rápida contagem, encontrei dois ou três problemas aparentemente insolúveis. (...) Com efeito, são hoje reconhecidos universalmente os méritos do sistema aberto, republicano, competitivo, de seleção dos integrantes da administração pública. Na Inglaterra, por exemplo, quando se muda um Ministro, ele pode mudar apenas dois ou três funcionários no seu gabinete. O mesmo se passa na Suécia, no Japão, na Alemanha, na França. Por que no BNDES teria de ser diferente? O corpo funcional do Banco não é considerado de excelência? Todo presidente, ao ser empossado, não entoa o mantra da "excelência do corpo funcional"? Trata-se de um lip service (coisa dita da boca para fora, um bater inconseqüente de língua...) como dizem os anglo-saxões? (...) É uma situação moralmente inaceitável que, em havendo pessoal qualificado e de altíssimo nível no BNDES, vá se trazer de fora gente de qualificação duvidosa (este tem sido o quadro das contratações o mais das vezes...), com salários que fariam corar o presidente da República, se o mesmo soubesse que "assessores" são contratados no BNDES fora da carreira, ganhando salários várias vezes superiores...ao seu próprio salário como presidente da República! Aliás, já tivemos um presidente do BNDES que foi demitido sumariamente pelo então presidente da República quando os jornais estamparam, nas primeiras páginas, uma cópia do seu contra-cheque... Um argumento final e definitivo: por que um técnico tem de estudar feito um louco para prestar concurso para o BNDES, ser aprovado em provas extremamente competitivas, ser cada vez mais qualificado para ingressar na instituição, entrar com um salário relativamente baixo (provocando inclusive evasões no quadro funcional), ir progredindo na carreira funcional ano a ano, acumulando experiência, sendo testado no cotidiano por décadas, e de repente ver-se atropelado por uma contratação dessas? Por alguém entrando "por fora" em postos que o funcionário qualificado do Banco costuma levar décadas para atingir?"
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