domingo, 29 de agosto de 2010

Artigo de Carlos Lindenberg sobre ausência do PT nas eleições mineiras


E o PT, o gato comeu?
Carlos Lindenberg

Haja estômago para digerir tantos números. É a velha guerra das pesquisas que está de volta, dando as caras a cada eleição. Com um detalhe: pesquisa boa mesmo, aquela confiável, que o candidato manda fazer sem registro no TRE, essa ele não divulga, não faz parte da guerra, serve unicamente para informação própria. Não se quer dizer, com isso, que as outras não sejam confiáveis, mas a divulgação delas, por vezes, sim. É o caso de pesquisa em que os candidatos mudam de nível de intenção de votos sem que se consiga enxergar de onde houve a migração. Um sobe, o outro não, e não se vê de onde vieram os números. Essas não são confiáveis, embora façam parte do universo eleitoral. De forma que, dia sim, dia também, há sempre uma pesquisa na praça. Bom para os institutos, bom para os que gostam de fazer apostas na esquina dos aflitos, bom também para a mídia, que sempre tem uma cesta de números à sua disposição, embora nem sempre seja, de fato, bom para o eleitor que, em casos assim, é tratado como massa de manobra. A Justiça faz que não vê e talvez seja melhor. Uma época, um atento juiz eleitoral de Montes Claros desconfiou que estava havendo manipulação de números e proibiu a divulgação das pesquisas antes que delas ele tivesse conhecimento. A intenção era das melhores, mas a repercussão foi ruim, como sempre. Mas tudo isso para dizer que estamos em plena safra das pesquisas. Em todas elas, de certa forma, embora não seja apropriado comparar uma com a outra, há uma tendência de paralisação do candidato Hélio Costa - que, no entanto, se mantém na liderança - e uma firme ascensão do seu adversário Antonio Anastasia. São dados "indesmentíveis", ainda que um número ou outro possam parecer estranho em algumas situações. Mas isso significa que a coligação que mantém a candidatura de Hélio Costa deve redobrar o trabalho e a vigilância. É de se estranhar, por exemplo, que em determinada pesquisa todos os indecisos que mudaram de condição o fizeram numa mesma direção, o que parece pouco provável. Mas isso é o de menos.
Se, para o governador Antonio Anastasia, o que conta é manter a trajetória de sua campanha, no caso de Hélio Costa é ora de repensar a estratégia, ainda que com muita cautela. Uma dessas mudanças, se é que isso pode ser considerado como mudança, é chamar o PT à responsabilidade. Até aqui, Hélio Costa vem se mantendo na liderança por conta de seu próprio capital. Pode-se até dizer que o PT ou parte do PT ajudou-o a não cair. Pode ser. Mas, mesmo antes da aliança com o PT, Hélio Costa sempre esteve acima dos 40 pontos percentuais. Isso significa que o capital do PT ainda não entrou no caixa da coligação. O partido de Lula está devendo.
Ora, pelo que se sabe, o pior desempenho da coligação PMDB-PT tem sido em Belo Horizonte e na Região Metropolitana da capital, exatamente onde o PT tinha grande manancial de votos - tinha a prefeitura da capital, tem o segundo maior colégio eleitoral, que é Contagem, e ainda tem Betim, para ficar apenas nesses três grandes municípios. E é sabido que, das duas maiores lideranças do PT no Estado (o vice de Hélio Costa, Patrus Ananias, e o candidato ao Senado, Fernando Pimentel), é Pimentel quem tem o domínio do PT em BH. Contudo, é exatamente nessa área que o PT está ausente. De forma que o assunto, pela sua relevância, deverá ser levado à presidenciável Dilma Rousseff e ao presidente Lula na próxima semana. No fundo, o que se quer é que o PT faça a sua parte e que o presidente Lula dê a sua contribuição para alimentar a aliança que ele mesmo incentivou em Minas. Para bom entendedor, meia palavra basta.

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