De um lado para outro. Até a última pesquisa Datafolha, a grande imprensa parecia preparada para a guerra. Depois da pesquisa, caiu numa linha depressiva. Não consigo entender esta falta de profissionalismo. Nem um, nem outro. A campanha na TV começa agora. Sei que a tendência é pró-Dilma e todos indicadores sugerem a possibilidade de vitória no primeiro turno (arrecadação de campanha, Serra em queda em quase todas regiões, aumenta da identidade do eleitorado feminino com Dilma, crises e embates no interior da campanha serrista, ascensão consistente da intenção de votos em Dilma etc). Mas política se faz com seres humanos.
Vejam a nota publicada no Radar Político (Estadão) de ontem:
Tucanos não sabem como ‘desconstruir’ adversária
Luciana Nunes Leal, Blog Radar Político
Com poucas esperanças de chegarem ao início da propaganda na TV empatados com Dilma Rousseff, os tucanos ainda procuram a fórmula do que consideram essencial para alavancar a candidatura de José Serra: desqualificar a petista e mostrar que ela “não se sustenta” sem o presidente Lula. Para os aliados, Serra, apesar da vantagem de Dilma nas pesquisas, não deve mudar o estilo nem o discurso. Também não veem motivos para grandes alterações no roteiro de viagens, coordenado pela senadora Marisa Serrano. A saída, afirmam, é traçar um cenário negativo de um possível governo da ex-ministra. Em outra frente, procuram um meio de enfrentar a “acomodação” dos simpatizantes. A percepção é que os eleitores de Serra não estão mobilizados para conquistar novos votos e não embarcaram no discurso anti-Dilma.
2 comentários:
Não é a de se estranhar que a revista Época venha amedrontar os leitores como o fez nesse fim de semana, explorando a veia conservadora e moralista da classe média. Mas erra o alvo, pois a classe C e D é que farão a diferença, que somados àqueles da classe média que não se enganam com os embustes, elegeram - ô a torcida aí! - Dilma.
Boa a dobradinho com o professor Malco na Band, pena que o apresentador, que é meio confuso, não ter explorado mais a percepção dos convidados.
segunda-feira, 16 de agosto de 2010 | 06:58
CNBB quer promover debate dos candidatos sobre aborto
Pedro do Coutto
Leio, na Folha de São Paulo, reportagem de Fábio Zambeli revelando que a CNBB está propondo aos candidatos Dilma Rousseff, José Serra, Marina Silva e Plínio de Arruda Sampaio, um debate sobre o aborto a 23 de setembro, outro a respeito da reforma agrária, alguns dias depois. Ambos serão transmitidos por rede de emissoras católicas. Importante a iniciativa. Não se trata somente de lançar uma ponte entre a religião e o poder, acentuando estar tudo bem entre Cristo e Cesar. Mas focalizar, sob todos os ângulos, e não só o prisma da Igreja de Roma, uma questão importantíssima que atravessa o tempo sem solução. Marina e Plínio já confirmaram. Roussef e Serra ainda vão responder. Devem aceitar, principalmente porque, sem os dois, o debate cai no vazio. Certamente não vão desejar isso.
Quando acentuou a importância enorme do tema me baseio na informação divulgada na imprensa de que anualmente no Brasil são praticados cerca de 1 milhão e 500 mil abortos, 20% dos quais acarretam internações hospitalares pela forma rudimentar com que são praticados. Como a média das internações é de dois dias, constatamos que 600 mil leitos são ocupados, o que poderia não ocorrer se houvesse no pais um programa sério e efetivo de planejamento familiar. A questão começou a ser discutida entre nós, de forma substantiva, em 1965, pela antiga Bemfam entidade particular, vinculada ao Instituto da ONU para população e progresso, o IPP. Francamente não sei se a BemFam ainda existe. A idéia, sim. Mas de forma retórica. Não concreta. O ministério da Saúde está se omitindo. Não assume uma postura transparente. Deveria assumir.
O aborto é questão legitima de saúde pública. Sua prática, não. Ainda constitui quase um crime. Digo quase porque, de fato, o aborto, não a lei, mas nos costumes, deixou de ser um assunto criminal. Entretanto, é preciso evitá-lo. E a forma para isso é planejar a família e aceitar o uso de métodos anticonceptivos eficazes, de acordo com a consciência de cada um.
O debate colocado pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil parte de uma idéia do Bispo Daniel Seidel, coordenador da Comissão de Justiça e Paz. Ele frisa que a Igreja Católica não deseja impor sua vontade a ninguém. Quer, apenas, conhecer a posição da candidata e dos candidatos a respeito da matéria que tem controvérsias. Uma corrente defende os direitos do corpo e transfere o problema à decisão da mulher. Outra analisa dependendo do caso, uma terceira, a religiosa, radicaliza à base do conceito do direito à vida. Porém existem situações em que o direito à vida do feto abala o direito à vida da mãe. Caso da anencefalia, por exemplo, entre outros de elenco médico.
Não se deve politizar e radicalizar o debate, embora tenha ele inevitavelmente reflexos políticos. Mas me refiro a seu conteúdo básico. O problema é mais de saúde e de liberdade do que religioso. Inclusive, através do tempo, o Vaticano alterou uma série de posições radicais. A condenação a Galileu, uma delas. A perseguição inquisitória que se estendeu por 300 anos, outra. A condenação a Maria Madalena nas trevas do passado um terceira. Quarta, para ficarmos só em poucos exemplos, a reabilitação da mesma Madalena, execrada no século 5, aprovada em 1948, pleno século 20, quando foram descobertos manuscritos do Mar Morto contando passagens da história dos judeus essênios. Por tudo isso, basta que o debate se realize entre os quatro candidatos para que um avanço seja alcançado. Graças a Deus.
Postar um comentário