sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Sugestões de Cesar Maia para Serra

Do ex-blog de Cesar Maia:

COMO OBAMA VIROU O JOGO 60 DIAS ANTES DA ELEIÇÃO!

Trecho de longo texto do psicólogo social assessor de campanha presidencial, Drew Westen em setembro de 2008 quando McCain mantinha sua vantagem de uns 5 pontos.

1. Fortalecer a mensagem de mudança com dois ou três assuntos de impacto. Obama fez um bom começo ao fortalecer a mensagem de "mudança" em Denver. Eu acredito bastante na eficácia de campanhas políticas emocionalmente evocativas onde as mensagens são embasadas em valores e as grandes questões do momento estão apresentadas dentro de mensagens fortemente emocionais ao invés de estarem escondidas nas entrelinhas de declarações partidárias.

2. Dados de pesquisas mostram claramente: candidatos que pensam que campanhas devem ser "debates sobre as grandes questões" perdem (Dukakis, Gore e Kerry fizeram esta abordagem). Obama fez o mesmo durante alguns meses, mas, em seguida, inverteu o rumo fazendo uso da sua extraordinária capacidade de inspirar. A mudança foi no jantar Jefferson-Jackson no estado de Iowa (em novembro de 2007), quando seu discurso colocou-o de volta no caminho para a nomeação. Ele e sua equipe tomaram a decisão correta de fortalecer uma mensagem simples, em vez de aborrecer os eleitores com uma grande lista de reivindicações com 12 pontos (como fez a Hillary).

3. Até agora Obama não fez o que todo candidato vitorioso desde Ronald Reagan fez: apresentar dois ou três "temas principais" onde informa ao público americano onde está o seu coração, lealdade e valores. A mensagem dos “temas principais” deve ilustrar para os eleitores os caminhos para onde o candidato pretende levar o país. Um dos temas principais de Bill Clinton era “Acabando com a assistência social que conhecemos”. Outro era um argumento forte sobre a economia, abordando as preocupações da população com a recessão, herança de Bush pai (este foi um golpe de mestre porque a economia sempre foi um dos “temas principais” do direito).

4. No entanto, Obama ainda não abraçou nenhum assunto, tornando-o "propriedade" dele. Deveria ter sido parte da narrativa mestre de sua campanha desde o início. Ele poderia facilmente ter entrelaçado sua própria história, de um jovem que cresceu sem pai com a mensagem tradicionalmente conservadora (mas quintessencialmente humana) de valores familiares. Obama poderia apresentar um plano para trazer os homens dos centros urbanos de volta as suas casas, escolas e postos de trabalho onde estarão longe de uma vida de crime. Um tema principal desses também iria proteger o candidato contra ataques raciais furtivos.

5. Com a economia, saúde, energia e segurança nacional todos em perigo, Obama pode tomar dois ou três desses assuntos e torná-los "seus". Se tivesse feito isso energicamente, é possível que os Democratas tivessem mantido os 30 pontos de vantagem que tinham seis meses atrás neste assunto. Lamentável, hoje os eleitores estão quase divididos meio a meio sobre a questão da energia. É um empate amargo que acontece no meio da uma gritaria vil de McCain (eis um dos “temas principais” dos republicanos): "Perfura aqui! “Perfura agora!".

6. Um novo tema principal da campanha poderia oferecer uma chance de investir em nossas crianças e no futuro da nossa nação com mudanças na legislação tributaria sobre deduções para educação. Assim, todos os dólares poupados para a escola dos filhos, da creche e a faculdade, poderiam ser dedutíveis. Esses planos darão dezenas de milhões de eleitores milhares de razões (em dólares economizados) para votar a favor de boas políticas públicas.

7. Se Obama queria romper com seu partido, ganhar os votos de republicanos moderados e independentes, e tentar algo novo que possa melhorar todas as nossas escolas, ele poderia permitir deduções em impostos federais, mas não estaduais ou municipais, para pais da classe média que mandam seus filhos para as escolas (particulares) de sua escolha, incluindo escolas paroquiais (católicas).

2 comentários:

Valéria Borborema disse...

Rudá, há que se levar em conta que a situação no Brasil é distinta da dos Estados Unidos. Lá, o então presidente Bush chegava ao final do 2º mandato melancolicamente. Havia muitos descontentes, inclusive entre os republicanos mais aguerridos. Tanto que McCain, ao que consta, relutou em aparecer ao lado de Bush, de quem, evidentemente, tinha o apoio. Obama venceu McCain, mas seu desempenho deve-se sobretudo à antipatia que seu antecessor criou. Isso tudo sem esquecer a grave crise econômica que estourou a partir dos desmandos no setor imobiliário norte-americano. Não acho que um contexto assim se equipare ao que o Brasil vive hoje.

Rudá Ricci disse...

Bem observado, Valéria. Mas a nota indica a preocupação reinante entre serristas. Há uma sensação generalizada que ele pode perder no primeiro turno e que o principal responsável seria o próprio candidato, pelo centralismo doentio com que conduz a campanha. De alguma maneira, estas sugestões de Cesar Maia se alinham, politicamente, com o tiroteio provocado por Roberto Jefferson. Ambos estão tirando o corpo fora. Maia com mais elegância, mas por qual motivo deu um conselho via artigo distribuído publicamente?