sábado, 7 de agosto de 2010

A queda da classe média nos EUA


Alertado sobre uma possível reação conservadora das classes médias tradicionais em função da perda de seu poder aquisitivo (em função da redistribuição de renda entre assalariados em nosso país), fiquei mais atento a respeito das reações deste segmento social em outros países. Um artigo de Edward Luce, no Financial Times (4/08), retrata a queda livre das classes médias tradicionais nos EUA, denominada por lá de "estagnação do salário mediano". Segundo Luce:
(...) a renda anual dos 90% de famílias menos bem de vida nos EUA permaneceu essencialmente inalterada desde 1973 - tendo crescido apenas 10% em termos reais nos últimos 37 anos. Isso significa que a maioria das famílias americanas está no sufoco há mais de uma geração. No mesmo período, a renda do 1% de famílias mais ricas triplicou. Em 1973, executivos-chefes de grandes companhias recebiam, em média, remuneração igual a 26 vezes a renda mediana. Hoje, é mais de 300 vezes superior. (...) A maioria dos economistas vê a grande estagnação como um problema estrutural - ou seja, imune ao ciclo econômico. Na última expansão, que começou em janeiro de 2002 e terminou em dezembro de 2007, a renda familiar mediana americana ficou US$ 2 mil menor - a primeira vez em que a maioria dos americanos esteve pior no fim de um ciclo do que no início. O mais grave é que a longa era de renda estagnada tem sido acompanhada por algo profundamente antiamericano - um declínio na mobilidade da renda. (...) "Quem matou o sonho americano?", dizem os cartazes em passeatas de esquerda. "Resgatemos a América", gritam os manifestantes de direita do movimento Tea Party. (...) A maioria [dos economistas] concorda sobre o diagnóstico, mas diverge sobre as causas. Muitos na esquerda atribuem a culpa à Grande Estagnação da globalização. A ascensão de China, Índia, Brasil e outros países solapou os salários no Ocidente e eliminou postos de trabalho de americanos sem qualificação, semiqualificados e até mesmo qualificados. A indústria agora representa somente 12% dos postos de trabalho nos EUA. (...) Há também aqueles, como Paul Krugman, colunista do "The New York Times" e ganhador do Prêmio Nobel de Economia, que atribuem a culpa ao mundo político, especialmente à reação conservadora iniciada quando Ronald Reagan chegou ao poder, em 1980, o que acelerou o declínio dos sindicatos e reverteu os traços mais progressistas do sistema fiscal americano. (...) Desde 1990, quase dobrou a proporção de americanos que estão pagando mais de US$ 20 mil em empréstimos educacionais uma década após terem se formado. Lawrence Summers, principal assessor econômico de Obama, que há muito tempo preocupa-se com o crescimento do que ele denomina "nervosa classe média" americana, salienta que, entre as principais economias, os EUA têm o maior percentual de diplomados no mercado de trabalho. Mas, na faixa etária de 25 a 34 anos, os EUA não estão nem nos "dez mais". Mais e mais americanos jovens são dissuadidos pela perspectiva de assumir uma dívida de longo prazo.

Um comentário:

kopriveguiu disse...

Apesar de achar complicado acreditar numa possibilidade causal tradicional, para esse cenário, não deixa de ser instigante - e até meio assustador - ver 'no que tudo isso vai dar'. Saberão os EUA contornar essa vaga de crise? (pergunta meio adolescente, tudo bem...)