sexta-feira, 29 de outubro de 2010
Mesa sobre movimentos sociais na ANPOCS
Participei, ontem, de uma mesa coordenada pela professora Maria da Glória Gohn na ANPOCS (que ocorreu em Caxambu, sul de Minas Gerais... daí eu não conseguir postar nenhuma nota neste blog). Foi uma das mesas mais concorridas (me disseram que foi a que teve mais público na manhã de ontem), para meu deleite. A discussão foi excelente. Maria da Glória fez um balanço (Estado da Arte, para os íntimos) da literatura atual mundial sobre o conceito de movimentos sociais. Já Carlos Gadeia, da Unisinos/RS, fez provocações teóricas muito instigantes. Fiquei realmente bem impressionado com suas formulações. Vou resumir algumas delas:
1) Gadeia sugere trocarmos a ênfase na análise do ator pela análise da relação de conflito que os movimentos sociais se envolvem;
2) Esta sugestão tem relação com sua conceituação de movimento social na atualidade: sugere substituirmos o conceito de movimento social por experiência coletiva de conflito. Não é uma mera questão semântica. Gadeia sugere que os atores sociais se formam NO e A PARTIR do conflito. O conflito, sustenta, supõe ou é induzido pela necessidade de união, não pela oposição. Gadeia retoma, em parte, as teses de Touraine e Melucci, inclui algo a respeito das teorias de rede (structural holes), mas vai além. O que ele provoca é a noção que os atores que se envolvem no terreno do conflito desejam a inclusão, a aceitação (daí sugerir que se movem intuitivamente pela unidade e não pela oposição). Esta provocação analítica é das mais interessantes porque auxiliam na compreensão do momento atual de profunda institucionalização do que antes eram movimentos sociais brasileiros (grande parte são, hoje, organizações e não mais movimentos sociais);
3) Gadeia também propõe entendermos a geração dos anos 90 (não só de cientistas sociais, mas também lideranças sociais) como marcadas por um certo desencanto com os rumos da redemocratização;
4)Finalmente, mais uma provocação. Para Gadeia, as ongs emergem como controle dos conflitos e não mais como fomento ao conflito.
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